6 - Como evitar a repetição de palavras – continuação. Os PRONOMES

Primeiro que tudo, desejo que todos os meus Leitores tenham passado uma boa Páscoa.

Quero também agradecer, de todo o coração, a todos os meus Leitores, a atenção que têm prestado ao meu trabalho! A vossa atenção tem sido um grande estímulo para mim, nestes tempos de isolamento, devido à pandemia.

Finalmente, peço desculpa pelo grande intervalo entre o último capítulo e hoje... Mas de repente, faltou-me a inspiração, e percebi que estava a precisar de férias!

E foi o que fiz. Fiz férias, pois para além deste trabalho, empenho-me em vários outros, e além disso, tenho todo o trabalho doméstico. É muita coisa! Mas felizmente, consigo fazer de tudo um pouco, basta um pouco de organização!

Então, vamos começar!

Ou antes, re-começar!

*

*

No capítulo 17.2 vimos um bom processo de EVITAR a REPETIÇÃO de PALAVRAS, de modo a conseguirmos construir um texto agradável de se ler:

Falámos dos SINÓNIMOS – que são várias palavras com o mesmo significado. E dissemos que, quando não sabemos ou temos dúvidas sobre qual a palavra mais apropriada, podemos – e devemos – consultar o DICIONÁRIO.

Também falámos dos ANTÓNIMOS – palavras que têm sentido (ou significado) diferente. E que servem para MARCAR a OPOSIÇÃO entre ideias (significados) diferentes.

No texto exemplificativo que usámos nesse capítulo, opúnhamos a “perspicácia” da Jessica Fletcher à “inépcia” dos polícias.

Finalmente, dissemos que há PALAVRAS GRAMATICAIS que

igualmente nos permitem evitar as incómodas e inestéticas

repetições. Essas PALAVRAS GRAMATICAIS são os PRONOMES.

PALAVRAS GRAMATICAIS

e

PALAVRAS PLENAS

Vejamos estas frases:

Um dos livros que mais marcou a minha formação como ser humano

pensante, foi sem dúvida “A Pequena Princesa”, da autora anglo-

americana Frances H. Burnett (1849-1924). A história da garota que

soube resistir às adversidades que atingiram a sua vida, impressionou

a minha imaginação de menina, como um modelo de resistência nas

horas más.

É fácil distinguir aqui, quais são as PALAVRAS COM significado QUE NOS REPORTAM a coisas REAIS

e

as PALAVRAS que FIGURAM nas frases APENAS PARA ESTABELECER RELAÇÕES ENTRE as palavras com significado:

Assim, vamos assinalar as PALAVRAS COM SIGNIFICADO que nos reportam a ‘coisas’ reais:

Um dos LIVROS que mais marcou a minha FORMAÇÃO como SER

HUMANO PENSANTE, foi sem DÚVIDA “a PEQUENA PRINCESA”, da

AUTORA AMERICANA FRANCES H. BURNETT (1849-1924). a

HISTÓRIA da GAROTA que soube RESISTIR às ADVERSIDADES que

atingiram a sua VIDA, impressionou a minha IMAGINAÇÃO de

MENINA, como um MODELO de RESISTÊNCIA nas HORAS MÁS.

As palavras assinaladas acima são PALAVRAS PLENAS.

Há ainda a acrescentar os verbos MARCAR, SER, SABER, RESISTIR, ATINGIR, IMPRESSIONAR – que se encontram conjugados nas formas adequadas ao sentido das frases.

Eu gosto muito desta designação de PALAVRAS PLENAS, talvez porque foi essa que aprendi na cadeira de Linguística, na Faculdade.

Mas os Linguistas também as designam como: ‘palavras analisáveis’, ou como ‘palavras lexicais’.

E as PALAVRAS GRAMATICAIS também são designadas como ‘palavras instrumento’.

****

Então, dissemos que hoje vamos falar dos PRONOMES...

O que são?

Os PRONOMES são palavras GRAMATICAIS

que substituem as PALAVRAS PLENAS,

evitando a sua inestética repetição!

Para percebermos isto melhor, vai um exemplo:

Mais uma vez, vou partir de um CONTO TRADICIONAL da maravilhosa província onde nasci – o Algarve. Um conto que o meu Pai me contava, e que muitas vezes eu contei aos meus alunos, e a que eles achavam muita graça! Muitas vezes repetiam – “Professora, conte o conto do homem que foi vender figos ao mercado!”

E cá estou eu, novamente, a construir um texto maçudo, cheio de repetições...

NOTA:

Peço que note a utilização dos DIMINUTIVOS:

São próprios do quase "dialecto algarvio".

