ÀS VEZES, A GRAMÁTICA ME SURPREENDE

Dentre muitos, há determinados conceitos com os quais não concordo e que estão presentes no ensino da Gramática da Língua Portuguesa. No decorrer deste texto, terei a oportunidade de mostrar algumas situações. Vejamos:

1 – Sobre os termos essenciais da oração – Sujeito e Predicado

Termos essenciais. Sem que o professor nada explique, a própria expressão já diz o que significa. Ora, se a palavra essencial, conforme o verbete a seguir, tem como um de seus significados a palavra indispensável, não posso concordar com a terminologia registrada pela Gramática.

Veja o verbete da palavra, extraído do dicionário Michaelis: “es.sen.ci.al adj m+f (lat essentiale) 1Relativo à essência; que constitui a essência. 2 Que constitui a parte necessária ou inerente de uma coisa; necessário, indispensável. 3 Característico; importante. Antôn (acepção 2): acessório. sm O ponto mais importante.” (grifo meu).

No decorrer da aula de Português, o professor explica aos seus alunos o que é sujeito, mostra como encontrá-lo e lhes passa todos os tipos de sujeito: simples, composto, desinencial, indeterminado. Não vou dizer que se deva incluir nessa relação o sujeito inexistente. Se não há sujeito, como vou classificar ou dar nome a algo que não existe? É oração sem sujeito e pronto. Explica, também, o que é o predicado, etc. etc. Nessa aula, ele presta todas as informações necessárias sobre os termos essenciais da oração.

Agora, para justificar o meu descontentamento, gostaria de lembrar a frase: “O ar é essencial para a vida”, ou seja, se faltar o ar, a vida não poderá existir. Como já foi dito, existem orações sem sujeito. Nem por isso a “frase-oração” deixa de existir sem a sua função principal, que é a de transmitir uma mensagem completa.

2 – Sobre transitividade verbal

Aprendemos que os verbos transitivos são aqueles que exigem complementos: objetos diretos ou indiretos. Sem os seus complementos, a “frase-oração” não será capaz de traduzir uma mensagem com sentido completo. Os verbos intransitivos não necessitam de complemento para que a “frase-oração” tenha sentido completo. Veja o exemplo: João vai a São Paulo. Sabe-se que o verbo ir (vai) é intransitivo. Vamos retirar o adjunto adverbial de lugar – a São Paulo. Ficará João vai. A oração não traduz um sentido completo. É necessária a presença do adjunto adverbial, que não é um complemento verbal, e sim, de acordo com a Gramática, um termo acessório.

Olhe bem. Antigamente a Gramática classificava sintaticamente o termo em destaque – a São Paulo – como sendo um complemento circunstancial de lugar. Concordo plenamente. Não posso compreender por que alguém resolveu mudar o nome. Se você mudar somente o nome ainda vá lá. Mas considerar que o verbo seja intransitivo, nesse caso, não acho de bom tamanho. Até hoje, julgo que a Gramática deveria manter a classificação do complemento circunstancial (de lugar, modo, tempo, etc.). É muito mais lógico e claro. Penso eu.

3 – Ainda sobre o sujeito – identificação

De acordo com a Gramática, o termo da oração do qual se declara alguma coisa é chamado de sujeito. De forma geral é prática e objetiva essa afirmação. Não é difícil entender isso. Exemplo: Existem muitas estrelas no céu. Declara-se alguma coisa a respeito de quem ou de quê: (d) as estrelas (sujeito). Agora vejamos a mesma frase: Há muitas estrelas no céu. Declara-se alguma coisa a respeito de quem ou de quê: (d) as estrelas. Aqui, as estrelas é objeto direto. O verbo haver no sentido de existir é impessoal, transitivo direto, e não há sujeito; a classificação de “as estrelas” é objeto direto.

Tudo bem que o verbo existir é intransitivo e que o verbo haver é transitivo direto. O que me chama atenção é o fato de se dizer que sujeito é o termo da oração do qual se declara alguma coisa.

4 – Queda do trema - Acordo Ortográfico, de 29 de setembro de 2008. – Decreto 6583 – Presidência da República

O Acordo Ortográfico promoveu algumas alterações na ortografia da Língua Portuguesa. A língua, por ser dinâmica, sofre, ao longo do tempo, alterações em sua estrutura, visando a simplificar e adaptar situações novas e dificuldades que vão surgindo. Vale lembrar, nesta oportunidade, que a Língua Inglesa não possui em seu vocabulário qualquer palavra acentuada. É um idioma objetivo e prático. Justifica-se, portanto, a intenção de se promoverem as alterações, visando a tornar a Língua Portuguesa mais simples, fácil e prática, conforme o objetivo proposto.

O meu propósito neste parágrafo refere-se à eliminação do trema. Não achei justo acabar com ele, embora já tenha ouvido muita gente dizer que nunca tinha usado o trema e nem sabia que ele existia. Ora, essa é boa! O trema sempre teve a sua finalidade e muita justa: Coloca-se o trema sobre o u nos grupos gui, gue, qui, que, quando ele for proferido e átono, assim se preceituava.

Tendo sido abolido o trema nessa situação, como saberá o leitor se a letra u é pronunciada ou não, quando ele não conhece a palavra? Pergunta muito simples e muito fácil de ser respondida. Quem era o responsável por esse esclarecimento? O trema, é claro.

Para finalizar este meu texto, quero deixar claro que a minha intenção não é fazer com que o aluno odeie a Gramática e fique brigando com ela, na busca de incoerências ou contradições. Se quisesse, poderia acrescentar ainda outras situações parecidas com as que citei acima. Meu desejo é que o aluno tenha consciência das situações colocadas, e saiba classificar corretamente os termos da oração, mesmo percebendo e não concordando com certas afirmações.

* Chamo frase-oração, palavra composta mencionada no decorrer do texto, à frase verbal, ou seja, aquela que tem sentido completo e possui apenas uma oração.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 23/04/2015
Reeditado em 07/02/2017
Código do texto: T5217423
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