Por que por trás? - teoria
Embora esteja em forma de soneto (e já apresentado aqui no Recanto), o texto foi feito, há quase 2 anos, para apresentar graficamente as diferenças entre "trás" e "traz" e entre "porque", "porquê", "por que" e "por quê". E por isso eu o apresento aqui para ilustrar a teoria literária.
Não sei por que se traz, se vem de trás.
Talvez porque o que se traz por trás
lá não esteja. E por que saber
se é porque assim que tem de ser?
Mas o porquê da dúvida cruel
ainda existe e eu não sei por quê.
Por que razão, não sei. Será porque
é mesmo o som? Por que se clama ao céu
se lá por trás do que o pedido traz
é um não-sei-por-quê que não entendo?
Ora porque... bem... eu não sei por quê.
Por trás do que se traz, se é que se traz,
é mais complexo o mundo, é mais tremendo,
e eu não sei por quê. Será porque...?
Do verbo trazer (do latim tragere = conduzir para cá) conjuga-se: trago, trazes, traz... Portanto, com "z". Já trás (preposição ou advérbio) é forma reduzida de trans = "para além de", "depois de", "a parte posterior". Portanto, escreve-se com "s". Ele e seus derivados: traseiro, atrás.
"Porque" (para muitos, está ligado a resposta, embora nem sempre assim o seja). Está sempre antecedendo uma causa. Se eu sei qual a causa para uma determinada situação, eu a informo antecedida de "porque".
"Porquê" é o "porque" substantivado. Ele é "a causa". Sempre é precedido do artigo "o".
"Por que" sempre antecede uma conseqüência. Se o que eu sei é uma conseqüência de algo, eu a antecedo de "por que". Se esta conseqüência está implícita e, portanto, oculta, a oração termina com "por quê" acentuado.
Assim: Por que (conseqüência) - Porque (causa).
Como nós sempre estamos procurando a causa de uma conseqüência, foi mais fácil ligar "por que" a pergunta e "porque" a resposta. Mas não é sempre assim. E o soneto acima mostra várias dessas ocasiões.