GRAMATICANDO
Gramaticando
A língua falada ou escrita é e será sempre o veiculo de comunicação entre os humanos. Permeando nossas vidas, mediando nossas relações; seu estudo ainda terá um longo caminho a percorrer.
Pode-se dizer que por entre as veredas desse caminhar, o conceito de gramática remonta a antiguidade e ainda hoje é alvo de múltiplas interpretações e diferenciações.
Tais distinções, e as muitas concepções filosóficas, nos permitem destacar o conceito de gramática prescritiva como um manual com regras de bom uso da língua, isto é, um compêndio com normas para falar e escrever corretamente; a essa gramática pode-se chamar normativa.
Tais normas; necessárias a língua, são responsáveis em manter sua unidade, nesse caso, a língua escrita.
No contexto da língua escrita ou falada, pode-se admitir em seu estudo o conjunto de regras, em que o cientista encontra nos dados que analisa a luz de determinada teoria e método, o que chamaremos gramática descritiva.
Tal consideração nos permite afirmar também que tudo é gramatical, e que, a noção de errado é substituída pela noção de diferenças.
Certo ou errado, ou mesmo diferenças, são contextos de estudo das línguas, e ainda há uma concepção que admite a língua como algo interno ao falante e de fundamental importância para suas relações.
Nessa última concepção, diz que ao nascer, o indivíduo trás uma competência intrínseca, isto é, competência internalizada que ganha maturidade decorrente do desenvolvimento de suas próprias atividades linguísticas. A esse pensamento chama-se gramática internalizada.
Acima temos algumas concepções filosóficas conceituais de gramática, e ainda muito se pode falar desses conceitos, e do polêmico ensino de gramática nas escolas.
Mas, diante de tantas controvérsias a esse respeito, permitam-me falar assim...
A gramática surgiu na Grécia no século VaC, como um apêndice da lógica.
Durante o império alexandrino, a língua grega tornou-se comum a todas as regiões subjugadas. Os gregos não se interessavam pela língua dos povos conquistados. Sua língua era estudada sob perspectiva estilística e filosófica.
As discussões centravam-se nas relações naturais e arbitrarias; natureza da linguagem; analogia e anomalia dos fenômenos linguísticos. Os estudos gramaticais eram caracterizados por três períodos distintos: Sócrates, Platão e Aristóteles; período dos Estóicos e Alexandrinos.
No Crátilo , Platão trata a origem da língua e defende a teoria da exatidão natural das palavras. Já Aristóteles foi partidário da tese convencional da linguagem e da relação arbitraria entre palavra e significado.
Os estóicos reconheceram à linguística como um ramo autônomo da filosofia; a língua é a expressão do pensamento, a chave para entender a mente humana.
Os estudiosos alexandrinos consideraram o estudo linguístico como parte do estudo literário. Eram pragmáticos e empiristas.
Dionísio da Trácia, século II aC, foi o verdadeiro organizador da arte da gramática. Para ele, gramática, conhecimento prático de uso da língua pelos poetas e escritores de prosa.
A gramática de Dionísio dava ênfase à flexão das palavras e pouca atenção era dispensada a sintaxe.
O estudo dos Alexandrinos marcou o período helênico; a identificação das oito classes de palavras e o reconhecimento de categorias a elas relacionadas serviu de modelo para o estudo de outras línguas.
Apolônio Díscolo, gramático alexandrino, foi que formulou a primeira teoria sintática ao estudar a língua grega.
Os filósofos não fizeram “gramática”, apenas criaram doutrinas, já que seus estudos não foram desenvolvidos de maneira autônoma e sistemática. Em suma:
- na filosofia grega: grammatiké é um regulador de dependência mutua dos elementos linguísticos.
- na cultura helenística: grammatiké é um concernente de um determinado uso da língua, num dado momento de sua historia.
Assim, todo estudo que tem por base e principio estabelecer relações atuais e harmônicas entre seus elementos, é de grande valia.
Numa visão historiográfica, pode-se conceber a dedicação e esforço dos estudiosos no propósito de compreender todos os mecanismos de evolução das línguas e suas relações com os seres humanos.
Compete a nós, prosseguir na tarefa de compreender mais e melhor os mecanismos de nossa língua, com o propósito de torná-la clara, objetiva e dinâmica em todos os seus aspectos de comunicativos.
Assim, toda comunicação demanda termos novos quando assim se exige, e tais termos, criam certa imposição quanto ao valor que assume no contexto em que estão inserido.
Normalmente, o conceituamos quando nos vimos impossibilitados; seja por terminologias que faculte a nós, clareza e objetividade no que desejamos exprimir ao expor uma realidade sempre subjetiva aos termos criados.
Assim, antes, e perante nós mesmos, se faz necessário aplicar às atualidades e necessidades prementes de nossa estrutura linguística um axioma; percebendo as realidades perenes em que se insere a língua, frente a transitoriedade do modismo dialetal.
Diz-se que no início era o verbo; e o verbo materializou a vontade, e esta, a realidade impressa na vivência humana.
Percebe-se dessa forma que a língua identifica o homem; individualizando-o em suas relações com as múltiplas sociedades.
A gramática duma língua, no seus variados aspectos integraliza o falante, ao mesmo tempo em que historifica sua estrutura social.
Se há divergências especulativas quanto a este ou aquele processo no uso/estudo desta ou doutra gramática, importante é que se verifiquem a coexistência dos objetivos pesquisados em favor da língua.
Numa visão sistemática, pode-se exemplificar dizendo que ao sistema solar incidem as leis físicas naturais que o mantém consonante com o universo. Cada elemento constituinte do conjunto descreve seu papel de forma harmoniosa na assimilação de leis próprias a ele.
Soma-se a isso, a individualidade de cada elemento, com regras convenientes que regem as condições intrínsecas a cada integrante desse sistema.
É certo que, num mundo em constante crescimento e mudanças temporais ao sabor da luz, conduz-nos a necessidades diversas e variáveis. A essas mudanças, a linguagem expressa seu dinamismo, e, em obediência ao processo natural, atualiza a língua na unidade da fala.
Se o sistema solar necessita de leis naturais que o mantém em harmonia na simetria do universo, por que nós, mortais, desejamos desestabilizar a harmonia de nossa língua?
O homem em seu convívio social necessita de leis e regras na condução de suas relações. A língua para ser ensinada necessita de formatação para ser conduzida e, normatizada para ter unidade. A multiplicidade de falares será sempre um fenômeno e não uma regra.
Por esse motivo servirá seu objetivo principal; incorporar no processo de transformação da língua os elementos das variações dialetais que se fizerem necessários às transformações das sociedades.
As gramáticas, reservado seus direitos individuais, tem lugar próprio e específico a cada fim a qual esta definida. Retratando a língua em seu valor histórico, descrevendo sua evolução no espaço e tempo, formatando e normatizando; todas de igual importância são elementos constitutivos de nossas necessidades linguísticas.
Discutir a importância desta ou doutra gramática estabelecendo hierarquia quanto a sua validade ou importância é contraproducente. Afirma-nos Mattoso Câmara.
Devemos antes, discutir de que maneira podemos contribuir para torná-las mais práticas, funcionais, integradas na realidade de nossas necessidades e adequadas às variações e transformações incontestes de nossa flor do Lácio.