Eu vou morrer
Eu vou morrer
Eu vou morrer. Aliás, não sou eu quem vai morrer e sim este corpo alquebrado que já não suporta a maturidade dos meus 40 000 anos só no uso da razão.
40 000 anos! Nem me atrevo em fazer a conta de quantos dias, horas, minutos e segundos estão contidos neste número assustador.
Tanto tempo e ainda não aprendi a amar. Sim, este é mais um relato autobiográfico que a insônia me motiva e impulsiona a escrever.
“- Não escrevam em primeira pessoa. É muita presunção para meros graduados em Letras.”
Ainda bem que sou teimoso e aqui estou desafiando meus mestres nesta quente/fria madrugada de junho de 2016 a esgrimir bravamente minha caneta contra o papel. Batalha dura sem óculos!
Agora ficou melhor. Começo a enxergar minhas travessuras literárias. Quantas exclamações! O Millôr não gostava deste sinal gráfico. Ele dizia: “- Parece que o sujeito fica espantado a cada parágrafo".
Será psicografia? Não sei. Até agora nenhum Espírito se apresentou para assinar esta missiva, portanto o missivista sou eu mesmo.
Quantos lerão minhas inconsequências pretensiosas? Poucos, eu sei, mas que importa?
A grande aventura da escrita é justamente esta: sei como começou e não sei como terminará esta história (ou estória) de morrer. Foi assim que nomeei este texto, não?
Bem, não morri até aqui e ainda estou insone (ia escrever “sem sono”, porém gosto de ressuscitar palavras úteis). É como “em frente de”; não é melhor defronte? Não é mais poética, mais sonora?
Há quem utilize um recurso muito interessante. Quando não se consegue pronunciar direito uma palavra ou expressão busca-se outra. “Entreter” na linguagem de meus pais soava “enterter” ou “interter” – que aliás acaba sendo outra palavra: “inter-ter”. Em vez de entreter utiliza-se distrair.
Falando em palavras que tal “delir” fossilizada e reabilitada pelo meu querido Prof. Pasquale Cipro Neto em sua excelente coleção Inculta e Bela? Delir tem o mesmo significado que sua prima moderninha deletar. Eis a beleza da língua: qual é melhor – indelével ou indeletável?
As horas são. As palavras vêm e vão. Graças a Deus ainda estou em meu invólucro carnal – não morri – e só vou sentir muito sono depois.
Depois? Ah, depois é sexta-feira, véspera de sábado, dia de dormir até acordar como canta e decanta o Rodrigo da Rede Globo.
#bispoeta Bispoeta