ORIGEM E EVOLUÇÃO DO LATIM
O latim deriva de línguas arcaicas faladas na região do Lácio antes da fundação da cidade de Roma, principalmente o osco, o umbro e o etrusco, consolidando-se gramaticalmente a partir do século III a.C. Do local de origem (Lácio = Latium, no idioma deles) provém o nome LATIM.
No apogeu do império romano, sofreu muita influência do idioma grego, predominante então na região do mediterrâneo. Teve seu período clássico entre os anos 81 a.C e 17 d.C., época dos principais escritores latinos: Cícero, César, Vergílio, Horário, Ovídio, Tito Lívio, dentre outros.
As guerras de conquistas do exército romano levaram o latim popular, falado pelos soldados romanos, para outras regiões da Europa, onde interagindo com idiomas locais, deu origem às atuais línguas neolatinas.
Como acontece em todo idioma, havia a língua gramaticalmente correta dos literatos e a língua popular, falada pelo povo de pouca instrução e sem preocupação com a correção gramatical. Foi esta última que se espalhou pela Europa e, no caldeirão dos dialetos regionais, comandou a formação das linguas neolatinas, inclusive o português.
O português foi o resultado da mistura do latim com o galego, principal lingua falada na região do Condado Portucalense, que hoje corresponde a Portugal. Foi uma das linguas derivadas do latim que mais demorou a se formar, sendo provavelmente este o motivo de ser o português tão dessemelhante ao latim, diferentemente das outras línguas neolatinas, que mais se aproximam da origem, sobretudo o romeno.
O latim literário continuou a ser adotado e utilizado durante muitos séculos pelos escritores cristãos, mesmo depois de não ser mais falado como linguagem corrente na sua região de origem. E por influência dos monges, o latim era utilizado também como idioma dos intelectuais, filósofos e cientistas, que escreviam suas obras em latim, pela facilidade de serem lidos em qualquer parte da Europa. Somente a partir do século XVII, a literatura filosófica e científica passou a ser produzida em língua vernácula.
Atualmente, o latim é a língua oficial da Igreja Católica, utilizado na produção dos documentos oficiais do Vaticano, seja da Cúria Romana, seja das entidades agregadas. As Universidades Pontifícias de Roma, por exemplo, expedem seus Diplomas em latim ainda hoje. Os documentos oficiais da Igreja Católica, originalmente escritos em latim, são imediatamente traduzidos no próprio Vaticano e distribuídos pelos diversos países já no idioma de cada país.
Para não citar apenas exemplos distantes, eu próprio, nos anos de 1969/1970, aqui no Ceará, estudei filosofia em livros escritos em latim, editados na Itália.
Fora das instituições eclesiásticas, a língua latina continua a ser adotada na notação científica dos seres vivos, além de ter uso esporádico no ambiente forense.
LIÇÃO N. 2
• ALFABETO LATINO: COMPOSIÇÃO E PRONÚNCIA DAS LETRAS
O alfabeto latino primitivo era composto de 21 letras, ou seja, o mesmo alfabeto português atual, excluindo-se o J, o V e o Z, mas incluindo-se o K. As letras I e U tinham valores ora de consoante, ora de vogal, conforme o contexto fônico do vocábulo. Por exemplo, o I e o U tinham valor de consoante quando vinham precedendo uma vogal, em qualquer posição na palavra. Nos demais casos, tinham valor de vogal.
O sinal K foi logo no início aceito, por influência do grego. Também pela mesma influência, a fim de facilitar as transcrições literárias, foram incorporados os sinais Y e Z, sendo que o Y era sempre vogal. Mais tarde, lá pelo século XVI, foram incorporados à escrita latina também os sinais J e V, certamente por influência das próprias linguas neolatinas, então já existentes. Este assunto, no entanto, não é ponto pacífico entre os gramáticos.
Outra que é motivo de controvérsias é a pronúncia do latim. A mais difundida, na época do ensino do latim no Brasil (até a década de 60), era a pronúncia eclesiástica, com forte acento italiano, por influência dos padres da Igreja Católica.
Os estudiosos da gramática comparativa, na área de linguística, tentaram construir uma pronúncia do latim mais original, sendo esta chamada de pronúncia restaurada. Há ainda a pronúncia aportuguesada, que também foi utilizada no Brasil na época do ensino do latim nas escolas.
Essas informações têm aqui apenas caráter ilustrativo, já que não teremos condição de praticar a pronúncia. Para efeitos práticos, sugiro que se adotem os mesmos valores fonéticos das letras na pronúncia portuguesa, observando-se as seguintes particularidades:
a) as vogais mantêm sempre seu som original, em qualquer posição que ocupem no vocábulo, evitando-se pronunciar o “o” como “u” e o “e” como “i” no final das palavras;
b) os ditongos “ae” (æ) e “oe” pronunciam-se como “e”;
c) a sílaba “ti”, quando não for tônica nem precedida por “s”, será pronunciada como “ci”;
d) a letra “x” tem sempre o som de “ks”, como na palavra “fixo”;
e) o grupo “ch” tem sempre o som de “k”;
f) os conjuntos “qu” e “gu” pronunciam-se sempre como se houvesse um trema no “u”;
g) o grupo “ph” tem o som de “f”.
Não há acentos gráficos em latim, porém em alguns livros se usavam os mesmos acentos do português, a fim de facilitar a leitura. No nosso caso, usaremos quando houver necessidade para exemplificar a pronúncia. Como regra geral, atente-se para o fato de que não existem palavras oxítonas em latim, a não ser aquelas de uma sílaba só. Havendo dúvida, deve-se consultar o dicionário.
Convém observar que há divergências entre os gramáticos quanto a algumas das informações acima expostas. Vocês poderão encontrar pequenas variações, dependendo do autor da gramática que pesquisarem. Isso é bastante compreensível, uma vez que não se sabe exatamente como era pronunciado o latim, porque a pronúncia original não foi conservada, mas sofreu influências ao longo dos séculos.
LIÇÃO N. 3
• ESTRUTURA DAS PALAVRAS
O latim é uma língua embasada fundamentalmente na sintaxe, ou seja, na função relativa que as palavras ocupam nas frases. Em razão disso, a maioria das palavras latinas são compostas de uma parte fixa (radical) e uma parte variável (terminação ou desinência), excetuados os advérbios, preposições e conjunções. A terminação ou desinência varia de acordo com a função sintática da palavra. Por isso, diz-se que o latim é declinável.
Todas as palavras variáveis (excetuados os verbos) são classificadas em cinco declinações, cada uma com seis casos. Os verbos classificam-se em quatro conjugações. Os 'casos' indicam a função sintática da palavra e a 'declinação' indica o agrupamento de palavras em torno de um tema que caracteriza a sua formação morfológica. Cada declinação tem suas desinências próprias tanto no singular quanto no plural.
Os seis casos são os seguintes:
a) nominativo – quando a palavra é sujeito ou predicado deste;
b) genitivo – é o adjunto ou complemento restritivo, em geral, regido pela preposição 'de';
c) dativo – quando a palavra é objeto indireto de um verbo;
d) acusativo – quando a palavra é objeto direto de um verbo;
e) vocativo – é um chamamento ou interpelação;
f) ablativo – é um adjunto adverbial indicando tempo, lugar, modo, causa, instrumento, quase sempre regido pelas preposições 'em', 'com', 'por'.