O CAMPONÊS E OS FIGOS

O Ti Zé tinha uma quinta – uma chácara – onde cultivava várias espécies de árvores de fruto.

Certa manhã, o HOMEM propôs-se ir ao mercado vender figos. O HOMEM pediu à mulher que lhe preparasse uma merenda, e o HOMEM foi aparelhar o burro. O HOMEM montou os alforges no dorso do burro. ENCHEU OS ALFORGES de figos.

E lá vai O HOMEM, por esses montes fora, a caminho do mercado na aldeia mais próxima. O burrico à frente, e O HOMEM atrás, com o bastãozito na mão para dar nas ancas do burrito e o burrito não se esquecer que ia acompanhado.

Pelo caminho, O HOMEM teve sede. Era quase verão, já fazia calor. Mesmo usando o seu chapéu preto, O HOMEM tinha muito calor. Então, O HOMEM meteu a mão a um dos alforges, e tirou um figo. Mas não gostou do aspecto dele, e disse:

– Está podre, não presta!

Atirou O FIGO às traseiras do burro! O FIGO caiu ao pó do caminho.

Esta cena repetiu-se muitas vezes: o HOMEM tirava um figo, não gostava do aspecto DO FIGO, achava que o FIGO estava com bicho, e atirava o FIGO às traseiras do burro, e o FIGO caía ao pó do caminho...

Na feira da aldeia, os negócios correram muito bem. O HOMEM demorou-se muito mais tempo do que tinha previsto. Ao longo do dia, o HOMEM foi comendo tudo o que a mulher tinha preparado para o almoço.

Começava a entardecer, quando O HOMEM resolveu que eram horas de voltar para casa.

Infelizmente, porém, o caminho ainda era longo, e O HOMEM já não tinha restos da merenda... Que havia de fazer?

A certa altura, O HOMEM vê uma coisa brilhar sobre o pó do caminho... O HOMEM ficou surpreendido, e prestou atenção... Era um figo!

– Estará bom? – perguntou ele aos seus botões.

Curvou, abaixou... agarrou o figo com as pontas dos dedos... Virou o FIGO na mão, revirou o FIGO... Mirou o FIGO bem mirado... O FIGO parecia-lhe bom... Só um pouquito de pó...

– Mas que importância é que isso tem? – disse ele novamente com os seus botões. – Este figo não bateu no burro!

Então, muito depressa, o HOMEM tinha fome e sede, sacudiu o FIGO na aba do casaco... E vá, meteu o FIGO à boca...

Ah, como soube bem!

Mais à frente, a coisa repetiu-se... A fome a apertar, e um figuinho a aparecer, brilhando, desafiante, por entre o pó...

E o HOMEM a curvar-se, a apanhar O FIGO, a virar o FIGO, e revirar o FIGO, e a dizer:

– Este FIGO não bateu no burro!

E toca de sacudir o FIGO bem sacudido, na aba do casaco. E a seguir meter o FIGO à boca! E deliciar com o FIGO

E foi assim, todo o caminho, a apanhar os figos que nessa manhã tinha deitado fora! Até que todo cansado, mas feliz, chegou a casa.

Muito bem:

O que temos de fazer agora?

Substituir as palavras plenas assinaladas, por palavras gramaticais!

Mas os Leitores poderão reparar nos seguintes pormenores:

= por vezes, vou manter alguma repetição, quando me parecer que fica bem,

= outras vezes, vou suprimir palavras;

O texto vai ficar mais agradável de se ler, ou de ouvir contar!

O CAMPONÊS E OS FIGOS

O Ti Zé tinha uma quinta – uma chácara – onde cultivava várias espécies de árvores de fruto.

Certa manhã, o homem propôs-se ir ao mercado vender figos. Pediu à mulher que LHE preparasse uma merenda, e foi aparelhar o burro. Montou-LHE a albarda sobre o dorso, e por cima, os alforges cheios de figos.

E lá vai ELE, por esses montes fora, a caminho do mercado na aldeia mais próxima. O burrico à frente, e o Ti Zé atrás, com o bastãozito na mão para dar na garupa do ANIMAL a-fim-de que ESTE não se esquecesse que ia acompanhado.

Pelo caminho, o homem teve sede. Era quase verão, já fazia calor. Mesmo usando o seu chapéu preto, Ti Zé tinha muito calor. Então, meteu a mão a um dos alforges, e tirou um figo. Mas não gostou do aspecto dELE, e disse:

– Está podre, não presta!

Atirou o figo às traseiras do burro! O FIGO caiu ao pó do caminho.

