A pharmácia do Phernando

Sabe a Reforma Ortográfica? Pois é, por natureza sou contra tudo que leva a palavra “Reforma” - invariavelmente me remete a perda de direitos, mas eu que normalmente seria um Ariano Suassuna na defesa da nossa língua portuguesa, também reconheço que uma língua mais simples democratizaria a comunicação. E neste sentido reconheço os méritos da língua inglesa que, por imposição econômica, mas também por sua acessibilidade, tornou-se uma língua de intercâmbio, uma segunda língua representando em torno de 80% dos que usam uma segunda língua (estimativa puramente pessoal sem levar em conta qualquer estudo e, que por isto mesmo, 100% contestável).

Considero assim, que todo movimento no sentido de unificar a comunicação escrita nos países de língua portuguesa uma iniciativa muito boa. Neste caso só poderia considerar perda se quisesse manter uma distância das pessoas mais simples e quem me conhece sabe o quanto me identifico com a alma simples do Povo.

É bom conhecer vários "dialetos" da nossa língua: o “economês”, o “juridiquês”, a linguagem de quem gosta de usar o último termo da mais recente receita de administração (normalmente importada de gurus americanos), ou termos técnicos de diversas áreas como informática, medicina, etc., mas não para parecer importante, e sim para ser usado quando do outro lado só pudessem entender esta linguagem. Às vezes, na interação humana, dão mais importância para o status do que para a comunicação, parecendo que estão numa competição.

De qualquer forma a Reforma não seria fácil nem hoje nem nunca. Assim as pessoas que em 1911 estavam acostumadas a escrever farmácia com “ph” de um dia para o outro estavam escrevendo errado. Que o diga Fernando Pessoa, que se rebelou e negou-se a mudar sua ortografia. Hoje eu posso compreender melhor aquela resistência: Tem coisas que são mais fortes do que a gente: Vocês não fazem idéia da luta que é escrever idéia sem o assento. Estou quase desistindo. Lembro daquele velho deitado, digo velho ditado “Cachorro velho não aprende truque novo” (John Fitzherbert em 1.523). Se não por motivos estéticos ou de discussão conceitual, mas pelo simples motivo de estar acostumado com a palavra grafada com acento estou quase desistindo. Sabe aquela frase: “Aceita que dói menos!”, pois acho que não tem remédio - esta será minha farmácia com "ph" - Phernando Pessoa me entenderia.