Acentuando pela nova ortografia: pequena consideração
Assisto à tevê e, como todo mundo, vejo também – de vez em quando – as tarjas que aparecem no inferior do vídeo. E, como tenho certo treino com os princípios de ortografia, as imprecisões saltam-me às vistas.
Acho que já escrevi, neste espaço, que é importante as redes de tevê manterem os revisores de texto (acho a palavra ‘revisor’ meio antipática, talvez porque flerte um pouco com ‘censor’ – esta, sim, abominável).
Mas vamos ao probleminha que vi hoje. Em matéria sobre uma menina de oito anos, interessada em astronomia, o jornal da tevê cravou a expressão ‘rainha dos asteróides’, assim mesmo: ‘asteróides’, com acento. Essa é a grafia antiga.
Os ditongos ‘éi’, ‘éu’ e ‘ói’ (ditongos abertos tônicos), são acentuados, pelas novas regras, quando aparecem em palavras oxítonas ou monossílabas tônicas. Assim: MÉIS (um dos plurais de ‘mel’; o outro é ‘meles’), ANÉIS, VÉU, ESCARCÉU, DÓI e CORRÓI. Simples, não?
Ocorre que, em ‘asteroides’, temos uma palavra ‘paroxítona’, portanto não cabe o acento gráfico. Paroxítona termina em ‘e’ não recebe acento. Observe que escrevemos, acertadamente: “O verdadeiro herói (oxítona) não fica alardeando o seu ato heroico (paroxítona)”.
Seria a mesma situação de ‘Meier’ e ‘destroier’, assim separados: Mei-er, des-troi-er? Afinal, ambas as palavras são paroxítonas.
Não... Não seria a mesma situação. Explico-me melhor. Em acentuação, existem regras gerais e regras particulares.
A regra geral estabelece que se acentuam as paroxítonas terminadas em R, assim como em várias outras terminações. E esse princípio geral prevalece na acentuação de ‘Méier’ e ‘destróier’, que, enfatizamos, são acentuados por serem paroxítonas terminadas em R. Perfeito?
Vamos dar mais um exemplo. Existe um princípio geral que determina a acentuação das paroxítonas terminadas em ditongos crescentes, como em ‘sábia’, ‘sábio’, ‘séria’ etc.
Vá ao dicionário (procure um dicionário que não tenha sido feito às pressas) e verá que ARACNÓIDEO e TIREÓIDEO se escrevem com acento. Por quê? Porque se trata de paroxítonas terminadas em ditongo crescente. Não importa, nesse caso, que o ditongo ÓI, tônico, esteja presente, em uma palavra paroxítona, pois prevalece a regra geral.
Algumas pessoas costumam dizer quer resolvem esses problemas pela intuição, pela memória visual. Estou certo de que isso não é possível. Os que assim pensam acertarão alguns (talvez muitos!) casos, mas estarão sempre vulneráveis. De memória, por intuição, ficará difícil se lembrar de que “Um problema de tireoide (sem acento) é o mesmo que um problema tireóideo (com acento)”.
É importante (digo o óbvio) que a mídia se afine bem com as regras; afinal – queiramos ou não – a repercussão do que nela se escreve é grande e não se pode descuidar!
Espero ter ajudado um pouco!