O NÃO SUB JUDICE
O NÃO SUB JUDICE
Haurindo o sabor amargo da seiva verdejante, a prosa corria frouxa, reverenciando postulados farroupilhas, Setembro, dezenove, Porto Alegre, residência dos amigos Benildo e Naira Neutzling. A professora Magda Sievert concentrara-se num artigo do jurista e ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, publicado na Zero Hora, “O NÃO E O ZERO”.
A docente mostrou-se intrigada com as afirmações da insigne autoridade. Chamou-nos a refletir, julgando não ter assimilado corretamente.
Leia-se: “O “não” da lógica equivale ao “zero” da matemática. Ambos são imprescindíveis. Tanto um quanto o outro consomem seu objeto. Uma narração precedida do “não” desaparece, ou seja, a narração passa a ser uma afirmação de não ocorrência.
Não há o que denegar. Se afirmarmos: José não colaborou com a campanha assistencial, embora fosse o desejo de todos. (deveria ter colaborado, lastima-se a omissão). José não participou do tumulto, embora afirmem tê-lo visto. (ainda bem que não participou). Percebe-se que o ‘não’ pela afirmação da não ocorrência, caracteriza as sentenças de formas distintas.
Segue-se o artigo: “De forma similar, qualquer número que for dividido por zero tem como resultado zero. (Ao dividir 10 por 2, o resultado é 5, sempre haverá um número positivo.) O ‘zero’ se comporta mal: reduz qualquer número a si mesmo, ou seja, nada. O ‘não’ também se comporta mal: impede soluções e não constrói o futuro.”
Parece-nos que as assertivas do ínclito pensador ferem postulados matemáticos. Vejamos: caso a afirmação fosse verdadeira teríamos: (10:0 = 0, logo 0x0=10, o que não é verdadeiro) ou (10:0 =10, logo 10x0 = 10, o que também não é verdadeiro). Desta forma, comprova-se a inexistência de qualquer divisão por 0 (zero).
Quanto ao mau comportamento do 0 (zero), em se considerando soma, teremos, por exemplo: (10 + 0 = 10, o número não foi ‘reduzido’ a zero.) Ainda, no caso da subtração: (10 – 0 = 10, o número também não é reduzido a zero.) ; na potenciação tem-se: (10o = 1, pois todo número elevado a zero é igual a 1 (um), uma vez que: 102: 102 = 102-2 = 100 = 1 ; nota-se que 102 = 100 ,então: 100: 100 = 1 ) o que atesta a regra do expoente zero.
Referendado no site somatematica – encontraremos ilações quanto à divisão por zero resultar em um número infinito: Imagine uma cesta com 8 (oito) maçãs. Se cada pessoa pegar quatro maçãs, quantas pessoas tirarão quatro maçãs da cesta? A resposta é duas. Mas, e se cada pessoa não tirar nenhuma maçã, quantas poderão pegar as maçãs? Por isso que há a ideia do infinito, visto que infinitas pessoas poderiam "pegar nenhuma" maçã, e essas nunca acabariam. Porém, é um raciocínio incorreto, pois dessa forma infinitas pessoas jamais deixariam a cesta vazia.
Excluindo os deslizes, tão comuns também aos ministros, sua excelência merece crédito em suas divagações aristotélicas, se tomarmos como referência a multiplicação: (10 x 0 = 0), sendo desta forma o 10 reduzido a zero.
Ao aluno que não logrou acertos numa avaliação atribui-se, sem bonificações infundadas ou compensações de consolo, zero. O que é uma nota, ou melhor, é fruto da quantificação. Se o aluno deixar de comparecer, não terá nota, não poderá ter zero uma vez que não foi avaliado, pois nada fez. Sua nota fica reduzida a ‘nada’.
O mau comportamento do ‘não’ deve ser examinado em mais de um prisma. Atentemos: Não menos de 25 candidatos, dos 30 inscritos, lograram aprovação. (não = negativo, menos = negativo, contudo o resultado foi positivo.) Não menos do que 25 candidatos, dos 30 inscritos, valeram-se de recursos escusos. (não = negativo, menos = negativo, o resultado foi negativo.) Não mais existem focos de contaminação. (não = negativo, mais = positivo, resultado positivo) Não mais do que 10 alunos, de uma classe de 40, atingiram a média 5. (não = negativo, mais = positivo, resultado negativo.) Não mais, não menos do que 25 candidatos, dos 30 inscritos, lograram aprovação. (nem mais, nem menos, logo precisamente 25.)
A distância entre a linguagem escrita e a falada é imensurável. E não poderia ser de outra forma. Ao formalismo e à rigidez contrapõe-se a espontaneidade. Os preceitos gramaticais cedem lugar às formas idiomáticas e aos caprichos vocabulares. As expressões nativas exteriorizam, mesmo sujeitas a infrações, o patrimônio familiar de suas comunidades. A ausência de mecanismos e censores lógicos leva-nos a impropriedades que se agregam a deficiências gramaticais e linguísticas. Correntes defendem postulados da importância de comunicar-se e não de como fazê-lo. E assim vamos singrando
Desta sorte, fica-se a pensar na sentença propalada pelo aluno ao afirmar: “Não entendi nada.”, as duas negativas podem levar-nos a ter entendido tudo? Bem mais simples seria afirmar: “Nada entendi.” ou “Não entendi coisa alguma.” Teríamos, enfocando a lógica, a eliminação de uma das negativas. Afirma, iluminando-nos com um sorriso contagiante, nossa estimada amiga Naira: “Não divido nada com ninguém.”
Volta-se a perceber a presença de mais de um elemento negativo. Não dividir nada é dividir tudo? E com ninguém? Como dividir ‘nada’? À ótica do casto lusitanismo: “Divido nada (?) com alguém.” ou “Nada (?) divido com alguém.” Puritanismo demais!
Enquanto isso, nossos anfitriões dividem abraços e hospitalidade.
Jorge Moraes – jorgemoraes_pel@hotmail.com - setembro 2015