As declinações são identificadas pela desinência do genitivo singular, desta forma:
a) genitivo singular em 'ae' (æ) – 1a. Declinação;
b) genitivo singular em 'i' – 2a. Declinação;
c) genitivo singular em 'is' – 3a. Declinação;
d) genitivo singular em 'us' – 4a. Declinação;
e) genitivo singular em 'ei' – 5a. Declinação.
Por exemplo: no dicionário, você encontra a palavra 'águia' assim 'aquila, ae', indicando que pertence à primeira declinação. A palavra 'bom' está escrita 'bonus, i', indicando que é da segunda declinação. A palavra 'trabalho' está assim 'labor, is', indicando que é da terceira declinação. E assim por diante.
Outras observaçoes importantes:
a) em latim, não há artigos definidos ou indefinidos, contudo na hora da tradução deve-se adotar o correspondente em português, conforme o sentido;
b) além dos verbos, também alguns adjetivos e todas as preposições têm regência sobre as palavras que os acompanham, interferindo assim na sua desinência.
A seguir, apresentarei alguns exemplos práticos e exercícios.
LIÇÃO N. 4
EXEMPLOS EXPLICADOS
Do que já apresentamos até aqui, conclui-se que o “caso” indica a função sintática da palavra na frase. Vejamos alguns exemplos.
Analisemos a frase seguinte:
AQUILA VOLAT. (pronúncia: áquila vólat), Teremos:
aquila, ae – substantivo da 1a. Declinação (águia)
volat – 3a pessoa singular do verbo “volare” (voar).
Tradução: A ÁGUIA VOA.
Note que, em latim, não há artigos, mas na tradução deve-se colocar. No caso, poderia ser também UMA ÁGUIA VOA, mas em algumas situações não se pode trocar o artigo sem causar algum conflito.
Agora, uma pergunta clássica: quem voa? Resposta: a águia, portanto, águia é sujeito e sendo sujeito, fica no caso nominativo.
Outro exemplo: AQUILAM HABEO. (pronúncia: áquilam hábeo), Teremos:
aquila, ae – substantivo da 1a. Declinação (águia)
habeo – 1a pessoa singular do verbo “habere” (ter). Tradução:
Eu tenho a águia (ou uma águia).
Agora, vamos às perguntas: 1 quem tem a águia? Resposta: eu (sujeito oculto); 2. o que eu tenho? Resposta: a águia (uma águia) (objeto direto do verbo ter). Portanto, sendo águia objeto direto, vai para o caso acusativo, mudando sua desinência ou terminação para “aquilam”.
Mais um exemplo: ALA AQUILÆ (=ALA AQUILAE) (pronúncia: ála áquileh). Coloquei este 'h' no final para lembrar que o 'e' não deve ser pronunciado como 'i'. Teremos:
aquila, ae (explicado acima)
ala, ae – substantivo da 1a. Declinação (asa). Tradução:
A ASA DA ÁGUIA. A expressão “da águia” é um complemento restritivo de “asa”, regido pela preposição “de”. Por isso, fica no caso genitivo (aquilae), enquanto “ala” permanece no caso nominativo (forma original).
Examine agora a seguinte frase:
ALAM AQUILAE VIDEO. (pronúncia: álam áquileh vídeo).
Sendo “video” a 1ª pessoa singular do verbo “videre” (ver), diremos que a tradução será:
EU VEJO A ASA DA ÁGUIA. Por que? Vamos às perguntas clássicas:
pergunta 1 – quem vê? Resposta: eu (sujeito oculto);
pergunta 2 – o que eu vejo? Resposta: a asa (objeto direto);
pergunta 3 – asa de quem? Resposta: da águia (complemento restritivo);
Portanto:
eu – sujeito oculto, pode até ser omitido na tradução;
asa – objeto direto, vai para o caso acusativo (alam);
da águia – complemento restritivo, vai para o caso genitivo (aquilae)
A título de fixação, proponho os seguintes exercícios inspirados nos exemplos acima:
Faça a tradução e a análise sintática das frases seguintes:
• Habeo mensam et cathedram.
• Rosa pulchra est.
• Puella habet rosam pulchram.
• Video puellam et rosam.
• Avia puellae cantat.
• Puella dat rosam aviae.
• Historia magistra vitæ est.
Glossário auxiliar:
Substantivos – mensa (mesa), cathedra (cadeira), pulchra (bela), puella (garota), avia (avó), magistra (mestra);
Verbos – est (é), habet (tem), cantat (canta), dat (dá).
LIÇÃO N. 5
• OUTRAS CARACTERÍSTICAS GRAMATICAIS DO LATIM
a) Regência – além dos verbos, que regem seus complementos de forma direta (objeto direto - acusativo) ou indireta (objeto indireto – dativo), também as preposições possuem regência sobre as palavras a ela subordinadas. Algumas preposições regem com acusativo, outras, com ablativo, outras regem ora com acusativo, ora com ablativo.
Esta é apenas uma informação preliminar, não há necessidade de memorizar cada situação, porque os dicionários registram isso, basta consultá-los.
Importa salientar que o objeto indireto (dativo) não é preposicionado, diferentemente do que ocorre no português, onde o objeto indireto vem sempre com uma preposição.
b) Gêneros das palavras – são três os gêneros. Além do masculino e do feminino, há o gênero neutro. O neutro refere-se sempre a objetos, nunca a pessoas. Mas o masculino e o feminino podem referir-se a pessoas e objetos.
O exemplo mais característico é o dos adjetivos triformes, que têm uma forma para cada gênero. Ex: bonus (bom), bona (boa), bonum (bom ou boa, para seres do gênero neutro).
c) Número das palavras – são dois: singular e plural, igualmente ao português.
d) Categorias gramaticais – dividem-se as palavras em três categorias:
1. conjugáveis – verbos;
2. declináveis – substantivo, adjetivo, pronome e alguns numerais;
3. indeclináveis – advérbios, conjunções, preposições, interjeições.
e) Observações importantes:
1. Não há artigos.
2. Algumas formas verbais, além de conjugáveis são também declináveis (ex: os particípios)
3. O verbo vem, em geral, no final da frase.
4. Quando o verbo requer dois complementos, o indireto vem antes do direto.
5. O adjetivo que qualifica um substantivo acompanha o caso gramatical deste e o antecede.
LIÇÃO N. 6
PRIMEIRA DECLINAÇÃO
A primeira declinação em latim abrange as palavras terminadas em ‘a’ no nominativo e que no genitivo têm a desinência 'ae' (‘æ’). Isto se aplica aos substantivos, adjetivos e à forma feminina dos particípios passados dos verbos.
Exemplos:
‘insula’ (pronúncia: ínsula) = ilha;
‘incola’ (pron: íncola) = habitante;
‘rotunda’ (pron. paroxítona) = redonda;
‘deducta’ (paroxítona) = deduzida.
'laudata' (paroxítona) = louvada.
Seguindo a regra já exposta anteriormente, temos em ‘insula’ o radical ‘insul’ e a desinência ‘a’; em ‘incola’, o radical é ‘incol’ e a desinência ‘a’. Ou seja, na hora de declinar, o que vai alterar é apenas a desinência.
Casos da primeira declinação Singular Plural
Nominativo insula Insulæ
Genitivo insulæ Insularum
Dativo insulæ Insulis
Acusativo insulam Insulas
Vocativo insula Insulæ
Ablativo insula Insulis
Exemplos:
• A ilha é redonda. – Insula rotunda est.
Comentários: insula = sujeito; rotunda = predicativo do sujeito; ambos, pois, vão no nominativo.
