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SUMÁRIO
 
VEJA TAMBÉM
 

APRESENTAÇÃO
 
Instrutor Guima

Diretrizes editoriais do REDIGIRMelhor estão fundamentadas nos Mandamentos da Coletânea — artigos e crônicas sobre língua portuguesa, gramática, redação, literatura. 

Confira a seguir.

SENTINELAS DA LÍNGUA (ou: Nem João Ribeiro escapou...)

Mas os gramáticos são impiedosos, turrões, irredutíveis e intransigentes.  Fora da gramática, para eles, nada mais existe. E o estilo deixa de ser o homem e passa a ser a gramática...
(Miguel Timponi)
 
                                     
Censuraram-me a sintaxe “importar em” na acepção:
[Um fato não importa  em nenhuma definição, e vice-versa.]
É uma construção moderna, que já tem o beneplácito do Rui
(...) é a maneira moderna de falar e escrever.
                                       (Cândido Jucá (filho). A evolução Sintática)
                                                   Em tudo o que eu digo há o que  não digo.

(João Ribeiro)

João Ribeiro [1] foi mestre da língua portuguesa, membro da Academia Brasileira de Letras, professor do Colégio Pedro II, historiador, filólogo, folclorista, ensaísta, crítico literário, tendo pontificado em todas essas atividades, como nos informa o Larousse. Apenas para dar pálida ideia da qualidade literária de João Ribeiro, mencione-se que seu livro Frases Feitas é obra tão extraordinária que o grande filólogo Antenor Nascentes, anos mais tarde, ao escrever o seu precioso Tesouro da Fraseologia Brasileira, anotou, reverente, no prefácio:
Não foi grande a minha tarefa. Mestre João Ribeiro quase nada deixou para os que viessem após ele.

Sobre a mesma obra, com igual e justa reverência, R. Magalhães Júnior na introdução do seu Dicionário Brasileiro de Provérbios, também elogia as qualidades do livro.

Marcos de Castro  [2] diz que João Ribeiro era realmente um sábio, um dos poucos que o Brasil tem tido, na acepção da palavra. Esse autor informa também que o nosso admirável João Ribeiro foi escritor de qualidades notáveis em toda a extensa área cultural em que atuou, além de ter sido, já no início do século, um pioneiro na compreensão e julgamento do nosso Modernismo — um defensor intransigente da necessidade de renovação e do modo brasileiro de cultivar a Língua Portuguesa. Diz ele que foi João Ribeiro que nos ensinou a deixar os complexos de lado e parar de escrever e colocar os pronomes à maneira lusitana.
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Capa de Selecta Classica, de João Ribeiro. Edição fac-similada da Academia Brasileira de Letras

Mas a história continua. Mário Barreto [3], no livro Através do Dicionário e da Gramática, diz que um crítico duma folha carioca, “guarda cioso e implacável da pureza do nosso idioma”, saiu a desancar o livro Notas de um Estudante, que João Ribeiro publicara em 1922. Entre as "cincas de maior vulto", o "aristarco fluminense" havia criticado a construção “se lhes parece”. E Barreto, com abono em Manuel Bernardes, defende a redação de João Ribeiro, dizendo ser essa uma construção clássica do verbo “parecer-se”

Cito esse caso registrado por Mário Barreto e os fatos que atestam a extraordinária capacidade cultural e literária de João Ribeiro para ilustrar a velhíssima praga do patrulhamento gramatical, movimento que, igualmente aos seus congêneres, sempre encontra leais servidores, como o pechisbeque citado.
É..., se nem ao João Ribeiro os sentinelas da língua perdoaram,  o que se dirá de nós...
[1] [1860-1934] De vasta cultura e espírito liberal, é o autor da famosa Grammatica Portugueza  Curso Superior, e de  longa bibliografia da qual se destacam: Dicionário Gramatical (1889); História Antiga, I. Oriente e Grécia (1892); História do Brasil (1900); Estudos Filológicos (1902); Páginas de Estética (1905); Frases Feitas (1908); O Folclore (1919); Floresta de Exemplos (1931).
[2] No livro A Imprensa e o Caos na Ortografia
[3] Professor do Colégio Pedro II e do Colégio Militar do Rio de Janeiro, profundo conhecedor dos clássicos e um dos melhores sintaticistas da língua.
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QUEM ESCREVE CERTO TAMBÉM PODE ESCREVER ERRADO (ou: O autor de Escrever Certo tem o direito de “escrever errado”)
 
 
(Crítico) implacável da pureza do nosso idioma, [que] não cessa de desentoar e pregar faltas alheias, as incorrecções e galicismos que se nos escapam ao escrever (...)
 
(Mário Barreto, comentando crítica feita a texto de João Ribeiro.
Através do Dicionário e da Gramática)

 
(...) em matéria de língua portuguesa, cumpre sermos moderados e modestos em nossos juízos, muito cautelosos e prudentes em afirmar o nosso saber e ainda mais em marcar os erros dos outros.
       
