7.3- Ainda os Pronomes PESSOAIS
A última frase do texto do capítulo 19.2 abre-nos o caminho para o tema de hoje:
Lembremos que a jovem ciumenta exclamava:
– Gulosa, EU? QUEM foi que disse ISSO?
Vamos hoje ver que há uma boa variedade de PRONOMES.
Também já dissemos, no capítulo 19, que os PRONOMES são PALAVRAS GRAMATICAIS que substituem as PALAVRAS PLENAS (ou seja, substituem as palavras com significado, aquelas que nos reportam a coisas reais).
Claro que nós usamos os PRONOMES sem pensar em questões de Gramática! Nós usamos a Língua intuitivamente, porque ela nos acompanha e faz parte das nossas vidas desde que nascemos!
Mas ao estudarmos a Gramática, temos a oportunidade de nos aperfeiçoarmos no uso que fazemos da nossa Língua Materna, tanto na nossa oralidade como sempre que precisamos ou queremos escrever!
Para facilitar a compreensão destas coisas, vamos recorrer ao primeiro parágrafo do primeiro conto da colectânea – “A Febre”, de Le Clézio, autor de quem já falámos no capítulo 19.1.
J. M. G. Le Clézio tinha 25 anos quando publicou a colectânea de contos “A Febre”.
“A Febre” apresenta-nos um conjunto de nove contos um tanto estranhos, onde o Autor cria atmosferas perturbadas, provocadas ou por sonhos pesados, ou insolação, ou um estado de febre, ou qualquer outra situação em que a personagem não sabe bem se está a dormir ou acordada e tem momentos de quase alucinação...
A personagem principal do conto “A Febre” é um jovem que vai dar um passeio à praia, mas deita-se ao sol, e ao chegar a casa sente-se doente de insolação...
O Autor começa por nos dar um pormenorizado RETRATO FÍSICO do jovem.
Recordo que já falámos em RETRATO FÍSICO no capítulo 8.
Escolhi, então, o pequeno excerto que vou transcrever – pois está bem provido de PRONOMES!
Para dizer TUDO, Roch era do género de tipo de omoplatas saídas; não
muito alto, tinha um esqueleto QUE SE via por toda a parte debaixo da
pele, especialmente à altura do tórax onde as costelas desenhavam
uma série de arcos. Ombros, cotovelos, e joelhos pontiagudos, alguns
músculos QUE SE assemelhavam a tendões, e sobretudo um longo
rosto famélico, nariz de papagaio, olhos encovados e faces cavadas,
acentuavam um ar geral de caricatura. No entanto não era feio, com
todo o rigor podia-SE até achá-lO belo apesar da sua magreza singular.
Quando andava, Roch balançava desajeitadamente os braços, fora de
tempo, O QUE LHE deslocava o ritmo das pernas. Nunca ria, a não ser
um leve sorriso QUE LHE pairava permanentemente nos lábios, como
se aí houvesse um gracejo QUE não conseguia esquecer. Falava
realmente pouco, de modo QUE NADA SE podia dizer de seguro a este
propósito. Não bebia, e fumava de vez em quando um cigarro
americano. NINGUÉM O conhecia inteiramente, nem sequer sua mulher
Élisabeth, e não SE LHE encontravam amigos. Trabalhava todas as
tardes e noites numa agência de informações da companhia de viagens
“Transtourisme”. ISTO deixava-LHE as manhãs livres e ELE
aproveitava-AS de diferentes maneiras conforme a estação. No
Inverno dormindo, no Verão indo à praia.
Um 'retrato' esquisito, não é?
Tão completo, e talvez até com pormenores um pouco exagerados, que nos fazem sorrir!
Ora bem, vamos agora ver as palavras assinaladas com ‘maiúsculas’ – os PRONOMES:
Os PRONOMES presentes no texto são:
PESSOAIS: -SE, SE, -O, -LHE, LHE, ELE
POSSESSIVOS: ---
DEMONSTRATIVOS: -O, ISTO, -AS
INDEFINIDOS: TUDO, NINGUÉM
RELATIVOS: QUE
Vejamos novamente o que mais poderemos dizer sobre os PRONOMES PESSOAIS:
* Os PRONOMES PESSOAIS evitam repetir a referência a PESSOAS. No capítulo anterior, desenvolvemos este assunto, com um texto exemplificativo - será conveniente ir rever.
* Numa frase, os PRONOMES PESSOAIS tanto desempenham a FUNÇÃO de SUJEITO, como outras FUNÇÕES (complemento directo, complemento indirecto, complemento circunstancial - são FUNÇÕES de que falaremos futuramente).
Mas para já, é fácil perceber o que é a FUNÇÃO de SUJEITO:
Numa frase, o SUJEITO é “a pessoa” que PRATICA a ACÇÃO:
ELE aproveitava as manhãs, indo à praia.
* Dizemos também:
Os PRONOMES PESSOAIS indicam:
= a pessoa que fala, ou seja: o EMISSOR,
= a pessoa a quem se fala, ou seja: o RECEPTOR
= a pessoa de quem se fala (quando falamos de alguém que está ausente)
Os Pronomes Pessoais assumem várias formas, conforme a FUNÇÃO que desempenham na frase.
Quando desempenhando a FUNÇÃO de SUJEITO, são os seguintes:
Pronome Pessoal de 1ª pessoa - Eu / Nós
Pronome Pessoal de 2ª pessoa: Tu / Vós
Pronome Pessoal de 3ª pessoa: Ele ou Ela / Eles ou Elas
Quando desempenham a FUNÇÃO de COMPLEMENTO DIRECTO, são:
1ª pessoa - me /nos (Ele vem buscar-NOS para irmos à praia.)
2ª pessoa - te /vos (Ele vai buscar-TE a casa, ele leva-VOS a jantar fora.)
3ª pessoa - se, o, a /se / os / as: (Ele viu as rosas, apreciou-AS, comprou-AS e eu pu-lAS na jarra).
Quando desempenham a FUNÇÃO de COMPLEMENTO INDIRECTO, são:
1ª pessoa - me, mim / nos, nós (Ele disse-ME a MIM que viria buscar-ME.)
2ª pessoa - te / vos (Ele vai mostrar-TE as fotos, só a TI!)
3ª pessoa: lhe / lhes (Ele falou-LHE em irem visitar o museu. Ele falou-LHES muito bem.)
Quando desempenham a FUNÇÃO de COMPLEMENTO CIRCUNSTANCIAL:
1ª pessoa - mim, -migo / nós, -nosco (Tu não falas coMIGO, nem sabes o que se passa conNOSCO)...)
2ª pessoa - ti, -tigo / vós, -vosco (Eu penso em TI, falo conTIGO!)
3ª pessoa - si, -sigo, ele, ela / si, -sigo, eles, elas ( Ela é muito caladinha, muito metida conSIGO...)
Myriam
Maio 2021