• O habitante da floresta – Silvæ incola (ou 'incola silvae').
Comentários: não há artigos em latim; silvæ = da floresta, complemento restritivo, portanto, vai para o genitivo.
• O agricultor dá água às filhas. – Agricola filiis aquam dat.
Comentários: filiis = às filhas, objeto indireto, vai para o dativo plural; aquam = agua, objeto direto, vai para o acusativo; agricola = agricultor, sujeito, vai no nominativo.
• Vejo o marinheiro. - Nautam video.
Comentários: nautam = o marinheiro, objeto direto, vai para o acusativo.
• Perigo nas ilhas. – Periculum in insulis.
Comentários: A preposição ‘in’ (em, no, na, nos, nas) sempre rege ablativo, ou seja, a palavra a ela vinculada vai para o ablativo. Daí a forma ‘in insulis’ (abl.plural).
LIÇÃO N. 7
PARTICULARIDADES DA PRIMEIRA DECLINAÇÃO
Inicialmente, convém lembrar que os gêneros das palavras em latim nem sempre corresponde ao que elas são em português. Na primeira declinação, com terminação ‘a’ no nominativo e ‘æ’ no genitivo, a maioria das palavras é do gênero feminino em latim, mas não todas.
Há também as terminadas em 'a' que são do gênero masculino, como por ex: ‘incola’ (pron: íncola) = habitante; ‘nauta’ = marinheiro; ‘athleta’ = atleta; ‘agricola’ (pron: agrícola) = agricultor; ‘pöeta’ = poeta (note-se que esta palavra tem um trema no ‘o’, para evitar que seja pronunciado ‘e’, assim como em ‘coelum’, que se pronuncia célum’).
Há ainda aquelas palavras que só existem na forma plural, não têm singular, como por ex:
‘Nuptiæ’ (pron: núpcie) = núpcias; ‘divitiæ’ (pron: divície) = riquezas; ‘Athenae’ (pron: aténe) = Atenas (a cidade grega).
Há algumas palavras que têm um sentido no singular e outro diferente no plural. Por ex: ‘copia’ (pron: cópia) = no singular, abundância; já ‘copiæ’ (pron: cópie) = no plural, tropas, exército; ‘littera’ (pron: lítera) = no singular, letra; ‘litteræ’ (pron: lítere) = no plural, carta, correspondência;
Há também dois casos excepcionais em que não se faz o genitivo em ‘æ’, como é a regra. São duas expressões do latim arcaico, que se conservaram pela tradição. São elas:
‘paterfamilias’ e ‘materfamilias’, respectivamente, pai de família e mãe de família, que são consideradas corretas ao lado de ‘pater familiæ’ e ‘mater familiæ’, as formas que seguem a regra gramatical.
É curioso notar que não há palavras do gênero neutro na primeira declinação. Só há palavras masculinas ou femininas.
É oportuno observar ainda que a língua latina é muito pródiga em exceções. Neste estudo, evitarei descer a muitos detalhes, destacando apenas algumas formas excepcionais mais usadas.
Pequeno glossário da primeira declinação:
Ancilla (f., pron: ancíla) = escrava;
Ara (f.) = altar;
Cicada (f., pron: cicáda) = cigarra;
Magistra (f.) = mestra, professora;
Ostia (f., pron: óstia) = porta;
Iracundia (f., pron: iracúndia) = cólera, indignação.
Ostiaria ancilla (pron: ostiária ancíla) = porteira;
Regina (f.) = rainha
Pirata (f.) = pirata
Fenestra (f.) = janela
Lætitia (f., pron: letícia) = alegria
Umbra (f.) = sombra
Procella (f., pron: procéla) = tempestade
Silva (f.) =floresta
Schola (f., pron: scóla) = escola
Angustiæ (f., pron: angústie, usa-se só no plural) = desfiladeiro
LIÇÃO N. 8
EXERCÍCIOS DA PRIMEIRA DECLINAÇÃO
Traduzir:
• Historia est magistra vitae.
• Britania est insula Europae.
• Minerva erat dea sapientiae.
• Victoria est semper causa laetitiae.
• In silvis est sempre aqua.
• Sapientia est domina et regina vitae.
• Artemisia erat regina Cretae.
• Rarae sunt verae amicitiae.
• Fortuna est insana et caeca.
• Ubi concordia, ibi victoria semper est. GLOSSÁRIO:
Magistra – mestra
Insula – ilha
Dea – deusa
Silva – bosque, floresta
Sapientia – sabedoria
Domina – senhora
Regina – rainha
Amicitia – amizade
Caeca – cega
Ubi – onde
Ibi – ali
• Sicilia erat patria nautarum et agricolarum
• In silvis est copia herbarum.
• Statuae dearum sunt aureae.
• Uva matura non est acerba.
• Araneae et formicae sunt sedulae.
• Mira est patientia agricolarum.
• Comae incolarum Africae nigrae et crispae sunt.
• Olim medicina fuit scientia paucarum herbarum.
• Luna et stellae sunt rotundae.
• Magnae coronae ornant aras dearum. Nauta – marinheiro
Agricola – agricultor, camponês
Copia – multidão, grande quantidade
Herba – erva, planta
Acerba – azeda, ácida
Aranea – aranha
Formica – formiga
Sedula – diligente, trabalhadora
Mira – admirável
Coma – cabeleira
Olim – outrora
Luna – lua
Stella – estrêla
Rotunda – redonda
Corona – coroa
Ara – altar
LIÇĂO N. 9
TÓPICOS DE MORFOLOGIA VERBAL
Antes de apresentarmos as conjugaçőes verbais propriamente ditas, será necessário entender algumas regras gerais, aplicáveis a todas elas.
A identificaçăo dos verbos nos dicionários se faz pela compreensăo dos seus tempos primitivos, que săo:
1a. pessoa do singular do indicativo presente;
2a. pessoa do singular do indicativo presente;
1a. pessoa do singular do pretérito perfeito;
supino;
infinitivo.
Esta notaçăo verbal latina tem tripla finalidade: 1. reconhecer a conjugaçăo do verbo; 2. distinguir os verbos regulares dos irregulares; 3. indicar os radicais formadores dos demais tempos e modos do verbo.
Exemplificando com um verbo regular (laudare = louvar):
laudo - 1a. pessoa do singular do indicativo presente;
laudas - 2a. pessoa do singular do indicativo presente;
laudavi - 1a. pessoa do singular do pretérito perfeito;
laudatum - supino;
laudare - infinitivo.
Exemplificando com um verbo irregular (legere = ler)
lego - 1a. pessoa do singular do indicativo presente;
legis - 2a. pessoa do singular do indicativo presente;
legi - 1a. pessoa do singular do pretérito perfeito;
lectum – supino;
legere = infinitivo.
Analisando os dois exemplos, constata-se um padrăo sequencial no primeiro caso ('laud-') em todos os tempos apresentados. Essa é uma característica dos verbos regulares. No segundo exemplo, năo há o radical padrăo ('leg-') em todos os tempos primitivos, sendo assim um verbo irregular.
Em razăo disto, quando se trata de um verbo regular, os dicionários năo repetem o radical, mostrando apenas as desinęncias, já que o radical será constante. Assim, o verbo 'laudare', no dicionário, aparece: 'laudo, as, avi, atum, are', e deste mesmo modo em todos os regulares. Quanto se trata de um verbo irregular, o dicionário apresenta a desinęncia dos tempos em que se repete o radical e dos demais, a forma inteira. No nosso exemplo, seria assim: 'lego, is, lexi, lectum, ere'.