   (José Veríssimo. Estudos de Literatura Brasileira)
 
Se a experiência e o estudo de um velho merecem fé, aceite um conselho:  — pode ser o mais veemente possível na defesa de nossas ideias; convém, entretanto, não ser agressivo. Que a sua pena, por mais ardente que seja, nunca se manche na ofensa, na intolerância, na descaridade espiritual.

(Carlos Imbassahy, cultor da língua, escritor e polemista,
                                           aos 70 anos de idade, em carta a um confrade)

 
Por outro lado, graças a Deus, faltam-lhe [a Adriano da Gama Kury] completamente o ardor bélico e o furor missionário, que caracterizam tantos gramáticos. Quando diverge de um colega sabe discordar dele sem condená-lo.

(Paulo Rónai. Posfácio ao livro Para Falar e Escrever
Melhor o Português, de A. da G. Kury)

O professor, dicionarista e folclorista Aires da Mata Machado Filho durante muitos anos assinou no jornal O Estado de Minas a coluna ESCREVER CERTO, na qual praticou o que chamava de jornalismo gramatical.
Esses textos foram enfeixados numa coleção de livros, com o mesmo título. E de um deles colhemos uma crítica feita pelo professor Horácio Mendes, na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, à construção passiva do verbo aludir no seguinte período de Mata Machado: O aludido cronista é um deles... Mendes remata o artigo dizendo que

o vulgo pode escrever de tal maneira... Mas o autor de Escrever Certo já não tem o direito de escrever coisas erradas.
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Capa do volume 5 de Escrever certo, de Aires da Mata Machado Filho

Mata Machado, com a elegância e o humor que foram sua marca, defende convincentemente a construção de que fez uso. Mas o que nos interessa aqui não são as lições de gramática, e sim a lição de humildade intelectual dada por Machado no caso, por ser sobre todas, a mais importante. Assim respondeu o mestre mineiro:
 
O amável professor do Rio acha que o autor de “Escrever Certo” já não tem “direito” de escrever errado.
Não me parece justo rastrear, no título do meu pobre livro, ridículas pretensões à infalibilidade.
Erro, e muito, apesar de todo o meu esforço para não “tombar” em deslizes.
        .........................................................
        Sou apaixonado estudioso da língua, e nada mais.
Só que os problemas que procuro resolver são sugeridos pelos meus leitores. Sinto muito, mas só lhes posso dar como documentação aquilo que encontro nos dicionários e nos bons autores.
Como escrevo mais para aprender do que para ensinar, vou divulgando como posso minhas conclusões de estudante. Com isso, capacidade me faltaria, ainda que tivesse o gosto, para procurar deslizes de linguagem em escritos alheios, que os meus já me dão grande trabalho.

A linguagem é assunto que não pode ter a fixidez como norma e no qual não cabe intransigência. Questões traiçoeiras, regras intrincadas, pontos controvertidos, ao escrever tudo isso nos assalta a cada instante, e enganos e desatenções ocorrem com frequência.
Na esteira do provérbio latino, mas universal — errare humanum est,  Rui Barbosa dizia:  Não há escritor sem erros, e, como se viu acima, com inteira razão, pois, em matéria tão versátil como a língua portuguesa, ninguém deve ser crítico impiedoso, nem ter pretensões à infalibilidade...
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QUE É CERTO?... QUE É ERRADO?...
 

O conceito de certo-e-errado – que tem caracterizado a velha gramática normativa – foi substituído aqui pelo conceito de corrente. O que seja corrente na linguagem dos bem-falantes, ou na prática dos literatos
consagrados, afigura-se-nos mais aceitável do que tudo quanto a caturrice dos gramáticos recomende, em que pese a sua incontestável autoridade filológica.

(Cândido Jucá (filho). Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua Portuguesa)

A própria língua, como ser vivo que é, decidirá o que lhe importa assimilar ou recusar. A língua mastiga e joga fora inúmeros arranjos de frases e vocábulos.
Outros, ela absorve e integra ao seu modo de ser.

(Vergílio Ferreira. Em defesa da língua)

(...) no se aprende en Gramáticas y Dicionarios, sino en el decir de la gente
(Ortega Y Gasset)

Eu não chegaria a afirmar que é certo, pois não me agradam camisas-de-força em termos de linguagem.
(Maria Tereza Piacentini - Autora da Coluna "Não tropece na língua")

A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica.
A contribuição milionária de todos os erros.

(Osvald de Andrade. Falação, Poesias Reunidas)

Certa é a forma linguística aceita e consagrada pela língua corrente
(a linguagem usada comumente pela camada instruída) depois de fixada
pelo uso da língua literária contemporânea.

