19 – Novamente, a PONTUAÇÃO

Há um Amigo, nosso correspondente, que me pede ajuda quanto à PONTUAÇÃO.

Já temos aqui tratado deste tema! Mas no “ensino à distância”, talvez este tema tão simples possa parecer complicado...

O tema da Pontuação já foi abordado nesta secção (Gramática e Ortografia) nos capítulos 16; 16.1, 16.2, 16.3...

Mas hoje, vamos voltar a este assunto de um modo diferente!

1:

Já vimos que os estudos de LITERATURA tratam da compreensão da Linguagem. Melhor dizendo: os estudos de Literatura tratam, sobretudo, da compreensão da LINGUAGEM ESCRITA.

2:

Através da LINGUAGEM ESCRITA, elaboramos DOCUMENTOS de vários tipos:

= Textos SUBJECTIVOS e porventura, EMOTIVOS, como:

Antigamente, escrevíamos CARTAS aos Amigos e Familiares; actualmente, enviamos MENSAGENS por e-mail, ou pelo WHAT’S UP...

= Textos LEGAIS, de acordo com normas pré-estabelecidas, como:

Documentos oficiais, como contratos notariais, requerimentos, certidões, etc...

= Textos JORNALÍSTICOS.

Nesta categoria, cabem os textos de NOTÍCIAS, as CRÓNICAS, as ENTREVISTAS, as CRÍTICAS de Teatro ou Cinema ou Música..., as notícias do DESPORTO...

As NOTÍCIAS devem ser textos OBJECTIVOS, pois devem divulgar FACTOS (acontecimentos da vida do país,

ou da actualidade internacional) de acordo com a regra fundamental do Jornalismo:

Uma notícia deve esclarecer:

QUEM praticou um dado acto;

QUANDO isso aconteceu;

ONDE aconteceu;

COMO aconteceu;

PORQUÊ, porque é que aconteceu.

Lembremo-nos que já falámos destas regras, logo no início desta Teoria Literária, no capítulo 1, intitulado “O gosto pela leitura; as 5 regras de Quintiliano”.

De momento, vamos considerar que este tipo de documentos, por muito bem escritos que estejam, não são Literatura...

3:

A LITERATURA implica FICÇÃO:

FICÇÃO... e EMOÇÃO ESTÉTICA.

4:

Então, quais são esses textos de FICÇÃO que transmitem esse prazer estético aos Leitores?

Temos falado deles ultimamente: São os ROMANCES, os CONTOS, as NOVELAS! Em qualquer destas variantes, há um AUTOR que conta uma HISTÓRIA; em geral uma história é uma FICÇÃO.

Claro, que uma HISTÓRIA que prenda a ATENÇÃO DOS LEITORES terá que ser uma “história bem contada”.

4.1:

Por vezes, lemos histórias que se parecem com a vida real! Até agora, em Análise Literária só temos tratado de histórias que nos “falam” de imensos aspectos da “vida real”!

4.2:

Mas há as histórias de pura fantasia:

por exemplo, a saga de “O Senhor dos Anéis”, do escritor britânico J. R. R. TOLKIEN (1892-1973). Ou uma saga mais recente, como “As Brumas de Avalon”, da escritora estadunidense MARION ZIMMER BRADLEY (1930-1999), ou a série do famosíssimo HARRY POTTER, da escritora britânica J. K. Rowling (1965).

5:

Tendo em atenção que estou a escrever para Estudantes, vou tentar responder a esta questão:

Então... O que é uma história bem contada?

5.1:

Uma história bem contada será:

= Uma história com princípio, meio, e fim!

MAS...

Como estamos a falar de Literatura, e a Literatura é uma ARTE, cada autor começa a sua história conforme achar melhor:

Actualmente, cada autor começa a sua história conforme mais lhe agradar: pode começar pelo fim... e depois vai recordando todas as etapas anteriores... Ou pode começar pelo meio...

Já vimos que há :

- histórias longas: os romances. No século XIX e até meados do século XX, os romances contavam a história completa das personagens;

- histórias breves, com final inesperado: os contos

- as novelas. Podemos considerar as novelas como “romances muito breves”, por vezes também com "final inesperado".

5:2

As HISTÓRIAS – ou seja, os TEXTOS, ou seja, o “ discurso linguístico ” para ser compreensível, precisa de ter a PONTUAÇÃO adequada.

Embora actualmente a PONTUAÇÃO tenha adquirido um aspecto muito “experimental”... eu, como professora, acho conveniente que os Estudantes pratiquem a pontuação da forma mais tradicional possível, observando todas as regras.

DEPOIS, quando dominarem a utilização das regras, estarão em condições de INOVAR conforme o seu próprio gosto e arte!

6:

Ora bem! Chegámos ao “ponto”:

O “discurso linguístico” é formado por FRASES.

Eu costumava dizer aos meus Alunos:

Uma FRASE é um história pequenininha!

E por isso:

Uma FRASE tem que ter todos estes elementos de que falámos em 2:

Então, vamos a ver este exemplo:

FUI AO CINEMA

Isto diz-nos muito pouco:

Falta contemplar o QUEM, o COMO, o ONDE, o QUANDO, o PORQUÊ!

QUEM? – EU

O QUÊ – FUI

AONDE? – AO CINEMA

QUANDO? – ONTEM À TARDE

PORQUÊ? – Porque a minha amiga Ana me disse que o filme era muito bom!

VAMOS enunciar isto tudo com jeito! Vamos escolher qual a forma mais agradável de começar:

Ontem à tarde eu fui ao cinema porque a minha amiga Ana me disse que o filme era muito bom!