Para melhor compreensăo, sugiro que tomem um dicionário e consultem os seguintes verbos, apontando os regulares e os irregulares, colocando os resultados na lista para conhecimento de todos:
1. MANEO; 2. MONEO; 3. LABORO; 4. CREDO; 5. PARCO; 6. SURGO; 7. DELEO; 8. LATRO; 9. DO; 10. CANO.
Um verbo irregular de largo uso corrente é o verbo ESSE (SER), cujos tempos primitivos săo: SUM, ES, FUI, ESSE. (Năo tem supino). Este verbo, por ser de ligaçăo, năo possui objetos, mas predicativos, que seguem o mesmo caso do sujeito. Os verbos transitivos podem reger um objeto direto (=acusativo) ou indireto (=dativo) ou ambos.
LIÇĂO N.10
DERIVAÇÕES VERBAIS (1)
Partindo dos tempos primitivos, estudados na lição n. 9, iremos construir os demais tempos verbais. Nesta lição, analisaremos os tempos verbais derivados do presente, tomando como referência os verbos estudados na lição anterior. Visto não haver ali nenhum verbo da 4a. conjugação, tomaremos como exemplo o verbo 'audio' (ouvir).
É necessário, inicialmente, identificar o radical do verbo, isolando-o da sua desinência. Como regra geral, diremos que o radical termina na última consoante. Por ex: moneo = radical - mon; deleo = radical - del; credo = radical - cred; audio = radical - aud. Ao radical, são acrescentadas as desinências específicas para a formação dos demais tempos, conforme explicado a seguir.
Os tempos derivados do radical do presente são os seguintes:
1. imperfeito do indicativo, acrescentando-se as desinências correspondentes às conjugações, a saber: 1a. conj - abam; 2a. conj - ebam; 3a. conj - ebam; 4a. conj - iebam. Exemplificando com um verbo de cada conjugação:
1a. conjugação - 2a. conjugação - 3a. conjugação - 4a. conjugação
labor-abam - mon-ebam - cred-ebam - aud-iebam
labor-abas - mon-ebas - cred-ebas - aud-iebas
labor-abat - mon-ebat - cred-ebat - aud-iebat
labor-abamus - mon-ebamus - cred-ebamus - aud-iebamus
labor-abatis - mon-ebatis - cred-ebatis - aud-iebatis
labor-abant - mon-ebant - cred-ebant - aud-iebant
(correspondendo, respectivamente, a trabalhava, avisava, acreditava, ouvia)
2. futuro do presente, com as seguintes desinências:
a) 1a. conj - abo, abis, abit, abimus, abitis, abunt;
b) 2a. conj - ebo, ebis, ebit, ebimus, ebitis, ebunt;
c) 3a. conj - am, es, et, emus, etis, ent;
d) 4a. conj - iam, ies, iet, iemus, ietis, ient.
(correspondendo, respectivamente, a trabalharei, avisarei, acreditarei, ouvirei)
3. presente do subjuntivo, com as seguintes desinências:
a) 1a. conj - em, es, et, emus, etis, ent
b) 2a. conj - eam, eas, eat, eamus, eatis, eant;
c) 3a. conj - am, as, at, amus, atis, ant;
d) 4a. conj - iam, ias, iat, iamus, iatis, iant.
(correspondendo a 'que eu trabalhe', avise, acredite, ouça)
4. participio presente, com as seguintes desinências:
a) 1a. conj - ans; 2a. conj - ens; 3a. conj - ens; 4a. conj - iens
(correspondendo a trabalhante (trabalhador), avisante, crente, ouvinte)
5. gerundivo, com as seguintes desinências
1a. conj - andus (masc), anda (fem), andum (neutro) = laborandus, a, um (trabalhando)
2a. conj - endus, enda, endum = monendus, a, um (avisando)
3a. conj - endus, enda, endum = credendus, a, um (crendo)
4a. conj - iendus, ienda, iendum = audiendus, a, um (ouvindo)
Os tempos correspondentes do verbo ESSE (SER, ESTAR) são:
1. imperfeito do indicativo: eram, eras, erat, eramus, eratis, erant (eu era, tu eras, ele era...)
2. futuro do presente: ero, eris, erit, erimus, eritis, erunt (eu serei, tu serás, ele será...)
3. presente do subjuntivo: sim, sis, sit, simus, sitis, sint (que eu seja, tu sejas, ele seja...)
O verbo ESSE não tem supino nem gerundivo. O participio presente ENS, ENTIS usa-se como substantivo (o ENTE).
LIÇÃO N.11
DERIVAÇÕES VERBAIS (I1)
Continuando a apresentar a derivação dos demais tempos verbais a partir dos tempos primitivos, estudados nas lições n. 9 e 10, eis os tempos derivados perfeito. Tomemos como exemplos os mesmos verbos da lição anterior.
Conforme já dissemos, é necessário identificar o radical do verbo, isolando-o da sua desinência, para assim formar os outros tempos conjugados. Nos verbos dados como exemplo, temos: laboravi (laborav+i); - monui (monu+i); credidi (credid+i); audivi (audiv+i).
Os tempos derivados do radical do perfeito são os seguintes:
1. perfeito do subjuntivo, acrescentando-se a desinência 'erim' em todas as conjugações. Exemplificando com um verbo de cada conjugação:
1a. conjugação - 2a. conjugação - 3a. conjugação - 4a. conjugação
laborav-erim - monu+erim - credid+erim - audiv+erim
laborav-eris - monu+eris - credid+eris - audiv+eris
laborav-erit - monu+erit - credid+erit - audiv+erit
laborav-erimus - monu+erimus - credid+erimus - audiv+erimus
laborav-eritis - monu+eritis - credid+eritis - audiv+eritis
laborav-erint - monu+erint - credid+erint - audiv+erint
(correspondendo, respectivamente, a 'eu tenha trabalhado', 'avisado', 'acreditado', 'ouvido')
2. mais-que-perfeito do indicativo, acrescentando em todas a desinência 'eram':
a) 1a. conj – laborav+eram, eras, erat, eramus, eratis, erant
b) 2a. conj – monu+eram, eras, erat, eramus, eratis, erant
c) 3a. conj – credid+eram, eras, erat, eramus, eratis, erant
d) 4a. conj – audiv+eram, eras, erat, eramus, eratis, erant.
(correspondendo, respectivamente, a trabalhara, avisara, acreditara, ouvira)
3. mais-que-perfeito do subjuntivo, acrescentando em todas a desinência 'issem':
a) 1a. conj – laborav+issem, isses, isset, issemus, issetis, issent
b) 2a. conj – monu+issem, isses, isset, issemus, issetis, issent
c) 3a. conj – credid+issem, isses, isset, issemus, issetis, issent
d) 4a. conj – audiv+issem, isses, isset, issemus, issetis, issent.