(Antônio de Abreu Rocha. Gramática e Linguagem)

Erro é o que destoa da tradição, dos hábitos linguísticos de uma comunidade;
acerto é o que afina com tais hábitos, o que se liga com uma tradição e a continua.

(Gladstone Chaves de Melo. Iniciação à Filologia e à Linguística Portuguesa)
 
Podem chamar-me de antiquado, mas ainda sou daqueles que acreditam
que, em língua, não existe erro.
............................................................................
Ainda prospera entre nós uma gramática prescritiva que, a meu ver, pouco ou nada acrescenta
............................................................................
O fenômeno da gramática prescritiva surgiu na Renascença, quando se tratava de criar uma expressão escrita para os idiomas nacionais europeus. Hoje, acredito, ela subsiste por conta de excrescências pedagógicas como o vestibular e também porque é mais fácil “regulas defaecare” do que ensinar a refletir sobre a língua. Caberia aqui toda uma discussão sobre o poder.


(Hélio Schwartsman. Editorialista da Folha de São Paulo, Uma Questão Subjuntiva)
 

A questão dos cânones gramaticais é um ponto jamais pacificado em linguagem e está sempre a se (re)apresentar aos estudantes da língua:
   
— a gramática é a exposição dos fatos da língua, ou seja, uma descrição de como está sendo usada em determinada época de sua história; ou
 
    — a gramática é a prescrição de como a língua tem de ser usada e constitui regramento normativo obrigatório para seu uso?

Nas correntes linguísticas atuais, a ideia de uma gramática regradora do uso da língua foi abandonada. Hoje se afirma que a gramática não pode ser normativa: não é norma para a língua de ninguém; pelo contrário, a língua é que é a sua própria norma (Jucá, filho).

O mesmo Jucá (filho) é categórico:
 
As estatísticas, hoje, baseiam as afirmações linguísticas. O conceito de certo e errado já não decorre de imposições da gramática escolar, e não tem cabimento uma gramática normativa. Os fatos recomendam-se de um modo ou de outro, conforme as indicações estatísticas. (...) Correto é o que seja corrente. A língua é a norma da gramática.

Vejamos o pensamento de outros especialistas, para prosseguir. O filólogo Antenor Nascentes afirma que
 
Gramática é a disciplina que, examinando os fatos da linguagem segundo o uso da classe culta, deles extrai normas.
..............................................................
O gramático observa os fatos da língua e depois deduz as normas.
Não inventa regras a que os fatos devam subordinar-se. Eles é que se submetem aos  fatos.

Na mesma linha, Silveira Bueno ensina:
 
de toda (...) vida real da língua falada e escrita cuida a gramática, codificando e  sistematizando as regras pelas quais se regem esses fenômenos, tirando-os da  observação concreta e diária da linguagem e jamais concluindo teoricamente, a priori,  sem o absoluto e indispensável apoio dos fatos práticos do idioma.

Como se vê nas lições desses dois importantes professores brasileiros, a normatização gramatical é uma sistematização a posteriori dos fatos da língua em uso, ou como diz Marcos Bagno: a gramática normativa é decorrência da língua, é subordinada a ela, dependente dela.

Daí poder dizer-se modernamente
 
a gramática é método de observação, de natureza estatística, que capta os fatos da língua e por indução sistematiza as regras do seu funcionamento em determinada época.

Nessa visão, a tradição gramatical fossilizada do certo/errado não pode também prevalecer, pois
 
a norma linguística não é apriorística, mas consuetudinária. (...) Certo é o que está em    harmonia com os usos de determinada situação linguística; errado é o que destoa da  tradição ou dos hábitos de determinado tipo de linguagem. (Gladstone C. de Melo)

Para ilustrar e sintetizar o nosso pensamento exposto neste artigo, vejamos um pequeno, mas valioso exemplo de Celso Pedro Luft, que a um só tempo toca a questão da gramática normativa ou descritiva, o método de corrente de uso e o problema do certo/errado em língua portuguesa.
 
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Respondendo a pergunta de um leitor sobre a obrigatoriedade ou não do uso da vírgula antes de etc., à frente da posição firme da Gramática de Napoleão Mendes de Almeida que reza que só raras vezes se emprega vírgula antes do etc., pois essa locução encerra a conjunção "e" [...], o professor Celso Luft, numa coluna de jornal de Porto Alegre, ensinou:
 
Meu amigo, não temos aí problema de certo/errado, e sim questão de uso: tanto se usa como não se usa vírgula. O usual (a gente sabe, de ler) é vírgula antes do etc. O resto é questiúncula de gramáticos; gramatiquice.
O citado “raras vezes se emprega vírgula antes do etc.” numa gramática normativa naturalmente significa “raras vezes se DEVE empregar." Mais útil e confiável seria a  Gramática se fosse simplesmente descritiva ou expositiva (algumas têm esse título, sem sê-lo) e o “raras vezes se emprega” correspondesse a uma constatação de FATO ou USO: o levantamento estatístico mostra presença/ausência de vírgula em proporções de tanto por cento.
.........................................................
Percorri cerca de 100 páginas de um punhado de livros [dos melhores autores brasileiros modernos], verificando o uso/não uso de vírgula antes do etc.(...) RESULTADO: 115 etc. com vírgula versus 14 etc. sem vírgula.


