SUFIXARIA: A INVASÃO


Atenção terráqueos, habitantes do Brasil, uma horda de naves alienígenas oriundas de confins extraterrestres invade em pesadas esquadrilhas o quotidiano do entendimento entre as pessoas. Sua estratégia é impor um novo modo de falar, causando confusão mental e o caos generalizado...
Em sua cidade já está acontecendo a terrível invasão? Algum de seus habitantes já foi afetado pela estratégia dominante do fenômeno? Fotografe e publique no Instagram, no Twiter e no Facebook com #revistalingua. Talvez tenhamos tempo de fazer algo ainda.


Idioma alienígena:
COMIDARIA – Você sabe o que é, ou apenas desconfia?
Pois é, esse tal labirinto diz oferecer substâncias animais e vegetais alimentícias para humanos.
Enquanto você espera os animais mortos e os vegetais serem preparados suas crianças ficarão em um receptáculo denominado BRINQUEDARIA .
Caso as crianças dos humanos não desejem ir para a COMIDARIA, podem
Preferir a HAMBURGUERIA, enquanto isso as mulheres podem aguardar o preparo dos alimentos na ESMALTERIA ou dar um trato nos cabelos na CABELARIA.
Há pessoas afeitas mais aos apipes do nordeste que adentram as TAPIOCARIAS, que estão se disseminando enormemente.
Eu por exemplo não sou muito afeito ás COCHINHARIAS salgadinho tradicional paulista, juntamente com o pão e manteiga na chapa, que agora se pode comer em uma PANEDARIA.
A garotada lota as VIDEOGAMERIAS dos shoppings, e nas sextas feiras as FEIJOADARIAS, com muito feijão preto, paio, costelinha, rabinho de porco, focinho e orelhas e claro, a couve, o arroz a linguiça e um ovo, muita farinha de mandioca e um a bela laranja baiana. - Está bom ou quer mais!?

É a invasão alienígena do comércio das cidades brasileiras, que levam ao extremo do extremo sua fama de criatividade. A maioria de bares e restaurantes, que chegam às raias do ridículo, tudo em nome do aumento das vendas ( que para quem está do lado de cá,da invencionice dalíngua , é lamentável e até triste). Os nomes mais sacados são os terminados em - aria ou – eria; peixaria, leiterias, queijarias - vão ficando: novelarias, torterias, torresmarias, linguiçarias, costelarias, frutarias... e por ai vai.
Essa gourmetização, com sua terminologia sofisticada e estrangeira,  espalhou-se lançando sufixos como estilhaços de granadas, lançando ridículas derivações inusitadas e das mais improváveis (nem que soem obscenas); “picanharia”, “nhoqueria”, “massaria”, “omeleteria”, “sakeria”, “cachaçaria”, “vinharia” , “risoteria” “sanduicheria” – outros serviços: “chinelaria” “bolseria”, “cabelaria” = salão de cortes de cabelo, “esmalteria” = pedicure, “paneteria” = padaria, “carneria” “noiveria” e como já dito, pasmem: videogameria; locadoria = de autos ou filmes e acreditem: “bolaria”= bolos, “frangaria”, “salgadaria”.
MAIS ALGUMAS ESTRANHESAS: “Saladaria” , “kiberia”, Hotdogueria, “Bolinharia”, “banqueteria” “floricultoria” “scooteria” = para entendidos em moto; uma estranhesa das brabas: “LIQUETERIA” = casa especializada em sucos; outra de lascar; PICOLETERIA – não bastava sorveteria?
Os comerciantes acreditam que com o uso dessas esdrúxulas nomenclaturas, irão aumentar seus lucros. Até lexicógrafos, linguistas e filólogos, começam a se dar conta da incidência dessa derivação ou tendência do comércio brasileiro. Uns talvez para causar mesmo estranheza e chamar clientes curiosos. Fica por conta dos etimologistas estudarem os fenômenos da língua e seu alcance, enquanto vamos ruminando os “cactos” com espinho e tudo.


 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 05/05/2015
Reeditado em 07/05/2015
Código do texto: T5231905
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