(correspondendo a 'eu tivesse trabalhado', avisado, acreditado, ouvido)
4. futuro composto (em latim, futuro perfeito), com a desinência 'ero' em todas:
a) 1a. conj – laborav+ero, eris, erit, erimus, eritis, erint
b) 2a. conj – monu+ero, eris, erit, erimus, eritis, erint
c) 3a. conj – credid+ero, eris, erit, erimus, eritis, erint
d) 4a. conj – audiv+ero, eris, erit, erimus, eritis, erint
(correspondendo a 'terei trabalhado', avisado, crido, ouvido)
5. infinito composto (em latim, imfinito perfeito), com a desinência 'isse' em todas:
a) 1a. conj – laboravisse = ter trabalhado
b) 2a. conj – monuisse = ter avisado
c) 3a. conj – credidisse = ter acreditado
d) 4a. conj – audivisse = ter ouvido
Os demais tempos derivados são os seguintes:
• do supino: (laborat+um; monit+um; credit+um; audit+um)
a) particípio futuro, com a desinência 'urus, ura, urum' (masculino, femin. E neutro)
laboraturus, a, um; moniturus, a, um; crediturus, a, um; auditurus, a, um = que vai trabalhar, que vai avisar, que vai acreditar, que vai ouvir.
b) participio passado, com a desinência 'us, a, um' (masculino, femin., neutro)
laboratus, a, um; monitus, a, um; creditus, a, um; auditus, a, um = trabalhado, avisado, acreditado, ouvido;
c) supino passivo, com a desinência 'u' para todos:
laboratu – monitu – creditu – auditu = de ser trabalhado, de ser avisado, de ser acreditado, de ser ouvido)
• do infinito (laborare, monere, credere, audire)
a) imperativo, retirando-se a desinência 're':
labora (trabalha tu), mone (avisa tu), crede (crê tu), audi (ouve tu)
b) imperfeito do subjuntivo e futuro do pretérito (em latim, se confundem), com a desinência 'm' em todos:
1a. conj – laborarem, laborares, laboraret, laboraremus, laboraretis, laborarent
2a. conj – monerem, moneres, moneret, moneremus, moneretis, monerent
3a. conj – crederem, crederes, crederet, crederemus, crederetis, crederent
4a. conj – audirem, audires, audiret, audiremus, audiretis, audirent;
correspondendo a 'se eu trabalhasse, avisasse, acreditasse, ouvisse' ou 'eu trabalharia, avisaria, acreditaria, ouviria')
c) infinito da voz passiva, trocando 'e' final por 'i', exceto na 3a. Conj, que troca 'ere' por 'i':
laborari (ser trabalhado), moneri (ser avisado), credi (ser acreditado), audiri (ser ouvido)
Nota-se que, devido ao poder de síntese da língua latina, alguns tempos verbais simples do latim têm tradução como tempos compostos com o auxiliar 'ser', em português. Observa-se também que não há uma corespondência exata entre a terminologia dos tempos verbais, mrcando a característica de cada idioma.
Terminando de apresentar os tempos verbais, seguiremos na próxima lição com exercícios práticos para fixação da aprendizagem.
Lição n. 12
EXERCICIO PRÁTICO COM PALAVRAS DA 1a. DECLINAÇÃO
Fonte: COSTA, Aída, Segundo livro de latim, Editora do Brasil, SP, 1960, pag. 28.
Traduzir:
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MINERVA
Minerva intelligentiae dea est.
Discipulae pulchras rosas violasque Minervae offerunt.
Poetae deae aram rosis et violis quoque ornant.
Numa Romam Minervam, Graecam deam, portavit.
Minerva, ab Athenarum incolis, Athena appellatur.
Minervae statua sinistra hastam et dextra victoriae statuam habet.
Minerva, Romae incolarum magna dea es.
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Glossário auxiliar:
Viola - violeta (flor);
Offerunt - do verbo 'offere', irregular da 3a. Conj. Tempos primitivos: offero, offeris, obtuli, oblatum, offerre. = oferecer
Quoque - preposição 'também'
Ornant - do verbo 'ornare', regular da 1a. Conj. (orno, ornas, ornavi, ornatum, ornare) = ornar
Numa = Numa Pompilio, um dos reis da Roma antiga.
Portavit - do verbo 'portare', regular da 1a. Conj. = levar (para algum lugar), em latim é transitivo direto.
Appellatur - voz passiva de 'appellare', regular da 1a. Conj. (no caso, = chama-se)
Sinistra - esquerda
Dextra - direita
Hasta - lança
Habet - do verbo 'havere', regular da 2a. Conj. (habeo, habes, habui, habitum, habere) = ter
LIÇÃO N. 13
SEGUNDA DECLINAÇÃO
A segunda declinação em latim abrange as palavras terminadas no nominativo em ‘er’, ‘us’ e ‘um’ e que no genitivo singular têm a desinência ‘i’. As palavras terminadas em 'er' e 'us' são do gênero masculino e as terminadas em 'um' são do gênero neutro.
Isto se aplica aos substantivos, adjetivos, numerais e aos particípios dos verbos.
Exemplos: ‘puer’ (pronúncia: púer), ‘pueri’ (gen., pron: púeri) = menino;
‘piger’ (pron: píger) ‘pigri’ (gen.pron:pígri). = preguiçoso;
‘bonus’ (pron. bónus), ‘boni’ (gen.pron:bóni) = bom;
‘verbum’ (paroxítona), ‘verbi’ (gen.pron:vérbi) = palavra.
Observa-se que há uma maior diversidade de formas do caso nominativo, porém, a desinência no genitivo singular é sempre em ‘i’. Note que algumas palavras com nominativo em ‘er’, fazem o genitivo apenas acrescentando o ‘i’, no entanto, outras trocam o ‘er’ por ‘ri’. Estes detalhes sempre aparecem nos dicionários e são facilmente perceptíveis na hora da consulta.
Casos da segunda declinação:
Singular
Nom: puer ager bonus verbum
Gen: pueri agri boni verbi
Dat: puero agro bono verbo
Acus: puerum agrum bonum verbum
Voc: puer ager bone verbum
Abl: puero agro bono verbo
Plural:
Nom: pueri agri boni verba
Gen: puerorum agrorum bonorum verborum
Dat: pueris agris bonis verbis
Acus: pueros agros bonos verba
Voc: pueri agri boni verba
Abl: pueris agris bonis verbis
Exemplos:
1. Puer bonus est. – O menino é bom.
Comentários: puer = sujeito; bonus = predicativo do sujeito; ambos, pois, ficam no nominativo.
2. Agricolæ filius piger est. = O filho do agricultor é preguiçoso.
Comentários: não há artigos em latim; agricolæ = do agricultor, possessivo regido pela preposição ‘de’, portanto, vai para o genitivo da 1a. dec; ‘filius’ e ‘piger’, respectivamente, sujeito e predicativo do sujeito, ficam no nominativo.
3. Templa Romæ video. – Vejo os templos de Roma.
Comentários: ‘templa’= templos, objeto direto, vai para o acusativo plural do neutro que, por coincidência, é igual ao nominativo plural de ‘templum’;
‘Romæ’ – de Roma, possessivo regido por ‘de’, vai para o genitivo da 1a. declinaçao.
Video (pron: vídeo)– eu vejo, 1a. pessoa do singular do verbo ver.
4. Discipulus libros Magistri portat. = O aluno (discípulo) leva os livros do Professor.
Comentários: discipulus – aluno, sujeito da frase, fica no nominativo; libros = objeto direto, acusativo plural de ‘liber’. Esta palavra significa ‘livro’, como substantivo, e ‘livre’, como adjetivo.
‘magistri’, possessivo, gen. sing. de ‘magister’ (=professor).