Diante desses dados, sim, podemos INFORMAR que “só raras vezes ocorre etc. sem  vírgula”.
 
Que lição!... Equilibrada, sábia e atual - para ninguém botar defeito!...
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O TODO-PODEROSO SABER GRAMATIQUEIRO
 

O prestígio dos gramáticos, dos consultórios gramaticais, dos professores de língua, perdura há quase dois séculos entre nós.
(Antônio Houaiss. O Português no Brasil)
 
Aspirar à clareza, à simplicidade e à precisão sem um bom vocabulário e uma gramática exata seria querer o fim sem os meios.

(Rui Barbosa. Suplemento  Literário. “A Manhã” 05.07.1942 apud Assis Sobrinho)
 
A influência popular tem um limite; e o escritor não está obrigado a receber e dar curso a tudo o que o abuso, o capricho e a moda inventam e fazem correr.

(Machado de Assis. A Língua)
 
Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto eu vou escrevendo, eu traduzo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam os meus livros, escritos em idioma próprio, eu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros.

(Guimarães Rosa)
 
Passadas em revista as mais famosas gramáticas do Brasil, chegamos à conclusão de que o peso terrivelmente asfixiante da rotina continua a abafar o ensino do idioma. Como essas trepadeiras envolventes e daninhas, continuam as antigas regras, puramente artificiais, ou já sem aplicação em nossos dias, a enredar-se em torno do velho roble português, impedindo-o de frondejar à larga, à desenvolta. O que era artificial no século XVI e XVII, agravado pela inconsciência da repetição e da memorização, continua a dominar ainda agora, muito embora o vejamos em absoluto desacordo com os fatos modernos do idioma que falamos. Chegamos ao ponto de ensinar aos alunos uma língua que eles nunca falarão e jamais ouvirão falar, como se fosse um idioma desaparecido com Camões, Bernardes ou Frei Luís de Souza, morto completamente para nós. Temos esquecido que o aprendizado do português tem por finalidade colocar nos lábios dos estudantes expressões e conhecimentos que lhes sirvam de apto e perfeito instrumento de intercâmbio social de ideias e sensações.

(Silveira Bueno. Gramática Normativa da Língua Portuguesa)
 
Nada há mais velho que a moda, nada mais fácil que a originalidade das desobediências (...) Mas vencida essa crise de crescimento, se não se quer ser infante toda a vida, não há outro endereço mais que o do amor e respeito aos modelos eternos da linguagem.

(João Ribeiro. Páginas de Estética)
 
Mesmo correndo o risco de propugnar uma certa anarquia linguística, acho que faz mais sentido tomar a sintaxe como um fenômeno dinâmico que ocorre em contextos reais, e não como um jogo de estruturas pré-fabricadas em que vamos encaixando as palavras segundo fórmulas banais.

(Hélio Schwartsman – Jornal Folha de S. Paulo)

Outro dia enredei-me numa longa discussão sobre o uso do subjuntivo. Tratava-se de descobrir se a construção “eu suspeito que ele é...” é lícita ou se é necessário escrever sempre “eu suspeito que ele seja...”.
 
Com essas palavras, um editorialista da Folha de S. Paulo iniciou artigo na edição de 13 de março de 2001 no qual justificava o emprego, numa mesma frase, do termo suspeita e do modo indicativo (é), em vez do subjuntivo (seja), como prescreve a gramática tradicional.
 
Trazemos a exame a questão, pois, além de atual, ela toca também os problemas que vimos discutindo nesta página eletrônica: o policiamento gramatical, o normativismo linguístico, o império de regras arbitrárias e inflexíveis de uso da língua, fruto do
 
prestígio dos gramáticos, dos consultórios gramaticais, dos professores de língua, (que) perdura há quase dois séculos entre nós,
 
como registra o mestre Antônio Houaiss.
 
Nada temos contra os gramáticos nem contra as regras e os usos cultos de linguagem, como vimos deixando claro ao longo dos textos que publicamos aqui neste espaço virtual. Mas o absolutismo, a tirania, o prestígio exagerado (e forçado) da gramática e do gramático prescritivista, tudo isso pode e deve ser questionado e examinado com sensatez e equilíbrio, sem reacionarismo tolo nem subversão linguística.
 
