NÃO À C O L O N I Z A Ç Ã O LINGUÍSTICA
Em plena Independência, ainda pensamos que Angola, linguisticamente falando, é colónia de Portugal. É isso que se tem dado a entender. Sim, porque as diferentes formas de falar do Português Angolano (PA) são encaradas como subversão das normas do Português Europeu (PE), quando, a nosso ver, tinham de ser encardas como características de identidade nacional. Os dogmas da gramática do português de Portugal depreciam e estigmatizam os usos linguísticos caracteristicamente angolanos como se fossem "verdadeiros" aleijões gramaticais. Por que tentar VESTIR a nossa língua com uma "camisa-de-força" modelada e costurada há cerca de 41anos? Não seria a hora de AFUGENTAR para sempre o fantasma colonial? É necessário que haja uma D E S C O L O N I Z A Ç Ã O linguística!
As diferentes formas de falar do PA, tidas e havidas como subversão das normas do PE, trata-se, para os puristas, de ignorância e falta de escolarização por parte dos falantes locais. Nas duas primeiras, deveríamos convencer os ‘falsos puristas’, por exemplo, de que os plurais de "para que se possa perceber as variações linguísticas é fundamental entender o contexto dos falantes e sua história, pois são os factores históricos que determinam essas variações".
Dizer “bidom”, “pilanta” ou “pranta”, “conterrano”, “via de alho”, “endender”, “terá”, etc., não constitui praticamente erro, pois, para alguns sociolinguistas, e chamamos aqui o brasileiro Marcos Bagno, é possível uma explicação coerente atinente às palavras acima e que o rotacismo, por exemplo em ENDENDER, PRANTA ou PILANTA, é o responsável por inúmeros fenómenos linguísticos semelhantes ao que destaquei em maiúsculas.
Quanto aos outros elementos, é impossível que sejam vistos como “erros”, pois a língua nunca será a mesma em todos países de língua portuguesa e que é bastante normal a existência desses falares diferentes ao nível fonológico, semântico, morfológico e lexical. O que se deve ter em nota, pelo menos, são alguns falares diferentes e não propriamente erros. Assim, não se deve estigmatizar e depreciar certas realizações linguísticas utilizadas nas 18 províncias de Angola. Se notarem, o falar de Luanda é diferente do falar do Cunene, pois nota-se inúmeras discrepâncias fonológicas, lexicais e semânticas nessas duas parcelas do território nacional.
Apesar de certos estudiosos não reconhecer/em as outras variedades linguísticas oriundas do português padrão e não admitir que o suposto português padrão seja, também, uma das inúmeras variantes que, até certo ponto, deriva do uso do português, a nossa amante, língua portuguesa, por intermédio desses fenómenos linguísticos, está - e sempre estará - em constantes evoluções e rotações, pois, assim sendo, a introdução de certos léxicos oriundos das línguas africanas de Angola conferem-lhe, deste modo, uma outra imagem e um toque que, por sua vez, tornam-na assaz diferente e com uma característica própria.
A variante do português angolano está muito patente no linguajar popular e na literatura, mas no ensino predomina a norma de Portugal. Aí, a variante angolana é combatida e tida como erro…