Portat – verbo portare (levar, carregar)
Observe-se que a ordem das palavras na frase não prejudica a compreensão, porque pela identificação das desinências, é possível saber qual a função da palavra no contexto. Por ex: ‘discipulus’ é nominativo, portanto, só pode ser sujeito; ‘libros’ é acusativo plural, portanto, é objeto direto; temos o verbo ‘portat’ (de ‘portare’ = levar), que é transitivo direto (levar algo ou alguém). Assim vemos que ‘libros’ é obj. direto, ‘Magistri’ é gen. sing. de ‘magister’ (=professor). Analisando cada palavra, chega-se à sua tradução. A tradução sempre deve ser feita em vista do contexto todo da frase.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (1a e 2a declinações)
• Insulæ incola piger est.
• Filii agricolarum insulas arant. (de 'arare' = arar)
• Medicus in insula habitat. (de ‘habitare’ = habitar)
• Filius medici et filia nautae in insula habitant.
• Medicus ancillam reginae curat. (de ‘curare’ = curar)
• Puerum et puellam medicus curat.
• Agricola piger in umbra silvarum habitat.
• Filius agricolae et filia medici in silvis insularum ambulant.(ambulare = andar)
• Magistrum et magistram, puerum et puellam in schola video. (videre = ver)
• Magistra discipulum laudat, quia (=porque) piger non est.
• Magistri pigros discipulos non laudant. (laudare = louvar)
• Insularum incolae agricolas pigros non laudant.
• Medicus in silva ambulat et agricolam pigrum curat.
• Laudo medicum quia ancillam reginae curat.
LIÇÃO N. 14
Fonte: GARCIA, Janete M., Introdução à Teoria e Prática do Latim, Ed. UnB)
ADJETIVOS DE PRIMEIRA CLASSE - PRONOMES
Os adjetivos em latim são divididos em duas classes, para fins de enquadramento nas declinações. Assim, denominam-se 'adjetivos de primeira classe' os que seguem a primeira declinação na sua forma feminina e seguem a segunda declinação nas formas masculina e neutra. A sua terminação no nominativo pode ser 'us, a, um' ou 'er, a, um'.
Exemplos:
Bonus, bona, bonum – bom, boa;
(bona segue a 1a. declinação; bonus e bonum seguem a 2a. declinação)
Pulcher, pulchra, pulchrum – belo, bela;
(pulchra = 1a dec, pulcher e pulchrum = 2a dec)
Dignus, a, um – digno, digna;
Jucundus, a, um – alegre;
Liber, libera, liberum – livre;
Do ponto de vista sintático, o adjetivo sempre concorda em gênero, número e grau com o substantivo ao qual se refere. Sob o aspecto estilístico, é usual o adjetivo anteceder o substantivo. Ex: Olim medicina scientia paucarum herbarum fuit. (Outrora a medicina foi uma ciência de poucas ervas). Paucarum = gen plural de 'pauca' (paucus, a, um = pouco). Visto que o substantivo 'herba' passou para o genitivo plural, pela regência da preposição 'de', o adjetivo 'pauca' acompanhou a sua sintaxe.
Por vezes, pode acontecer de vir o adjetivo em sua forma neutra desacompanhado de um substantivo. Nestes casos, deve-se sempre perceber a presença de um substantivo implícito no contexto ou oculto e indeterminado, aquilo que em português generalizamos com a palavra 'coisa'. Por ex: o adjetivo 'pulchra' (forma neutra nominativo plural), vindo desacompanhado de um substantivo, será traduzido por 'coisas belas'. Outro ex: 'omnia mea' = todas as minhas (coisas).
A mesma observação feita sobre os adjetivos de primeira classe também se aplica aos pronomes possessivos 'meus, mea, meum' (meu, minha); tuus, tua, tuum (teu, tua); suus, sua, suum (seu, sua). As formas femininas (mea, tua, sua) seguem a primeira declinação e as formas masculina e neutra seguem a segunda declinação. Não são usados no caso vocativo, a nao ser raramente.
Aproveito para apresentar neste contexto os pronomes pessoais, que têm declinação própria, nao seguindo nenhuma das declinações convencionais.
1.a pessoa 2.a pessoa 3.a pessoa
Nom.sing. Ego tu (is, ea, id; ille, illa, illud)
Gen. Sing. Mei tui sui
Dat. Sing. Mihi tibi sibi
Acus.sing. Me te se
Ablat.sing Me te se
Nom. Plu nos vos (illi, illae)
Gen. Plu nostrum vestrum sui
Dat. Plu nobis vobis sibi
Acus. plu nos vos se
Ablat.plu nobis vobis se
Observações sobre os pronomes pessoais:
• No genitivo plural, há duas formas possíveis. A forma 'nostrum' = dentre nós; a forma 'nostri' = de nós. Do mesmo modo, 'vestrum' = dentre vós e 'vestri' = de vós.
• Quando é necessário usar a preposição 'cum', esta se coloca após. Ex: cum + me = mecum (comigo), cum + te = tecum (contigo); cum + se = secum (consigo); cum + nobis = nobiscum (conosco); cum + vobis = vobiscum (convosco).
LIÇÃO VIRTUAL N. 15
Fonte: GARCIA, Janete M., Introdução à Teoria e Prática do Latim, Ed. UnB)
EXERCÍCIO COM PALAVRAS DA PRIMEIRA E SEGUNDA DECLINAÇÕES
ROMANI ET BELLA
Populus Romanus semper proeliis bellisque se dedicavit.
Bella intestina aut externa erant.
Romani ante pugnam in templi ara diis plantas, victimas hostiasque sacrificabant.
In castris, disciplina severa erat.
Praefectus suo imperio copias suas castigabat aut illis praemia dabat.
Romani pugnare amabant;
inimicum superabant et praefectos suos myrto coronabant.
Glossário auxiliar:
os verbos (dedicare, sacrificare, castigare, dare, pugnare, amare, superare, coronare) são todos da 1a. Conjugação e o significado é intuitivo.
proelium, i (neutro) = combate
bellum, i (neutro) = guerra
pugna, ae (feminino) = luta
Intestinus, a, um = interno
externus, a, um = externo
victima, ae (feminino) = animal levado ao sacrifício
hostia, ae (feminino) = vítima sacrificada, podendo ser tb pessoas
castra, orum (neutro plural) = acampamento
praefectus, i (masculino) = literalmente, administrador, aqui no sentido de comandante
suo imperio = expressão em ablativo absoluto = ao seu arbítrio
copiae, copiarum (fem. Plural) = tropas (obs: copia, no sing. = abundância)
praemium, ii = benefício, vantagem
myrtus, i (tb murta, ae) = murta, arbusto usado para fazer coroas de folhas.
LIÇÃO N. 16
TERCEIRA DECLINAÇÃO
A terceira declinação em latim é a que comporta maiores variações e abrange o maior número de palavras. Nela se incluem as palavras terminadas no nominativo em 'or', 'er', 'us', 'os', 'es', 'as', 'is', 'ex' 'en' , consoante mais 's', podendo pertencer aos gêneros masculino, feminino ou neutro. Portanto, há uma variedade enorme de terminações, com a única característica em comum que é no genitivo singular ter a desinência 'is'.
As duas primeiras declinações, assim como as duas últimas, que ainda veremos, têm desinências mais constantes no nominativo. Mas nesta terceira declinação, é praticamente impossível estabelecer uma regra geral. Apenas uma dica para uma provável identificação da palavra, quando esta se encontra declinada, é que ao apresentar a vogal 'i' no contexto das desinências dos casos, deve ser da terceira declinação. De outro modo, não sendo conhecida a palavra, a única alternativa é consultar o dicionário.