Desse modo, sob todos os aspectos, é saudável a discussão e o enfrentamento das normas imperiosas de uso da língua, como fazem
 
gramáticos como, por exemplo, Celso Cunha, Rocha Lima e Evanildo Bechara − donos de profundos conhecimentos filológicos e vasta cultura clássica, capazes de fecundas comparações entre diversas línguas antigas e modernas e sensíveis às evoluções teóricas do saber linguístico.(Marcos Bagno)
 

Contra o saber gramatical onipotente, de modernos e antigos, valha-nos Gladstone Chaves de Melo (Filologia da Língua Portuguesa) dissertando sobre A “Gramatiquice”, seus Métodos, suas Bases:
 
Ora, o que essa aberração que chamamos de “gramatiquice” faz é deduzir normas tiradas da Lógica ou, o que é pior, do gosto ou das implicâncias pessoais dos gramatiqueiros, dos puristas, dos buriladores de frases. Um tem antipatia pela forma “apiedo-me”, a outro não lhe sabe bem a concordância “um dos que mais trabalhou”, a tal outro lhe repugna a regência “amor por”. E dá-lhe a condenar isto e aquilo, como galicismo, como barbarismo e sei lá que mais.
 
O resultado de tudo é que o fundamento da gramatiquice fica sendo o capricho pessoal, a opinião, qualquer coisa de essencialmente múltiplo e variável. E então vêm as querelas, vem o  “Fulano acha”, “Beltrano prefere”, “Sicrano condena”. Vem o argumento de autoridade, vêm as inúteis citações de vernaculistas de cara feia, vêm os severos preceitos vazados na pior das linguagens, a linguagem toda impregnada do intolerável “ranço gramatical”.
 
É natural, pois, que os homens sensatos se distanciem de tal literatura, concluindo sadiamente que isso é ocupação de ociosos. (Grifamos.)
 
Com toda razão, o editorialista assim concluiu o citado artigo na Folha:
 
Afirmar que existe certo e errado absoluto em língua é dizer que só há uma forma “correta” de pensar, o que, para mim, justifica o tiranicídio. 
 
Afirmação a qual subscrevemos inteiramente, e que adotamos como norma da Coletânea REDIGIRMelhor, não obstante defendermos, no caso, a construção subjuntiva...
 
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A "GRAMÁTICA DE BITOLA ESTREITA"

Em verdade, a primeira barreira que se tem de vencer, quando se cogite de escrever “bem”, é o preconceito de que existe “uma gramática do correto para todos os fins”.............................

Assim, pois, não parece que se devesse lutar contra a norma comum culta de uma língua comum de cultura. Haveria, apenas, que contra-regrar o que há realmente como normal para o âmbito do português como um todo; o que há realmente como normal para cada variedade nacional do português (duas das quais, neste momento da história, perfeitamente caracterizáveis, a norma nacional portuguesa, a norma nacional brasileira). Porque, de fato, os impedimentos, na linguagem oficial, para que se possa atingir essa norma destituída de cerebrinices e bizantinices são de vária natureza:

a) a normalização oferecida pelas nossas gramáticas correntes tem vergonha de encampar como realidades cultas normais uma quantidade de práticas e pragmáticas linguageiras universalizadas entre nós, fatos esses cuja não observância constitui um ato de força permanente do escritor oficial ou usuário da linguagem oficial contra si mesmo;
b) a normalização oferecida pelas nossas gramáticas, ademais de suas cerebrinices e bizantinices, é uma normalização “culta”, isto é, encerra passado no presente, encerrando assim mais de uma potencialidade “regular”.

(Antônio Houaiss – A Crise de Nossa Língua de Cultura)
 
(...) é preciso começar por convencer os distraídos ou os contagiados, os sem roteiro ou os desviados, para que eles se armem de sadia desconfiança contra os vendedores de regrinhas, e já agora contra os laxistas ou caçanjistas, — e se disponham a formar do bom lado.
................................
Dessa falsa concepção decorre que os gramatiqueiros adoram as regrinhas, principalmente as proibições, as coisas “que se não devem dizer”, e acabam criando em si, o mais das vezes inconscientemente, uma pobre vaidade de saber o que os outros não sabem. De poder ler um texto e ir marcando com o implacável lápis vermelho os solecismos, as cacofonias, as colisões, os galicismos.
A atividade dessa triste gente produz dois efeitos desencontrados: de um lado, os discípulos, que se comprazem nesse deletério tipo de literatura gramatical; doutro lado, os sensatos e desorientados que, “vendo sem vingança tanto dano”, resolvem mandar às urtigas as normas de bem escrever, se tomam de prevenção contra os bons escritores, desprezam as tradições da língua literária e passam a inspirar-se exclusivamente na linguagem coloquial, quando não na plebeia.

(Gladstone Chaves de Melo, Iniciação à Filologia e à Linguistica Portuguesa)
 
As línguas não somente evolvem por si mesmas, pois são sistemas sujeitos a desgastes, e têm de refazer-se eternamente, como sofrem ações recíprocas, às vezes substanciais.

