FIGURAS DE LINGUAGEM - O PLEONASMO
Língua Portuguesa
Figuras de Linguagem
PLEONASMO
Lembrando aqui aquele personagem da TV, cujo nome era Saraiva, interpretado por Ary Leite e, mais tarde, por Francisco Milani e que deixou de existir depois da morte do segundo em 2005, e, na sua encenação, uma das coisas que o irritava profundamente era alguém falar pleonasmo ou perguntas de respostas óbvias. Entrava então em crise de nervos e o outro ator contracenando lhe pedia que acalmasse abanando-o. Passando a crise lhe perguntava: "Tá calminho agora?" e ele respondia "Agora tô".
O mais comum no personagem Saraiva, era que toda vez que faziam uma pergunta cuja resposta seria obvia, ele sempre reagia muito nervoso, e dizia assim: “Pergunta idiota! Resposta idiota! Tolerância zero!”. Da mesma forma, a pessoa que contracenava com ele sempre dizia: Calma, Saraiva! Calma, Saraiva! Ta calminho agora? E ele respondia: Agora tô.
Eram cenas muito engraçadas, as pessoas faziam as seguintes perguntas, para o seu Saraiva:
1) Quando você leva um aparelho eletrônico para a manutenção e o técnico pergunta: - Tá com defeito? Reposta: - Não! É que ele estava cansado de ficar em casa e eu o trouxe para passear.
2) Quando está chovendo e percebem que você vai encarar a chuva, perguntam: - Vai sair "nessa" chuva? Resposta: - Não! Vou sair na próxima!
3) Seu amigo liga para sua casa e pergunta: - Onde você está? Reposta: - No Pólo Norte! Um furacão levou a minha casa pra lá!
Mas, hoje eu gostaria mesmo é de comentar um pouquinho sobre essa interessante “Figura de Linguagem”, o pleonasmo, o qual, em conversas costuma me ferir os ouvidos ou lacrimejar quando as leio nos textos, principalmente nos tempos atuais, onde o cuidado com a "última flor do Lácio, inculta e bela" (Olavo Bilac), é por certo também a última preocupação dos que urgem pela veloz comunicação nos sites de relacionamento.
Não quero aqui com minha chatice, tecer críticas mas sim, alertar que existe sim uma língua culta que deve ser conhecida, até mesmo para que dê a liberdade de cometer os erros corriqueiros, que até os "aplicativos" dos aparelhos de telefones modernos estão buscando contribuir nas correções.
Dirão os que a conhecem, que se admiram de seus erros propositais. Já àqueles que visivelmente falta-lhes essa base, não há remédio que não a paciência e dó: são mesmo vítimas do nosso péssimo sistema de ensino, o qual, ao invés de intensificar a preocupação com nosso vernáculo, buscar alimentar mais erros ao inseri-los nos livros como desvios e aceitá-los como natural. Bom, vamos lá...
Pleonasmo é a repetição de termos supérfluos, evidentes ou inúteis na frase. À exceção dos pleonasmos estilísticos, e assim mesmo apenas em casos especiais, evite os que comprometem o texto.
Vamos classifica-los em três tipos comuns encontrados (Vicioso, de Ideia e o Estilístico), cujos exemplos bem os caracterizam, dispensando maiores comentários:
1) Vicioso
Acabamento Final
Agora já
Ainda...mais (ainda deverá demorar mais dez dias)
Almirante da Marinha
Alocução breve (é breve por definição)
Brigadeiro da Aeronáutica
Conclusão final (a menos que tenham existido outras parciais)
Continuar ainda
Conviver junto
Criar novos
Descer para baixo
Elo de ligação (Elo já significa ligação)
Encarar de frente (use, por exemplo, encarar firmemente)
Enfrentar de frente
Entrar dentro (ou para dentro)
Erário público
Estrelas do céu
Exultar de alegria
Ganhar grátis
General do Exército
Goteira no teto (difícil goteira de baixo para cima)
Há... atrás (use tantos anos ou tantos anos atrás)
Habitat natural
Inaugurar de novo
já... mais (use já não há e nunca “já não há mais”)
Labaredas de fogo
Manter o mesmo (pode-se manter outro?)
Manter o seu
Monopólio exclusivo
Países do mundo
Pequenos detalhes
Permanece ainda
Planos para o futuro
Prefeitura municipal
Regra geral
Relações bilaterais entre os dois países
Repetir de novo (a menos que se repita pela segunda vez)
Sair fora ou para fora
Sorriso nos lábios
Sua autobiografia
Subir para cima
Surpresa inesperada
Todos foram unânimes
Vereadores da Câmara Municipal
Viúva do falecido
2) De ideia
Há pleonasmos velados, menos graves, mas igualmente evitáveis, como nas frases:
“Campinas restaura velho casarão”
“Recuperação do velho Parque D. Pedro começa este mês”
“Navratilova volta ao tênis”
A palavra “velho” nas duas primeiras frases, é supérflua: para serem restaurados, ou recuperados, nem o casarão ou o parque podem ser novos. E, finalmente, Navratilova voltaria a jogar que esporte senão o tênis? (Opções: Navratilova volta a jogar, Navratilova volta à atividade ou Navratilova volta à Wimbledon).
3) Estilístico
É o pleonasmo literário, para dar força ou ênfase à expressão, exemplos:
“Rir um riso amarelo”
“Sonhar um sonho”
“Ver com os próprios olhos”
“Andar com as próprias pernas”
Só devem ser usados em textos especiais.
Espero ter contribuído um pouco para preservar nosso tão massacrado idioma...
Créditos ao “Manual de Redação e Estilo”, de Eduardo Martins, publicado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, ao qual me recorro em momentos de dúvidas...
Marco Antonio Pereira
São Paulo, 08/10/2016