Ora esta frase não tem gracinha nenhuma. Nós não falamos assim, pronunciando as palavras todas de enfiada!

Seria aconselhável pormos uma VÍRGULA... Mas aonde?

Vamos pôr uma VÍRGULA onde a nossa RESPIRAÇÃO precisar de “repousar”:

Ontem à tarde, eu fui ao cinema porque a minha amiga Ana me disse que o filme era muito bom!

Vamos observar a frase com uma LUPA!

Assim:

Onde foi que pusemos a VÍRGULA?

Foi onde a nossa voz descansou um pouco:

MAS foi TAMBÉM onde RESPONDEMOS à pergunta: QUANDO?

7:

Vejamos um exemplo mais complicado:

No ano passado por altura dos meus anos a minha Mãe ofereceu-me aquele relógio com que eu sonhava havia tanto tempo fiquei tão feliz abracei-me a ela e disse-lhe Mamã és maravilhosa és a minha fada boa

Já vimos que ninguém fala assim, sem respirar, debitando as palavras todas de enfiada...

Vamos então procurar as perguntas fundamentais para analisar uma frase:

No ano passado – QUANDO

por altura dos meus anos – QUANDO

a minha Mãe – QUEM

ofereceu-me – QUE FOI QUE ELA FEZ?

aquele relógio com que eu sonhava havia tanto tempo fiquei tão feliz abracei-me a ela e disse-lhe Mamã és maravilhosa és s minha fada boa

Ora bem:

Acabámos de dizer que, QUANDO RESPONDEMOS ÀS PERGUNTAS: pomos uma VÍRGULA. Assim:

No ano passado, por altura dos meus anos,

AGORA: surge-nos a PESSOA QUE PRATICOU A ACÇÂO, ou seja: surge-nos o SUJEITO da frase

e o PREDICADO (ou seja: a ACÇÃO),

e surge também a resposta à pergunta O QUÊ?

ESTES elementos NUNCA se SEPARAM com vírgulas:

Então, a frase ficará assim:

No ano passado, por altura dos meus anos, a minha Mãe ofereceu-me aquele relógio com que eu sonhava havia tanto tempo

Mais ainda:

Vemos que neste nosso exemplo, SURGEm DUAS IDEIAS!

A primeira ideia: a oferta da mãe.

A segunda ideia: a reacção da filha.

Então, TEMOS QUE SEPARAR estas duas ideias: pomos PONTO FINAL:

E ficará assim:

No ano passado, por altura dos meus anos, a minha Mãe ofereceu-me aquele relógio com que eu sonhava havia tanto tempo.

Agora, temos essa expressão: fiquei tão feliz

Oh, mas esta expressão mostra uma EMOÇÃO: então, precisa de um PONTO DE EXCLAMAÇÃO!

E o nosso exemplo vai tomando forma:

No ano passado, por altura dos meus anos, a minha Mãe ofereceu-me aquele relógio com que eu sonhava havia tanto tempo. Fiquei tão feliz! Abracei-me a ela e disse-lhe

Oh... Agora surge a FALA da filha:

então, temos duas coisas a fazer:

= usamos os : (dois pontos)

= e temos que mudar de linha, usar o TRAVESSÃO e temos uma frase em DISCURSO DIRECTO:

No ano passado, por altura dos meus anos, a minha Mãe ofereceu-me aquele relógio com que eu sonhava havia tanto tempo. Fiquei tão feliz! Abracei-me a ela e disse-lhe:

– Mamã, és maravilhosa, és a minha fada boa!

= NOTAR, agora: mais estas VÍRGULAS:

– Mamã, és maravilhosa, és a minha fada boa!

Porquê? Porque NINGUÉM diz de enfiada:

– Mamã és maravilhosa és a minha fada boa

Novamente, vemos que as VÍRGULAS vêm imitar a EMOÇÃO da filha. E no fim da FALA dela, pomos ! (ponto de exclamação).

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E pronto, espero ter sido mais clara do que das outras vezes!

Estes procedimentos talvez pareçam um pouco complexos...

MAS:

Com a continuação, o treino, a persistência, fazer a PONTUAÇÃO correctamente torna-se INTUITIVO!!!

Por outro lado, quando lemos um TEXTO de AUTOR, temos que observar:

Se o Autor é do século XIX ou até meados do século XX: a pontuação, certamente, obedecerá às regras;

Se o autor é recente, pode acontecer que se liberte das regras... Na Literatura contemporânea há grande INOVAÇÃO.

Mas para se LIBERTAR das REGRAS... primeiro, tem que SABER USÁ-LAS!

Pelo menos, eu acredito que será este o melhor caminho para chegar a ser um autor apreciado.

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Há ainda a notar a diferença entre o valor e a função de UMA FRASE CURTA e uma FRASE LONGA.

As FRASEs CURTAs. transmitem EMOÇÃO ao leitor;

As FRASEs normais, em geral, são mais "repousadas".

Com as frases "longas" fazemos as Descrições...

Mas este é só um apontamento. Num próximo capítulo falaremos mais deste último tema: Frases breves e frases longas.

Finalizamos, chamando a atenção para este facto:

Os TEXTOS LEGAIS e os TEXTOS das NOTÍCIAS - TÊM que observar as regras da Pontuação. Aí, não se foge às regras!

Myriam

29 de Julho de 2022

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 29/07/2022
Reeditado em 29/07/2022
Código do texto: T7570254
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