Uma historinha familiar sobre dicionários
Ilustração: Capa do Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, 1972, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
Ilustração: Capa do Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, 1972, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
Apresentação
Uma historinha familiar sobre dicionários
Referências
Veja também
Apresentação
Cara(o) leitora(or):
Se os ofícios da língua e literatura são extremamente árduos, sobre eles o de dicionarista constitui colossal trabalho de pesquisa, método e dedicação.
Imagine, por exemplo, que na feitura do Dictionaire de la langue française, um dos mais famosos daquele idioma, Littré consumiu 30 anos de sua vida, trabalhando quatorze horas por dia.
Com efeito, raramente haverá bons lexicógrafos se não houver dedicação quase apostólica à tarefa. É o que comentaremos por meio das histórias narradas a seguir.
Comecemos com esta de Cora Rónai, filha e afilhada de dicionaristas:
Uma historinha familiar sobre dicionários
Referências
[1] Paulo Rónai, autor do Dicionário de Citações da Editora Nova Fronteira.
[2] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, autor do dicionário Aurélio
[3] Cora Rónai – Coluna em O Globo, Segundo Caderno, 13-01-2005
Uma historinha familiar sobre dicionários
Referências
Veja também
Apresentação
Cara(o) leitora(or):
Se os ofícios da língua e literatura são extremamente árduos, sobre eles o de dicionarista constitui colossal trabalho de pesquisa, método e dedicação.
Imagine, por exemplo, que na feitura do Dictionaire de la langue française, um dos mais famosos daquele idioma, Littré consumiu 30 anos de sua vida, trabalhando quatorze horas por dia.
Com efeito, raramente haverá bons lexicógrafos se não houver dedicação quase apostólica à tarefa. É o que comentaremos por meio das histórias narradas a seguir.
Comecemos com esta de Cora Rónai, filha e afilhada de dicionaristas:
Uma historinha familiar sobre dicionários
Tenho uma relação muito particular com dicionários. Cresci junto com alguns deles numa época em que não eram criados em computador, mas em singelas fichas de cartolina, mantidas em ficheiros, gavetas e toda a espécie de caixas disponíveis. Lá em casa dividíamos o espaço – já não muito grande – com os três dicionários em que meu pai [1] trabalhava quase que simultaneamente: o de francês, o de provérbios latinos e o de citações. E, volta e meia, estávamos com o tio Aurélio [2], melhor amigo de papai e meu padrinho, que trabalhava num dicionário da língua portuguesa tão grande, mas tão grande, que precisava de um apartamento inteiro só para ele. .....................................
Papai colaborava com o dicionário do tio Aurélio, que, por sua vez, colaborava com os dicionários de papai. Ambos cultuavam a palavra exata, apreciavam o desafio de uma boa definição e passavam horas imersos nas tais fichas. Na primeira linha, um pouco mais forte do que as outras, anotavam a palavra em si; nas outras escreviam sua definição e, eventualmente, faziam anotações, referências a abonações e o que mais houvesse. .......................................
Manter as fichas em ordem alfabética era importantíssimo, já que elas tinham um talento todo especial para se esconderem entre as outras. Vez por outra alguém se distraía e pronto, era o caos: onde encontrar a palavra perdida?! Muitas vezes vi meu pai desesperado procurando por uma palavra. O que pode soar como metáfora radical para a maioria das pessoas, para mim era um fato normal do cotidiano e tinha um sentido real, palpável. Uma palavra era, literalmente, uma ficha de 12 x 18, pautada, da Papelaria União.
Papai colaborava com o dicionário do tio Aurélio, que, por sua vez, colaborava com os dicionários de papai. Ambos cultuavam a palavra exata, apreciavam o desafio de uma boa definição e passavam horas imersos nas tais fichas. Na primeira linha, um pouco mais forte do que as outras, anotavam a palavra em si; nas outras escreviam sua definição e, eventualmente, faziam anotações, referências a abonações e o que mais houvesse. .......................................
Manter as fichas em ordem alfabética era importantíssimo, já que elas tinham um talento todo especial para se esconderem entre as outras. Vez por outra alguém se distraía e pronto, era o caos: onde encontrar a palavra perdida?! Muitas vezes vi meu pai desesperado procurando por uma palavra. O que pode soar como metáfora radical para a maioria das pessoas, para mim era um fato normal do cotidiano e tinha um sentido real, palpável. Uma palavra era, literalmente, uma ficha de 12 x 18, pautada, da Papelaria União.
Cora Rónai [3]
Referências
[1] Paulo Rónai, autor do Dicionário de Citações da Editora Nova Fronteira.
[2] Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, autor do dicionário Aurélio
[3] Cora Rónai – Coluna em O Globo, Segundo Caderno, 13-01-2005