Exemplos:
Em 'or' - 'pastor' (pronúncia: pástor), 'pastoris' (pron: pastóris - gen.) = pastor;
Em 'er' – 'pater' (pron: páter) 'patris' (pron: pátris - gen). = pai;
Em 'us' - 'tempus' (pron. témpus), 'temporis' (pron: témporis - gen.) = tempo;
Em 'os' – 'flos', 'floris' (pron: flóris - gen.) = flor;
Em 'es' – 'vulpes' (pron: vúlpes), 'vulpis' (pron: vúlpis - gen) = raposa;
Em 'as' – 'libertas' (pron: libértas), 'libertatis' (pron: libertátis) = liberdade;
Em 'is' – 'canis' (pron: cánis), 'canis' (gen = nom) = cão, cachorro;
Em 'ex' – 'lex', 'legis' = lei;
Em 'en' – 'lumen' (pron: lúmen), 'luminis' (pron: lúminis) = luz;
Em consoante + 's' – 'mors', 'mortis' = morte; 'princeps', 'principis' (pron: ambos com tônica na 1a. sílaba) = príncipe.
Observa-se que há uma imensa diversidade de formas do caso nominativo, porém, a desinência no genitivo é sempre em 'is'. E note também que o radical a ser usado para aplicação das desinência nos demais casos segue o padrão do genitivo, e não o do nominativo.
Casos da terceira declinação:
Singular
Nom: pastor flos lex tempus
Gen: pastoris floris legis temporis
Dat: pastori flori legi tempori
Acus: pastorem florem legem tempus
Voc: pastor flos lex tempus
Abl: pastore flore lege tempore
Plural:
Nom: pastores flores leges tempora
Gen: pastorum florum legum temporum
Dat: pastoribus floribus legibus temporibus
Acus: pastores flores leges tempora
Voc: pastores flores leges tempora
Abl: pastoribus floribus legibus temporibus
Nos exemplos citados, apenas a palavra 'tempus' é do gênero neutro. Convém não esquecer que os gêneros das palavras em latim nem sempre correspondem ao que as palavras são em português. Na dúvida, é necessário consultar um dicionário.
A título de indicação, apresento alguns exemplos de como as palavras aparecem nos dicionários, para facilitar a compreensão e a localização delas.
No dicionário, encontra-se: dolor, oris – significa que o genitivo de 'dolor' (pron: dólor) é 'doloris' (pron: dolóris); pater, tris – significa que o genitivo de 'pater' é 'patris'; mulier, eris – significa que o genitivo de 'mulier' (pron: múlier) é 'mulieris' (pron: mulíeris). E assim sucessivamente.
Labor, laboris = trabalho;
Uxor, uxoris = esposa;
Mulier, mulieris = mulher;
Dolor, doloris = dor;
Frater, fratris = irmão;
Iter, itineris = caminho;
Custos, custodis = guardião;
Nepos, nepotis = neto, sobrinho ou descendente familiar;
Mos, moris = costume;
Miles, militis = soldado;
Pes, pedis = pé;
Sermo, sermonis = sermão, discurso;
Fortitudo, fortitudinis = fortaleza;
Ratio, rationis = razão;
Civitas, civitatis = cidade;
Laus, laudis = louvor;
Judex, judicis = juiz;
Urbs, urbis = cidade;
Grex, gregis = rebanho
Nomen, nominis = nome;
Caput, capitis = cabeça;
Flumen, fluminis = rio;
Virtus, virtutis = virtude;
Bos, bovis = boi;
Pecus, pecoris = rebanho;
Avis, avis = ave;
Canis, canis = cachorro;
Nobilis, nobilis = nobre;
Sapiens, sapientis = sábio;
Felix, felicis = feliz;
Corpus, corporis = corpo.
Estes exemplos bem demonstram a variedade de que se compõe a terceira declinação. Sugiro, como exercício de fixação das desinências, que se tomem estas palavras ou algumas delas e as declinem em todos os casos, no singular e no plural, seguindo os exemplos apresentados.
Lição n. 17
PARTICULARIDADES DA TERCEIRA DECLINAÇÃO
A terceira declinação é a que apresenta maior complexidade, maior quantidade e variedade de palavras e também a que comporta mais exceções.
Convém sempre lembrar que o latim é uma língua muito pródiga em exceções. Na abordagem que estou fazendo, procuro evitar ao máximo estas referências a exceções, porém, termina sendo inevitável falar sobre elas.
Vejamos, pois, algumas informações. Primeiro, há uma distinção entre as dois grupos de palavras da terceira declinação:
Parassilábicas - aquelas que têm o mesmo número de sílabas no nominativo e no genitivo. Ex: panis, is (pão), civis, is (cidadão), navis, is (navio), ignis, is (fogo), sedes, is (sé ou sede, no sentido de local);
Imparassilábicas - aquelas que têm número de sílabas no genitivo maior que no nominativo. Ex: labor, laboris (trabalho), gutur, guturis (obs: sílaba tônica em 'gu' nas duas, =garganta), opus, operis (obra), fraus, fraudis (dano).
Por que esta distinção? Pelo seguinte: as parassilábicas fazem o genitivo plural em 'ium', enquanto as imparassilábicas fazem o genitivo plural em 'um', conforme explicado na lição anterior. Por ex: 'civis' fica 'civium', 'navis' fica 'navium'; porém 'gutur' fica 'guturum', 'opus' fica 'operum'.
Mas até nesta particularidade há exceções. Por ex: 'lis, litis' (processo), embora seja imparassilábico, faz o genitivo plural em 'ium' (litium). E há também o oposto, ou seja, parassilábicas que fazem o genitivo plural em 'um', por ex: 'canis' fica 'canum', 'pater' fica 'patrum'. Há ainda algumas palavras que admitem as duas possibilidades. Por ex: 'apis' (abelha) pode ficar no genitivo plural 'apium' ou 'apum', 'mensis' (mês) pode ficar 'mensium' ou 'mensum', 'vates' (adivinhador) pode ficar 'vatium' ou 'vatum'. Não há, pois, uma regra monolítica.
Faço esta observação não para confundir os colegas, mas apenas para que ninguém se espante ao se deparar num texto com esta forma do genitivo plural de algumas palavras.
Há ainda aquelas palavras que fazem o acusativo singular em 'im' e o ablativo singular em 'i', ao invés de acusativo 'em' e ablativo 'e', que é a regra. Por ex: 'sitis' (sede, necessidade de água) fica 'sitim' no acusativo e 'siti' no ablativo singular; 'tussis' (tosse), fica 'tussim' e 'tussi', respectivamente; 'febris' (febre) fica 'febrim' e 'febri'. São apenas alguns exemplos.
Para tranquilizar alguns mais apressados, aviso que o uso de uma gramática é sempre necessário para se estudar latim. Não há como memorizar tantas excepcionalidades.
Também há aquelas palavras empregadas apenas no plural, embora em português o seu uso seja admitido, às vezes, no singular. Ex: maiores, um = antepassados; cervices, um = nuca; parentes, um = pais; verbera, um = açoites; moenia, um = muralhas.
Lição n. 18
QUARTA E QUINTA DECLINAÇÕES
Tomarei a um só tempo a quarta e a quinta declinações por terem regras mais uniformes e por possuirem um menor número de vocábulos.
a) Quarta Declinação
Na quarta declinação estão as palavras terminadas em ‘us’, que fazem o genitivo também em ‘us’. Apenas para esclarecer, há palavras terminadas em ‘us’, que fazem o genitivo em ‘i’; estas pertencem à segunda declinação. Para saber se a palavra terminada em ‘us’ fará o genitivo em ‘us’ (4a.) ou em ‘i’ (2a.), temos que recorrer a um dicionário. Não há regra para isto.
