Dicas para uma boa redação
Quantas vezes você já ouviu uma pessoa dizer: “não foi isso que eu escrevi”, ou: “você entendeu errado o que eu disse”? Neste texto vamos tentar pelo menos diminuir, escrevendo, esses equívocos.
O que apresentamos aqui não é uma fórmula única, existem N meios pelos quais você pode escrever e se fazer entendido. Estas dicas são apenas um dos caminhos. Vamos a elas:
As fontes
Quando você tiver um tema para redigir, antes procure ler dois textos que falem sobre o assunto, um a favor e outro contra. Não pulverize sua redação com muitas ideias, para você mesmo não se perder nelas.
Leia os dois textos e procure entendê-los, busque o significado de palavras desconhecidas.
Leia como se o tema fizesse parte da sua profissão e seu salário dependesse do seu entendimento sobre ele.
Depois de ler os dois textos, comece a fazer uma comparação entre eles e tire suas próprias conclusões.
Quando tiver compreendido tudo, comece a escrever o que você entendeu sobre os textos, para formar a sua própria ideia. Com certeza você vai tender a um lado e criticar outro. Essa tendência e crítica é o desfecho do seu texto.
A introdução será mais ou menos assim:
"Existem dois pensamentos importantes sobre o blá-blá-blá". Uma vertente defende que blá-blá-blá é bom para o Brasil", e outros estudiosos defendem que isso pode ter sérios efeitos colaterais sociais".
O desenvolvimento poderá ser escrito em dois parágrafos, cada um explicando um pensamento ou comparando um pensamento com outro. Por exemplo:
"A vertente que defende o blá-blá-blá na sociedade brasileira afirma que em outros países o sistema já é vivenciado há décadas e tem tido ótimos resultados, como um crescimento no desenvolvimento social.
Os estudiosos que não aceitam a implantação desse sistema afirmam ser o blá-blá-bla algo que só teve bons resultados porque nos países onde é exercido não há a corrupção e a falta de educação como no Brasil."
A conclusão é sua opinião sobre o que você concorda: ou você é contra ou é a favor, baseando seus argumentos no texto que você achou mais de acordo com suas ideias.
Não sabe como concluir um texto?
Treine sua conclusão por este ângulo: não há apenas um comportamento ou uma única reação a respeito de tudo. Hoje em dia tudo é questionável e quase tudo já foi questionado.
Sempre alguém tem uma justificativa para algo, ou contesta uma justificativa. Sempre alguém é a favor o contra determinada situação. Até mesmo você pode ter uma justificativa para defender algo que outras pessoas não defendem.
Assim, leia, de preferência, duas opiniões opostas a respeito do seu assunto, para conhecer os dois lados, os "prós" e os "contras". Você, com certeza, vai tender a um lado. Essa tendência é a sua conclusão. Escreva-a.
OBS.: Esta não é a única maneira de concluir um texto, é apenas UMA DELAS. Mas, como treino, serve a dica.
Coerência, conectivos, termos de ligação e coesão
1. Coerência é um conjunto de informações que confirmam, negam ou esclarecem um argumento. A coerência deixa seu texto com sentido, o leitor entende o que leu. Sem coerência, seus textos não passam de um amontoado de palavras jogadas no papel, ou na tela do computador. O problema é que, na cabeça de alguns autores de redações, o texto já esclareceu tudo o que se pensou. Não há preocupação em se dar detalhes nem encadeamento, pois se pensa que o leitor vai entender o que se passa na mente de quem escreveu.
2. Conectivos são as conjunções (e, nem, não só… mas também, não só… como também, porém, mas, etc.).
3. "Frases de ligação" foi um termo que eu mesmo criei para entender mais fácil algumas passagens entre um pensamento e outro. Você não vai encontrar esse termo nos livros de gramática. São as frases que servem como "ponte" entre as informações. Elas se juntam ao conectivo para evitar aquela sensação de, no meio de uma leitura fluída, aparecer uma informação na qual você parece esbarrar em um muro e pergunta "onde e por que isso entrou na história?". Ou seja, as frases de ligação servem para fundamentar a informação seguinte e que esta não apareça de forma inesperada. Elas dão sentido e ritmo ao texto, para o leitor entender que uma informação complementa a outra de forma esclarecedora, fazendo o texto parecer deslizar diante dos seus olhos, de modo a ser bem entendido, ou seja, o texto fica coerente.