Esta cena repetiu-SE muitas vezes: o homem tirava um figo, não gostava do SEU aspecto, achava que o figo estava com bicho, e atirava-O às traseiras do burro... E o figo caía ao pó do caminho...

Na feira da aldeia, os negócios correram muito bem. Ti Zé demorou-SE mais tempo do que tinha previsto. E assim, ao longo do dia, foi comendo TUDO o que a mulher LHE tinha preparado para o almoço.

Começava a entardecer, quando o homem resolveu que eram horas de voltar para casa.

Infelizmente, porém, o caminho ainda era longo, e ELE já não tinha restos da merenda... Que havia de fazer?

A certa altura, o HOMENZINHO vê uma coisa brilhar sobre o pó do caminho... FICOU surpreendido, e prestou atenção...

Era um figo!

– Estará bom? – perguntou ele aos seus botões.

Curvou-SE, abaixou-SE... agarrou o figo com as pontas dos dedos... Virou-O na mão, revirou-O... Mirou-O bem mirado... O figo parecia-LHE bom... Só um pouquito de pó...

– Mas que importância é que ISSO tem? – disse ele novamente com os seus botões. – Este figo não bateu no burro!

E vai, muito depressa, o homem tinha fome e sede, sacudiu o figo na aba do casaco... E meteu-O à boca...

Ah, como soube bem!

Mais à frente, a coisa repetiu-SE... A fome a apertar, e um figuinho a aparecer, brilhando, desafiante, por entre o pó...

...E o Ti Zé a curvar-SE a apanhar o figo, a virá-LO e revirá-LO, e a dizer:

– ESTE não bateu no burro!

E toca de O sacudir bem sacudido, na aba do casaco. E a seguir metê-LO à boca! E deliciar-SE com o figo!

E foi assim, todo o caminho, a apanhar os figos que nessa manhã tinha deitado fora! Até que todo cansado, mas feliz, à noitinha, chegou a casa.

***

Bem, conforme reparou, as palavras gramaticais assinaladas com letra MAIÚSCULA estão a substituir as palavras plenas:

São PRONOMES.

Há vários tipos de PRONOMES. Aqui no texto, temos exemplos de ...

Pronomes PESSOAIS:

LHE

ELE

-SE

-O

Pronomes DEMONSTRATIVOS:

ESTE

ISSO

O ou -LO

Pronomes POSSESSIVOS:

SEU

Pronomes INDEFINIDOS:

TUDO

*

*

INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR

PRONOMES

https://www.todamateria.com.br/pronomes/

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IMAGENS:

BURRO com alforges – foto elucidativa:

Os alforges são os sacos que vemos, um de cada lado do dorso do

burro; nesta foto, são feitos em palha. Por detrás, vê-se o cesto, de

cana: um “cesto de encanastrado”;

Sob os alforges, vemos uma “manta de trapos”;

Debaixo, vemos a “albarda”.

O homem mais velho está vestido à maneira típica antiga, com o

imprescindível chapéu preto.

Era um pouco assim, há 100 anos. E mesmo na minha infância,

na aldeia de Alte, na década de ’50, do século XX. Pois eu nasci

e cresci durante a Ditadura, que bem se esforçou por manter o

País em atraso cultural e tecnológico... Porque um povo esclarecido

é um perigo para as prepotências dos ditadores...

https://fotos.web.sapo.io/i/o7411d15a/18588444_uk9Wd.jpeg

BURRO atrelado à nora:

A nora era um engenho para tirar a água do poço.

O burro ficava agarrado ao braço da nora, conforme se vê na foto.

Conforme o burro andava à volta, os alcatruzes desciam ao fundo do

poço e subiam cheios de água. A água assim recolhida, era orientada

para as regas da horta, ou para algum depósito.

O burro tem os olhos tapados, com grandes antolhos, para não ficar

tonto. O pobre animal passava o dia todo, ou quase todo, a dar à nora.

Eu via um, numa horta, e isso fazia-me muita confusão. Sempre pensei

que o animal sofria com aquele trabalho... O meu Pai dizia-me que

não, que o burro não se importava... Mas nunca me convenceu, nem

nunca conseguiu tranquilizar-me...

https://fotos.web.sapo.io/i/o4c11cafb/18588517_eGJAZ.jpeg

VOCABULÁRIO para o CORPO DO CAVALO

https://www.todamateria.com.br/cavalo/

FIGOS LAMPOS

http://claustrofobias.blogspot.com/2011/08/chamou-lhe-um-figo.html

Myriam

Abril 2021

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 13/04/2021
Reeditado em 22/05/2022
Código do texto: T7231043
Classificação de conteúdo: seguro
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