Pastos-bonense ou pastosbonense? E erros de livros também

O que você ainda não sabe.

O certo é “pastos-bonense” (com hífen), ainda que, até nos eventos solenes realizados na cidade de Pastos Bons, esse adjetivo esteja escrito assim: pastosbonense. Recentemente, algumas pessoas receberam o título de “cidadão pastosbonense”. A escrita está errada! Até o Word, no meu computador, estranha essa palavra assim. Vamos à explicação!!!

A “Moderna Gramática Portuguesa”, 37ª edição, ano 2009, do professor, gramático, dicionarista, acadêmico e representante brasileiro do novo Acordo Ortográfico Evanildo Bechara, no fim da página 97 e início da 98, registra claramente: “Serão hifenizados os adjetivos gentílicos (ou seja, adjetivos que se referem ao lugar onde se nasce) derivados de nomes geográficos compostos que contenham ou não elementos de ligação: belo-horizontino, mato-grossense-do-sul, juiz-forano...” Sendo assim, o certo é: pastos-bonense (a pessoa que nasceu em Pastos Bons ou pertence a esse município brasileiro, ou aquilo que é pertencente a Pastos Bons). Ora, sabemos que “pastos-bonense” é adjetivo gentílico derivado de nome geográfico composto. Por isso, o hífen é necessário! Nem adianta espernear!

Além disso, a edição atualizada e completa do “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, ano 2009, na página 1444, segunda coluna, registra: “pastos-bonense adj.2g. s.2g. (a1779) relativo a Pastos Bons MA ou o que é seu natural ou habitante. GRAM pl.: pastos-bonenses. ETIM top. Pastos Bon (s) + -ense”.

Quem tiver o “Novíssimo Aulete: dicionário contemporâneo da língua portuguesa”, 2011; um dicionário direcionado ao ensino e aprendizagem do “1º ao 3º ano do Ensino Médio”, veja, no final dessa obra, a seção “Gentílicos brasileiros”, com a “lista de gentílicos de todos os municípios brasileiros, com indicação do município ao qual cada um se refere”. Na página 1453, o consulente (a pessoa que faz a consulta, que busca a informação) encontra, na primeira coluna, exatamente assim: “pastos-bonense Pastos Bons (MA)”.

Ademais, o “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, ainda numa edição de 2004 (antes do novo Acordo entrar em vigor), grafia anterior, portanto, na página 1505, segunda coluna, registra exatamente assim: “pastos-bonense. Adj. 2g. 1. De, ou pertencente ou relativo a Pastos Bons (MA). S. 2g. 2. O natural ou habitante de Pastos Bons. [Pl.: pastos-bonenses.]”.

Talvez algum professor tenha visto, em algum livro, a grafia “pastosbonense” (o que é errado), e tenha saído ensinando a todo mundo assim. O erro então se difundiu. Uma dica: quem quiser escrever corretamente, não confie no VOLP, pois ele tem vários erros. Seus autores reconheceram muitos erros do VOLP. Da mesma forma, não confie em tudo que você vê num livro. Lembre-se de que ninguém sabe tudo. Vou provar a seguir!

O livro “Português: linguagens”, para o 2º ano do Ensino Médio, uma edição do ano 2013, PNLD 2015, da Editora Saraiva, enviado às escolas públicas brasileiras e escrito por William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, na página 53, diz que Gonçalves Dias era “filho de um português e de uma cafusa”. Onde está o erro? Não é na informação, mas na palavra “cafusa”. O certo é “uma cafuza” (com Z). Cafuzo é o mestiço de índio e negro. Dos 17 dicionários de Língua Portuguesa que eu tenho, 15 registram esse verbete. Os outros dois talvez não gostem dessa palavra. Nos 15 dicionários, a grafia é com Z: CAFUZO. Sua variante é CAFUZ. O livro acima mencionado diz ainda que, em Portugal, o Romantismo teve apenas dois momentos, duas gerações. Outro erro! Ora, a verdade é que o Romantismo em Portugal teve três momentos (três gerações). O livro supracitado diz que Júlio Dinis e João de Deus pertencem à segunda geração, quando, na verdade, esses autores pertencem à terceira geração do Romantismo português. Portanto, não confie em qualquer livro! Não confie em tudo o que você vê num livro! Aprenda a pesquisar! Procure uma gramática completa! Procure várias fontes! Seja um pesquisador! Quem ensina com apenas um livro não ensina bem; jamais será um bom professor.

Será que fui convincente?

Não importa de onde você venha; qual é a sua origem. Não importa onde você mora; qual é a sua importância social. O que importa é o que você é e o que você sabe e busca saber. O conhecimento não está na roupa que você usa, nem no seu aspecto físico. O conhecimento é fruto da inteligência, do estudo e da pesquisa. A inteligência é dada por Deus e aperfeiçoada pelo homem; o estudo e a pesquisa dependem do ser humano, sempre com a ajuda de Deus. Entretanto, eu sei que Marco Aurélio, o imperador-filósofo, estava e está certo: “Os homens não deixarão de fazer exatamente o que fazem, ainda que te arrebentes pregando o contrário” (Meditações). Eu, portanto, não tenho a vontade de mudar o mundo; quero apenas partilhar conhecimento verdadeiro e tornar-me verdadeiramente humano. Eis a minha missão!

ANEXO:

A “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”, 48ª edição, 2008, de Domingos Paschoal Cegalla, na página 82, é bem clara. Sobre o uso do hífen, ela registra: “Em adjetivos compostos: mato-grossense, rio-grandense, latino-americano...” Ora, sabemos que pastos-bonense é adjetivo composto. Por isso, o hífen é necessário!

Engraçado é que o VOLP 2009 registra “pasto-bonense”, sem o S final de “pastos”. Está errado! O plural também está sem a letra S final de pastos: "pasto-bonenses". Está errado! O singular certo é: pastos-bonense. O plural certo é este: pastos-bonenses.

O “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, ainda de 1986, na página 1280 (ipsis litteris): “pastos-bonense. Adj. 2g. 1. De, ou pertencente ou relativo a Pastos Bons (MA). S. 2g. 2. Natural ou habitante de Pastos Bons. [Pl.: pastos-bonenses.]”.

Portanto, a regra que determina essa escrita não é nova! Não é coisa do último Acordo Ortográfico. Este não mudou esse aspecto.

O “Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 2010, registra (ipsis litteris): “pastos-bonense Adj. 2g. 1. De, ou pertencente ou relativo a Pastos Bons (MA). S. 2g. 2. O natural ou habitante de Pastos Bons. [Pl.: pastos-bonenses.]”.

Que ou quem nasceu, nasce, mora ou pertence a Pastos Bons é pastos-bonense. O plural é: pastos-bonenses. Não esqueça: pastos-bonense é adjetivo e substantivo de dois gêneros.

Alguém IMAGINOU que o certo seria “pastosbonense”; disse que o certo seria isso; todos acreditaram.

Eu não perco nada quando alguém escreve pastosbonense, que é uma forma errada. Eu não ganho nada quando alguém escreve pastos-bonense, que é a forma correta.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 25/07/2015
Reeditado em 14/08/2015
Código do texto: T5323066
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