‘Amor ao Próximo - Língua Portuguesa & Educação’, o segundo livro de José Carlos de Almeida
Aproxima-se o lançamento do segundo livro do Prof. José Carlos de Almeida (JCA), cujo título é ‘Amor ao Próximo - Língua Portuguesa & Educação’. Até à data de lançamento, o autor tem publicado (na sua página do Facebook) alguns excertos da obra, com vista a termos uma ideia sobre o conteúdo.
Em termos de conteúdo, segundo JCA, “Amor ao Próximo é mais rico do que o Ensaboado & Enxaguado – Língua Portuguesa & Etiqueta. É um livro que, quando for editado, servirá de obra de apoio no processo de ensino. Será muito útil para os docentes que trabalham em regime de monodocência; será muito proveitoso para os jornalistas; os docentes, em geral; os estudantes, a vários níveis; e para as demais pessoas, que poderão estar interessadas no seu conteúdo”.
Depois de ler, no Facebook de JCA, uns instigantes excertos do livro supracitado, resolvi, como mero e eterno aprendiz da Língua Portuguesa (LP), expressar a minha humilde opinião acerca dos textos, sem nenhum objectivo, é claro, de causar polémica, mas tão-somente no intuito de contribuir.
JCA diz que a frase “Eu e a Marta” está gramaticalmente incorrecta (Ver publicação de 4 de Janeiro). Porém, em Português, pode dizer-se das duas maneiras.
Não se pode dizer que o enunciado “Eu e a Marta” esteja gramaticalmente incorrecta, senhor! A ordem dos factores é, do ponto de vista gramatical, arbitrária neste caso. O problema poderá ser de etiqueta, como também afirma, mas, no contexto, a estilística é dominante.
Por exemplo, no prefácio da 2.ª edição do livro ‘Bom Português’, Carla Trafaria afirma:
“Lembro-me, por exemplo, do dia em que fomos – EU e o repórter de imagem – para a estação de Entrecampos, em Lisboa. Do comboio das 08:00 sai gente apressada, pelo que a abordagem tem que ser simples”.
Ela diz “Eu e o repórter de imagem” e não “O repórter de imagem e eu”.
Está correcto, Sr. JCA. O autor estava a centralizar-se num evento a que assistiu. No relato, o narrador é autodiegético, e o ‘repórter de imagem’, uma figura secundária. Ora, numa sucessão, o elemento que a antecede é o mais importante. É espantoso saber que o senhor desconhece isso.
Sou acima de tudo tolerante nos pequenos desvios e nos arranjos estilísticos, mas intolerante nos erros grosseiros. Foi assim que fiz a minha reputação no ‘Recanto das Letras’, no qual a crítica tem sido muita de apreço e só esporadicamente de desacordo.
Em Português, é de boa educação e gramaticalmente mais correcto mencionar-se a si próprio em último lugar quando o pronome pessoal ‘eu’ fizer parte de um grupo de outros sujeitos. Assim, é melhor dizer “Os meus amigos e eu”, e não dizer “Eu e os meus amigos”. Também se pode dizer coisas como “André Mateus, José Luís Mendonça e eu somos amigos”. Portanto, lembre-se sempre disto: seja bem-educado e coloque-se sempre em último lugar.
Perdoem-me, mas tenho de denunciar os erros, equívocos e lacunas que trará o livro em causa, porque um manual didáctico, para mim e para boa parte de todos os angolanos, é coisa séria. Parece, no entanto, que, de uns tempos para cá, um pouco da indispensável seriedade das obras desapareceu.
Já publiquei algures (e vocês todos se lembram) o meu parecer sobre a sua primeira obra ‘Ensaboado & Enxaguado – Língua Portuguesa & Etiqueta’. No texto, baseado em obras de credibilidade, em gramáticos e dicionaristas respeitáveis, mostro que o livro tem ‘vítimas’ (em vez de leitores).
O autor de ‘Ensaboado’ não escreveu ao ‘CULTURA’, jornal angolano de Artes e Letras, a pedir para publicar uma refutação das minhas análises. Aliás, se quiser, pode fazê-la e mandar para mim; publico-a no meu espaço na próxima semana. Desde que fale de soluções ortográficas, da real designação da nossa selecção masculina de futebol, da distinção entre fralda e frauda, etc., que foi o que critiquei no seu trabalho. Ou do que vou criticar por hoje.
A 9 de Janeiro de 2015, JCA publicou, na sua página, mais trecho do livro ‘Amor ao Próximo’. No mesmo, condena o enunciado “Estou sem dinheiro” e recomenda “Não tenho dinheiro”.
“Estou sem dinheiro” é uma frase correctíssima. Penso que o docente universitário entendeu de modo diferente. A paciência, no entanto, é nossa, só nossa.
De acordo com JCA, deve-se dizer: “CENTRO DE HEMOTERAPIA” [‘sen.tru di emo.te.ra.PÍA]. A pronúncia [emo.te.´RÁ.pía] não é aceitável.
Imaginem: JCA a servir de padrão para o estabelecimento de novas pronúncias.
Peço licença... para corrigir: o ‘a’ que destacou costuma ser fechado, porque é átono na pronúncia-padrão de Portugal, JCA. A pronúncia de ‘hemoterapia’ é mesmo com ‘i’ tónico, como se esse ‘i’ tivesse acento. Não se aceita a pronúncia ‘hemoterápia’.
Para JCA, a pronúncia certa é [´kó.mu], e não [‘ku.mu]. Meu Deus! Aceita-se a pronúncia [kumu], embora a maioritária seja 'kómu’, meu irmão na língua e professor. A primeira diz respeito à Variedade do Português Falado em Angola (Cf. ‘Convergências’, de Maria Helena Miguel, pág…); a segunda está relacionada com o Português Europeu (Consulte ‘Gramática Prática do Português’, de Lídia Vieira e Leonor Sardinha).
A partir de agora, temos mais uma novidade: diz-se “Paga-me só um cartão de recarga”, e não “Paga-me só um saldo”. As duas são possíveis ou aceites, embora a segunda seja mais formal, senhor professor. Não se percebe o saldo fora de um cartão de crédito, recarga neste caso. Existe uma relação de implicação entre uma e outra coisas... é uma tendência natural, esta substituição lógica realística gramatical.
Ir contra o uso de qualquer destas formas é dar ‘murro em ponta de faca’.