(Cândido Jucá (filho), verbete Linguagem – BARSA)
 
A gramática tem valor meramente prático: destina-se a permitir a intercomunicação oral das ideias. É um código que se deve respeitar porque traz vantagens para a coletividade. Se cada um de nós tivesse competência para alterar as normas gramaticais, dentro  em breve seria impossível qualquer convívio humano. Por isso, por interesse social, guardamos as normas do bem-dizer e esforçamo-nos por mantê-las íntegras indefinidamente. Não tem sentido, portanto, dar imutável valor substancial aos preceitos gramaticais. É próprio dos espíritos órfãos de senso linguístico extasiar-se com as regrinhas gramaticais e a elas emprestar uma força interior que não possuem. Essa a razão por que escrevem admiravelmente mal. Semeiam as suas frases de tantas pequeninas exigências, que acabam exprimindo-se em linguagem barroca, perra e opaca. Neles tudo é regra, tudo é exterioridade, tudo é convenção; a sua personalidade literária fica reduzida a zero, e a média dos estilos a tudo mais sufoca.

(Sílvio Elia, Orientações da Linguística Moderna, apud  Leodegário A.de Azevedo Filho)

 

Em decorrência do que vimos anotando, pode-se afirmar que verdadeiramente em língua portuguesa a questão certo/errado não deve ser vista pelo figurino caduco das gramáticas taxativas; essas, na sua forma impositiva e irrecorrível, não podem prevalecer. Parafraseando o que disse  S. I. Hayakawa sobre os dicionários, podemos dizer sobre as gramáticas: O gramático é um historiador, nunca um legislador, pois, a rigor metodológico, fazer uma gramática é registrar, na medida da habilitação de quem o faz, como os escritores registraram os fatos da língua num passado imediato ou longínquo.
 
Mas com isso não se quer — nem se poderá nunca — descartar as gramáticas, pois “não podemos dispensar normas nem gramáticas”. Continuamos a reverenciá-las, porquanto são absolutamente respeitáveis em todos os outros aspectos: histórico, filológico, literário, cultural, além de conter os fundamentos da nossa extraordinária língua de cultura, para usar a expressão de Antônio Houaiss. Trata-se, apenas, de uma atualização, perfeitamente natural no campo das ciências linguísticas, uma decorrência  do dinamismo e da vitalidade dos fatos da língua.
 
Deve-se dizer também que um conceito de correção da língua tem de abranger como legítimas as inúmeras variações da língua escrita e falada (V. A Gramática do Português Falado, UNICAMP, de Ataliba T. Castilho). Mas para tanto será preciso criar um método investigativo dinâmico, atrelado à vivacidade da língua, na esteira do que já apontam  linguistas modernos:
 
Sem investigações pacientes, sem métodos descritivos aperfeiçoados, nunca alcançaremos determinar o que, no domínio da nossa língua ou de uma área dela, é de emprego obrigatório, o que é facultativo, o que é tolerável, o que é grosseiro, o que é inadmissível; ou, em termos radicais, o que é e o que não é correto. (Cunha & Lindley – Nova Gramática do Português Contemporâneo)
 

Capa de Iniciação à Filologia e à linguística portuguesa. Gladstone C. de Melo - Ed. Ao Livro Técnico

Se assim deve ser, por que, então, a visão gramatical estreita, especiosa, matriz do preconceito, da condenação sistemática a qualquer manifestação linguística que não se coadune com uma suposta norma culta ideal? Por quê? Só pode ser a adoção da gramática de bitola estreita, a que se refere o professor Gladstone Chaves de Melo...
 
Inibidos diante de um pretensioso saber gramatical, os usuários da língua, ou seja, os  seus legítimos donos — os que determinam o seu uso — se curvam; e, muitas vezes,  não ao conhecimento verdadeiro (pois esse nunca é presunçoso), mas aos caprichos, às gramatiquices de uma ortodoxia casticista.
 
Infelizmente, a omissão tem levado essas questões a trilharem foro especial,  alçadas que ali foram interesseiramente por entendidos exclusivistas, detentores de supostos títulos, que empunham métodos  rigoristas e impermeáveis.
 
São estes doutos puristas que estão pensando por nós, ou como diz Rubem Alves (Filosofia da Ciência)
        
O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque induz o comportamento e inibe o pensamento. (...) Se existe uma classe especializada em pensar de maneira de correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados da obrigação de pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam. (...) Antes de mais nada, é necessário acabar com o mito de que o cientista é uma pessoa que pensa melhor do que as outras.
 
Do nosso lado, isto é, do TEXTOPr@tico, tocamos nossa vida e como podemos e vamos cometendo nossos textos despretensiosos, conscientes dessas questiúnculas todas, mas à margem delas, encorajados pelo professor Cândido Jucá (filho), mestre da língua como poucos:
 
Os gramáticos que reformem os seus compêndios, e façam da língua viva e estuante a norma irrecorrível de suas sistematizações.

