Digitar ou escrever?

Digitar ou escrever?

Ganhei um caderno universitário e fiquei muito feliz porque a minha relação com as palavras transita necessariamente pela caneta a deslizar sobre o papel. Cada letra rascunhada é como que um pequeno retalho que comporá a grande – ou pequena – colcha que acalentará meus dias solitários.

Solitário porque a escrita é um exercício só – de mim para mim mesmo. Enquanto escrevo, relembro minha alfabetização – agora vertida em letramento – e compreendo quão importantes são todos os grandes mestres que compõem meu caráter e minha escrita. Tentei até pular esta etapa, mas agora percebo quanto ela é indispensável.

“Saudosista”, “anacrônico”, dirão; “ecologicamente incorreto”, “perdulário das horas”, vociferarão. Em tempos da agilidade oferecida pelo WWW soa até infantil insistir na teoria da caneta e papel; todavia eu sou teimoso e não desisto nunca, parodiando a máxima da brasilidade.

É certo que os corretores ortográficos auxiliam em alguns deslizes gramaticais, mas eles não são totalmente confiáveis uma vez que não diferenciam FABRICA (flexão do verbo fabricar, sem acento por ser paroxítona) de FÁBRICA (local de produção, com acento por ser proparoxítona) – apenas para citar um exemplo.

Escrever e observar o contorno que as letras vão tecendo no papel é algo inexplicável. É como se fôssemos deuses – modeladores do barro amorfo que vai obedecendo humilde ao influxo frenético de nossa mão.

Digitar ou escrever? Tanto faz, desde que o resultado da escrita seja a expressão honesta do sentimento, porque, afinal, escrever é um ato de verter em caracteres nossas paixões ensandecidas.

#bispoeta