Veja este exemplo:
a) Sem conectivos e frases de ligação (quando o autor pensa que o leitor já sabe de tudo):
"Os economistas afirmam que os administradores do dinheiro público estão fazendo um mal serviço. Isso é consequência dos anteriores."
b) Com conectivos e frase de ligação:
"Os economistas afirmam que os administradores do dinheiro público estão fazendo um mal serviço, mas (conectivo), a pesquisa do estudioso político Fulano de Tal mostra que (frase de ligação), essa má administração é apenas uma consequência das anteriores, que já desviavam as verbas (esta última frase explica e dá reforço à informação).
Obs.: Às vezes, é necessário que uma frase de ligação seja maior que sua informação principal, para dar coerência e coesão ao texto.
4. Coesão é o uso gramatical correto entre as informações, os conectivos e termos de ligação. As palavras são combinadas ou modificadas para que as pessoas possam se comunicar com facilidade e precisão.
Agora veja essa análise de um texto simples, que pode ser enxertado de informações importantes, sem usar a famosa “encheção” de linguiça:
a) O texto com frases soltas sem conectivos e frases de ligação:
Título: Problemas econômicos na Amazônia
Introdução: A Amazônia é sempre evidenciada mundialmente quando se fala em desmatamento. As enchentes e as vazantes causam muitos problemas. O quilo da farinha custa oito reais.
Análise sobre o título e a introdução:
a) O título não delimita um único problema, então, pode haver mais de um descrito durante o texto.
b) Um avaliador exigente iria perguntar: o que tem a ver o desmatamento com as cheias e vazantes? E que conclusão é essa com a farinha?
Na mente do autor talvez as informações já estejam interligadas e completas, as coisas já estão relacionadas, ele sabe que suas frases soltas fazem sentido (para ele), porque já conhece toda a situação. Mas, traduzir essas informações em um texto requer conectivos para esclarecer, para haver coerência.
C) Veja agora o texto com as informações necessárias para se tornar mais rico e compreensível (conectivos entre parênteses e frases de ligação entre colchetes):
Problemas econômicos na Amazônia
A Amazônia é sempre evidenciada mundialmente quando se fala em desmatamento, [geralmente associado aos lucros das empresas, que deixam a maioria da população em condições econômicas desfavoráveis]. (Porém), [as consequências do desmatamento não são o único problema econômico enfrentado pelos moradores da região] as enchentes e as vazantes causam muitos problemas, são fenômenos naturais preocupantes que acarretam consequências tão agravantes quanto o desmatamento, (pois) influenciam dramaticamente no bolso do consumidor. Na época da cheia, (por exemplo) [grande parte da produção de farinha, alimento dos mais abundantes, se perde, e] o quilo da farinha chega a custar oito reais. Esse preço é considerado um absurdo pelos moradores da região".
Analisando o texto
Primeira informação:
"A Amazônia é sempre evidenciada mundialmente quando se fala em desmatamento."
Desenvolvemos a primeira informação com explicações que mais adiante vão culminar nas enchentes e vazantes. Para isso, veja a primeira frase de ligação: “geralmente associado aos lucros das empresas, que deixam a maioria da população em condições econômicas desfavoráveis”, e a frase "Porém (conectivo) as consequências do desmatamento não são o único problema econômico enfrentado pelos moradores da região".
Segunda informação:
"As enchentes e as vazantes são fenômenos naturais preocupantes."
Frase de ligação que relaciona as enchentes e vazantes ao desmatamento:
"que acarretam consequências tão agravantes quanto o desmatamento",
Frase de ligação entre a segunda informação e a conclusão:
"pois influenciam dramaticamente no bolso do consumidor."
A conclusão, que não foge ao tema da economia, é o exemplo do aumento do preço da farinha, cuja produção é prejudicada pela enchente (viu como uma ideia se liga à outra?):
"Na época da cheia, por exemplo, grande parte da produção de farinha, alimento dos mais abundantes, se perde, e o quilo da farinha chega a custar oito reais. Esse preço é considerado um absurdo pelos moradores da região".
Vejam como ficou o esquema:
DESMATAMENTO => AFETA ECONOMIA => ALÉM DO DESMATAMENTO, A CHEIA E VAZANTE TAMBÉM AFETAM A ECONOMIA => CONCLUSÃO: PREJUÍZO DA PRODUÇÃO E AUMENTO DE PREÇOS DE ALIMENTOS.
Boa sorte.
Professor Eduardo de Castro Gomes