VIRGULAR NÃO É OFÍCIO DE "PEQUENA CORRETAGEM"
 
Se o ponto final é o mais completo, a vírgula é, incontestavelmente, o mais difícil...
(Alexandre Passos, A Arte de Pontuar (notações sintáticas) 

(tornar-se mito) foi o que ocorreu com a pausa na língua oral que fez nascer a
vírgula na língua escrita: a vírgula é uma pausa breve – eis o fato;
pontuar de ouvido e virgular para respirar – eis o mito.

(Antônio Carlos Guimarães – O ofício de virgular)
 
A vírgula é a principal dúvida de todos os redatores. Ela não serve apenas para marcar pausas ou momentos de respiração, como se acredita no senso comum.
É principalmente um fator sintático, já que une e separa elementos
de uma oração, ordenando-os de forma lógica.

(Lucília H. do Carmo Garcez, Técnica de Redação)
 
O emprego da vírgula é deficiência unânime dos brasileiros.

(Prof. Dad Squarisi, da Coluna Dicas de Português, Correio Braziliense)
 
Nos monumentos escritos da História, ou da lei, um ponto, ou uma vírgula, podem encerrar os destinos de um mandamento, de uma instituição
ou de uma verdade.

(Rui Barbosa, Réplica)
 
Não é necessário para falsificar uma escritura mudar nomes, nem palavras, nem cifras, nem ainda letras; basta mudar um ponto, ou uma vírgula.
Perguntam os Controversistas, se assim como na Sagrada Escritura
são de Fé as palavras, serão também de fé os pontos, e vírgulas?
E respondem que sim; porque os pontos, e vírgulas, determinam
o sentido das palavras; e variados os pontos, e vírgulas,
também o sentido se varia.

(Padre Antônio Vieira, Sermões)

Num texto clássico (A vírgula não foi feita para humilhar ninguém), o grande Joaquim Cândido de Carvalho imortalizou Borjalino Ferraz, um servidor público, escriturário de uma Divisão de Rendas, que acabou despedido do emprego por ter aprendido a colocar bem as vírgulas, mas... em ofício de pequena corretagem!
 
Este artigo é uma reflexão sobre aquela notação, e o seu título uma homenagem a José Cândido, pois continuamos sendo ainda hoje, numa "divisão de rendas" em que praticamos nossos ofícios, novos Borjalinos em face da  antiga esfinge – a vírgula.

 
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Capa do livro Por que Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon, em que José Cândido de Carvalho imortalizou Borjalino Ferraz, personagem do conto A vírgula não foi feita para humilhar ninguém.

Modernamente é tendência no campo dos textos funcionais e práticos das repartições e empresas escritos mais objetivos, frases curtas, vocabulário mais leve, predomínio da ordem direta com pouca pontuação intermediária. Registre-se, contudo, que nos textos didáticos, expositivos, ou nos arrazoados, a virgulação sempre é mais generosa, geralmente motivada pela entoação. Mas ainda assim deve ficar muito distante dos modelos seculares.
 
Depois de longa confusão, em nossos dias, parece também fixado que o sentido da virgulação prende-se menos às pausas e mais à organização sintática, estando o seu uso regulado pela sintaxe de ordem — a divisão da sintaxe que cuida da arrumação da frase. Enfocada, assim, pelo ângulo correto de aplicação — a organização oracional — , ressurge também a importância da sintaxe, e, em especial, da análise sintática, para compreensão do modo certo de apor vírgulas.
 
Nada obstante isso, a virgulação, ainda, é campo inçado de subjetividades e sempre surgem divergências entre os gramáticos. E “pequenas questões virguleiras”  tornam-se casos barulhentos, como se verá  do breve relato que se segue.
 
Já há séculos, o Padre Antônio Vieira mostrava num de seus célebres sermões como a vírgula pode falsificar uma escritura. E isso tinha tanta importância que, informa o grande mestre de nossas letras, “havia um Conselho chamado dos Masoretas, cujo ofício era conservar incorruptamente em sua pureza a pontuação da Escritura.”
 
Apesar desse zelo de Vieira com a pontuação escriturística, no geral os clássicos não pontuavam com o rigor das regras, que, a bem da  verdade, só foram sistematizadas bem tarde na língua portuguesa.
 
No Brasil, a vírgula não ficou de fora das controvérsias gramaticais que fizeram história. Rui Barbosa, por exemplo, que, à época da redação do Código Civil, discutiu longamente com Ernesto Carneiro Ribeiro, reclamou deste: “Até a pontuação do trecho não lhe escapou do arpéu. Acha-me vírgula de mais” (Rui Barbosa, Réplica, apud Edmundo Dantès Nascimento). Essa polêmica famosa está registrada nas obras daqueles dois grandes homens (Réplica, de Rui Barbosa, e Tréplica – A Redação do Projeto do Código Civil e a Réplica do Dr. Ruy Barbosa, do Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro).

