Pontuação em diálogos com verbos dicendi
Primeiro, falaremos dos verbos dicendi.
– Hã? Nunca ouvi falar disso – você indagaria (ou mencionaria, replicaria...)
– Não se preocupe, explicarei a seguir – eu responderia (ou retrucaria, ressaltaria...)
Percebeu os verbos que usei? São verbos dicendi, usados pelo narrador para introduzir a fala dos personagens. Na construção de diálogos, é muito comum usar sempre os mesmos verbos, como por exemplo: “dizer”e “perguntar”. Porém, há outras opções mais interessantes e adequadas que podem ser utilizadas para enriquecer o seu texto. Veja alguns exemplos no diálogo abaixo:
– Acabei de enviar o teste à agência – comentou Leo. (ou comunicou, anunciou, afirmou...)
– E eu com isso? – contestou o irmão Tiago. (ou replicou, reclamou...)
– Você é meu irmão. Não posso comentar nada com você? – esbravejou. – Estou preocupado, cara! – confessou Leo. (ou indagou, bradou, retorquiu, inquiriu, irritou-se, exaltou-se... / ou vociferou, gritou, bradou...)
– Se você traduziu corretamente, se fez a revisão e enviou o material dentro do prazo, agora é só aguardar um retorno – afirmou o irmão. – Eles entrarão em contato com você. Relaxa, bro! (ou assentiu, asseverou...)
– Tem razão – concluiu. – Bora tomar uma! – propôs Leo, bem mais calmo. (ou retrucou, reagiu... / ou sugeriu, convidou...)
Em cada uma das frases acima é possível usar verbos que se encaixem no contexto e que evidenciem o tom que o autor quer dar àquela fala. Os exemplos que citei são só algumas opções viáveis para a tradução, em português brasileiro, dos verbos em inglês “said” e “asked”. Há muitas outras que também podem ser utilizadas, evitando que você sempre os traduza como: “disse” e “perguntou”.
Ainda citando o referido diálogo, você observou a pontuação? Notou que após algumas falas pode ou não haver pontuação? Como diferenciá-las? Veja abaixo algumas explicações:
Aspas ou travessão
No idioma inglês é comum os diálogos serem pontuados com aspas. Por exemplo:
“Have you bought a new car?” asked the neighbor.
No idioma português brasileiro o mais frequente é o uso do travessão. Menciono como mais frequente porque há literários que preferem o uso das aspas. Portanto, a tradução da frase acima poderia ser:
– Você comprou um carro novo? – sondou o vizinho.
Ainda falando sobre o uso do travessão, observe as frases abaixo referentes ao primeiro diálogo entre os irmãos Leo e Thiago:
– Você é meu irmão. Não posso comentar nada com você? – esbravejou. – Estou preocupado, cara! – confessou Leo.
Por que tantos travessões? A princípio, parece complicado, mas é muito simples se pensarmos que:
a) ele aparece no início da fala de cada personagem, assim como na fala do narrador:
– Você é meu irmão. Não posso comentar nada com você? – esbravejou. (verbo dicendi, fala do narrador).
b) reaparece no caso de nova fala do personagem e do narrador:
– Estou preocupado, cara! – confessou Leo. (verbo dicendi, fala do narrador).
O travessão foi usado na primeira frase para abrir a fala do Leo, questionando o irmão, e para a narrativa de quem está contando a história (esbravejou). Logo a seguir, o travessão reaparece porque tanto Leo como o narrador falaram novamente.
Ponto final
Veja os exemplos abaixo:
– O relatório tem que ser entregue antes da reunião – afirmou o gerente.
– Aqui está o meu. – O funcionário recém-admitido colocou a pasta com o relatório em cima da mesa e saiu triunfante.
Note que no primeiro exemplo não há ponto final após a palavra “reunião” porque há continuidade da frase por meio do verbo dicendi “afirmou”. E, nesse caso, ele é grafado sempre com letra minúscula. Já no segundo exemplo, observe que foi colocado um ponto final após a palavra “meu” e que a frase seguinte começa com maiúscula. Isso ocorre porque são duas ações distintas. Veja que não há verbo dicendi.
Ponto de exclamação, interrogação e reticências
– E eu com isso? – contestou o irmão Tiago.
– Estou preocupado, cara! – confessou Leo.
Note que nas duas frases acima, após a fala dos personagens, há a inclusão dos pontos de interrogação e de exclamação. Em seguida, outro travessão para abrir a narrativa, que é feita por meio de verbo dicendi, escrito em minúscula.
Em um diálogo, por estar dentro das normas da língua portuguesa brasileira e também por uma questão de estilo, é comum o uso de reticências ou a multiplicação do ponto de interrogação e de exclamação, ou até mesmo a colocação de ambos na mesma fala. Veja os exemplos a seguir:
– Este presente é pra mim?! – a menina, surpresa, gritou quando viu que a tia lhe dera a boneca que tanto desejara.
– O que faremos agora?... Você quebrou o vazo preferido da mamãe – estremeceu Robson, ao ver o vazo espatifado no chão da sala.
Vírgula
A vírgula pode ser incluída após o travessão. Veja o exemplo abaixo:
– Estava pensando em ir à festa – comentou Alice –, mas ainda não sei se devo ir.
Observe que o narrador “entrou” no meio da fala da personagem Alice. Se você retirar a narração “comentou Alice”, verá que há continuidade da fala principal: “Estava pensando em ir à festa, mas ainda estou em dúvida”.
Travessão usado como vírgula
Parece estranho, no entanto, podemos usar o travessão para substituir a vírgula. Veja este exemplo:
– O ladrão negou – embora ninguém acreditasse – que havia atirado no vigia do banco.
Perceba que o travessão entra na frase substituindo o aposto “embora ninguém acreditasse”, que normalmente viria entre vírgulas: “O ladrão negou, embora ninguém acreditasse, que havia atirado no vigia do banco”.