Acentuação gráfica: lição para crianças
Estou crendo que vocês já tenham noções de tonicidade (oxítona, paroxítona e proparoxítona) e vou passar-lhes algumas informações sobre a importância de acentuarem as palavras e sobre a lógica como foram estabelecidas as regras.
É preciso que vocês saibam, inicialmente, que o acento gráfico nos ajuda (e muito!) na leitura das palavras. Eu diria para vocês que o princípio básico que norteia a acentuação é exatamente diferenciar as palavras.
Quando digo diferenciar, refiro-me, também, à possibilidade de lermos as palavras corretamente, não produzindo, portanto, palavras inexistentes na coleção da língua. Por exemplo, se eu leio ‘rubrica’, como proparoxítona, estou inventando uma palavra, pois a pronúncia recomendada é como paroxítona. Nesse caso, a ausência do acento é que vai indicar, para nós, a pronúncia. Volto ao assunto, daqui a pouco. Calmem-se!
Vamos, inicialmente, à ideia de diferenciação que norteia as regras. Vou produzir abaixo vários exemplos com palavras diferentes na pronúncia, mas que se diferenciam apenas pelo acento gráfico. Vejam como, sem a acentuação, correríamos o risco de pronunciar erradamente:
1. Carlos sempre amara os pais e certamente amará muito os seus filhos.
2. É incrível como ele teve a coragem de fazer aquela ofensa na tevê.
3. No açougue da vizinhança, a carne pode ser comprada no carnê.
4. O camelô nunca tinha visto um camelo de perto.
5. Quando ele prega que todos se amem, a assembleia diz amém.
6. Os caquis estavam em um dos bolsos da blusa cáqui.
7. Os dicionários registram as pronúncias xérox e xerox.
8. O policial precisou revolver a terra para encontrar o revólver.
9. Transito por uma avenida onde o trânsito é intenso.
10. Nesta fábrica se fabrica o mais delicioso dos chocolates.
De vez em quando, a gente pensa algo assim: melhor seria não acentuar palavra nenhuma... Veja que é uma proposta um tanto quanto inocente, pois perderíamos referências de pronúncia. Como saberíamos, na frase 4, por exemplo, que falamos inicialmente de um camelô e não de um camelo, caso não houvesse acento? Viram? Teríamos que, primeiramente, ensaiar a pronúncia da frase... Concordam?
Primeiro, portanto, é preciso que se conscientizem de que acentuar as palavras é algo importante, como mostrei pelos exemplos anteriores.
Depois, ao estudarem as regras nos livros, é importante perceber que os legisladores da escrita foram muito felizes. Vou dar algumas explicações a seguir.
Sabem por que se acentuam todas as proparoxítonas? É porque elas constituem a minoria das palavras em português. As paroxítonas são a maioria; portanto, se acentuássemos todas, o texto ficaria sobrecarregado de sinais gráficos.
Observem, também, que não acentuamos palavras de diferentes tonicidades, mas com a mesma terminação. Vejam...
Se a terminação a é motivo para acentuarmos as oxítonas, também será motivo para não acentuarmos as paroxítonas (ex.: amará e amara).
Se a terminação em é motivo para acentuarmos as oxítonas, também será motivo para não acentuarmos as paroxítonas (ex.: amém e amem).
Se a terminação ens é motivo para acentuarmos as oxítonas, também será motivo para não acentuarmos as paroxítonos (ex.: armazéns; hifens).
Se a terminação um é motivo para acentuarmos as paroxítonas, também será motivo para não acentuarmos as oxítonas (ex.: álbum; algum).
Como veem, há uma lógica: onde a oxítona é acentuada, a paroxítona não é acentuada; onde a paroxítona é acentuada, a oxítona não é.
Para finalizar, voltemos à palavra ‘rubrica’, que deve ser lida como paroxítona, pois se fosse proparoxítona seria acentuada e, se fosse oxítona, seria também acentuada porque termina em ‘a’. Como veem, o acento gráfico – presente ou ausente – é indicativo da correta pronúncia das palavras.
Concluímos com uma singela quadra para reforçar o que dissemos:
Se já sei acentuar,
Correto vou ler também.
Eu não vou me complicar:
Vejo ‘amem’; não leio ‘amém’.
Até a próxima!