Conta-nos Alexandre Passos (A Vírgula, Ediouro, s/d) que uma vírgula colocada por Rui, antes da conjunção ou, quando esta liga palavra ou frases simples e curtas (como neste passo de fr. Luís de Souza: Ou faz anjos, ou demônios.) rendeu muita discussão entre os famosos contendores. Só a lista de citações dos autores clássicos confrontados no embate deve ter sido de laudas e laudas...
 
Claro que fato como esse é patrimônio cultural que a nossa breve memória não deve relegar ao limbo da história, como se costuma fazer. Mas é evidente que discussões dessa ordem hoje não têm mais cabimento, porque “não estamos mais no tempo das civilizações sem pressa das civilizações agrárias, mas no tempo acelerado da civilização tecnológica”. E, dessa forma, no mundo contemporâneo “é natural, pois, que os homens sensatos se distanciem (...), concluindo sadiamente que isso é ocupação de ociosos.”
 
Despontam, contudo, aqui e ali, rusgas gramaticais sobre virgulação. Veja-se que Celso Pedro Luft (A Vírgula, Ática, 1998, p. 25), discordando de Rocha Lima e Celso Cunha, faz leve menção ao fato de aqueles dois respeitados gramáticos darem “como obrigatória”  a vírgula para “indicar a supressão de uma palavra (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras”. Tal fato, que a mim me pareceu apenas o registro de uma discordância doutrinária, foi visto de modo diverso pelo prof. Cipro Neto (Inculta e Bela 2, Publifolha, 2001, p. 107). Mas é, como assinala Leodegário de Azevedo Filho (Ensaios de Linguística e Filologia), “a falta do hábito universitário da crítica científica em nosso meio” que faz as pessoas se abespinharem por tão pouco, à conta de pôr ou não pôr uma que outra vírgula, num campo no qual evidentemente não se deve especar em regras definitivas.
 
Vejamos alguns casos de colocação de vírgulas em que os nossos gramáticos mais tradicionais assumem posição contrária, para termos compreensão plena deste fato: não há regras absolutas em virgulação.
 
O respeitado prof. Adriano da Gama Kury põe taxativamente entre os “casos em que não se deve usar a vírgula” (Ortografia, Pontuação, Vírgula, MEC/FENAME, 1982, p. 71) o seguinte exemplo:
 
As árvores, os animais, os homens parecem renascer na primavera,
 
doutrinando que num sujeito composto, o último dos termos coordenados não se separa por vírgula do seu verbo.
 
Há, todavia, posições divergentes. Vejamos.
 
Luiz Antonio Sacconi (Nossa Gramática – Teoria e Prática, Atual Editora, 1994) também é taxativo – em sentido oposto :
 
Num sujeito composto em que não se usa a conjunção “e”, a vírgula também é obrigatória entre o último sujeito e o verbo. Ex.: 
...................................................................
Psicólogos, sociólogos, antropólogos , foram chamados a opinar sobe o assunto.
 
A seu turno, o prof. Napoleão Mendes de Almeida (Gramática Metódica da Língua Portuguesa,Saraiva, 1979) diz ser caso optativo de vírgula. E Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa) transcreve exemplos da mesma espécie em que a  vírgula também ficou de fora. Antenor Nascentes, no O Idioma Nacional, escreve trechos e trechos dessa forma, apondo vírgulas.
 
É também ilustrativo o caso da subordinada adverbial na ordem direta, não importando que seja longa ou curta. Uns (Rocha Lima, por exemplo) dão a vírgula como obrigatória sempre. Outros (a maioria, autores mais modernos) dizem apenas que, nesses casos, a virgulação é sempre correta, mas não falam em vírgula obrigatória. E alguns outros, ainda, dão essa mesma regra, mas excluem as adverbiais comparativas (alguns) ou comparativas e conformativas (outros).
 
Registro esses casos apenas para mostrar as dificuldades com que nós, não especialistas, esbarramos em certas situações, por um lado;  de outro, para ressaltar que em matéria de tantos pontos subjetivos ninguém deve pontificar e doutrinar com absolutismo. Posições arbitrárias, inflexíveis, imperiosas não podem ter vez em matéria gramatical tão fluida como o emprego da vírgula. Policiamento gramatical, então, esse muito menos.
 
A verdade  é que em redação a vírgula não é ponto dos mais fáceis  – até porque envolve análise sintática, lição que costuma assustar pois geralmente é  mal cuidada em nossas gramáticas. A virgulação, de qualquer modo, tem uma certa sistematização que merece estudo e cuidados.
 
O caro mestre das vírgulas, José Cândido de Carvalho, há de compreender, mas, ainda, entre nós,virgular não é ofício de “pequena corretagem”...
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ACGuima
Enviado por ACGuima em 02/12/2020
Reeditado em 04/12/2020
Código do texto: T7125712
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