Casos da quarta declinação: (tomaremos uma palavra feminina – manus e uma palavra neutra – cornu)
Singular
Nom: manus (pron: mánus - mão) cornu (pron: córnu - chifre)
Gen: manus cornus
Dat: manui cornui
Acus: manum cornu
Voc: manus cornu
Abl: manu cornu
Plural:
Nom: manus cornua (pron: córnua)
Gen: manuum cornuum
Dat: manibus cornibus
Acus: manus cornua
Voc: manus cornua
Abl: manibus cornibus
Temos, portanto, dois grupos de exemplos. O primeiro se aplica às palavras masculinas e femininas; o segundo se aplica às do gênero neutro. Exemplos: fructus, (masculino, fruto), exercitus (m., exército), senatus (m, senado), arcus (m., arco), specus (m, caverna), portus (m., porto), magistratus (m., magistrado), acus (f., agulha), domus (f., casa), genu (neutro, joelho).
b) Quinta Declinação
A quinta declinação reúne as palavras terminadas em ‘es’, que fazem o genitivo em ‘ei’. Quase todas são femininas, devendo ser feita uma ressalva à palavra ‘dies’ (dia), que é feminina, quando se trata de um dia determinado, uma data, mas é masculino, quando se trata de um dia indeterminado. Há raras palavra masculinas e nenhuma do gênero neutro.
Casos da quinta declinação:
Singular
Nom: dies (pron: díes)
Gen: diei (pron: diêi)
Dat: diei
Acus: diem (pron: díem)
Voc: dies
Abl: die
Plural:
Nom: dies
Gen: dierum (pron: diérum)
Dat: diebus (pron: diébus)
Acus: dies
Voc: dies
Abl: diebus
A quinta declinação contém poucas palavras. Exemplos: res (coisa), fides (fé), spes (esperança), meridies (meio-dia).
Deste modo, encerro a apresentação das cinco declinações. A seguir, farei uma apresentação dos adjetivos de segunda classe.
Lição n. 19
ADJETIVOS DE SEGUNDA CLASSE
Os adjetivos em latim são divididos em duas classes, para fins de enquadramento nas declinações. Assim, os adjetivos terminados em “us, a, um” (ex: bonus, bona, bonum) seguem as duas primeiras declinações, ou seja, a forma feminina segue a primeira declinação e as formas masculina e neutra seguem a segunda e são considerados adjetivos da primeira classe. (Veja Lição n. 18)
Os adjetivos que seguem a terceira declinação em todas as suas formas são considerados de segunda classe. Estes adjetivos podem ser uniformes, biformes ou triformes, dependendo de terem uma única forma para todos os gêneros, ou de terem a mesma forma para o masculino e o feminino e uma outra forma para o neutro ou então terem uma forma para cada gênero.
Exemplos de adjetivos uniformes:
Sapiens, sapientis – sábio, sábia; (masculino, feminimo e neutro)
Velox, velocis – veloz – assumem a mesma forma no masculino, no feminino e no neutro;
Exemplos de adjetivos biformes:
Communis, commune – comum; (a primeira forma – communis - corresponde ao masculino e feminino; a outra – commune - é o neutro)
civilis, civile – civil; (civilis = masculino e feminino; civile = neutro)
Omnis, omne – todo, toda. (omnis = masculino e feminino; omne = neutro)
Exemplos de adjetivos triformes:
Celeber, celebris, celebre – célebre, famoso; (masculino, feminino e neutro)
Terrester, terrestris, terrestre – terrestre.
Exemplos dos três casos, usando as palavras 'vir' (subs. Masc. - homem), 'mulier' subs. Femin. - (mulher) e bellum (subs. Neutro – guerra)
vir communis = homem comum; mulier communis = mulher comum; bellum commune – guerra comum;
omnis vir – todo homem; omnis mulier – toda mulher; omne bellum = toda guerra;
vir celeber – homem célebre; mulier celebris – mulher célebre; bellum celebre – guerra célebre;
vir terrester – homem terrestre; mulier terrestris – mulher terrestre; bellum terrestre – guerra terrestre.
Vir velox – homem veloz; mulier velox – mulher veloz; bellum velox – guerra veloz.
CASOS ESPECIAIS
1 - Os particípios presentes dos verbos em latim terminam sempre em ‘ns’ e são conjugados como adjetivos de segunda classe, seguindo a terceira declinação.
Exemplos:
Docens, docentis – docente, aquele que ensina;
Discens, discentis – discente, aquele que aprende;
Laborans, laborantis – aquele que trabalha, o trabalhador;
Dicens, dicentis – dizente, aquele que diz;
Dormiens, dormientis – aquele que dorme.
2 – Quase sempre, os adjetivos desta classe são empregados também como substantivos.
3 – Ao adjetivo empregado na forma neutra plural, desacompanhado de substantivo, na tradução para o português, faz-se necessário acrescentar a palavra ‘coisa’, que em latim fica subentendida.
Exemplos:
Omnia viventia – todas as [coisas] vivas (seres vivos);
Bona iuvant. – as [coisas] boas agradam;
Mirabilia laudo semper. – Louvo sempre as [coisas] admiráveis.
Lição n. 20
GRAUS DOS ADJETIVOS NA LÍNGUA LATINA
Os adjetivos em latim admitem três graus: o normal, o comparativo e o superlativo, da mesma forma como se usa na língua portuguesa. A diferença está no seguinte fato: em português, ao mudar de grau, o adjetivo em geral não muda de forma, recebendo apenas algumas palavras complementares.
Exemplos dos graus dos adjetivos:
Grau normal: O filósofo é sábio.
Grau comparativo: O filósofo é mais sábio do que o marinheiro;
Grau superlativo: O filósofo é o mais sábio de todos os homens.
Conforme se observa, o adjetivo ‘sábio’ não sofreu nenhuma alteração mórfica, recebendo o acréscimo do advérbio ‘mais’ para indicar a mudança de grau. Em latim, porém, o próprio adjetivo sofrerá modificações.
FORMAÇÃO DO GRAU COMPARATIVO EM LATIM
A passagem dos adjetivos para o grau comparativo em latim se faz com o acréscimo do sufixo ‘IOR’ para o marculino e feminino, e ‘IUS” para o neutro. O procedimento para adicionar este sufixo é o mesmo adotado para mudança das desinências nas declinações dos diversos casos, conforme já foi explicado anteriormente, ou seja, encontra-se o radical da palavra e acrescenta-se a terminação ‘ior’ ou ‘ius’, de acordo com o caso.
Exemplos:
O adjetivo ‘pulcher, pulchra, pulchrum’ (belo, bela) segue a segunda declinação nas formas masculina e neutra (nominativo – pulcher, pulchrum, genitivo – pulchri) e a primeira declinação na forma feminina, sendo portanto, adjetivo de primeira classe.
No caso do grau comparativo (mais belo, mais bela), torna-se ‘pulchrior’ (masculino e feminino) e ‘pulchrius’ (neutro).
O adjetivo ‘jucundus, a, um’ (alegre) é também de primeira classe.
Para formar o grau comparativo (mais alegre) transforma-se em ‘jucundior’ (masculino e feminino) e 'jucundius' (neutro).
O adjetivo ‘sapiens’ (sábio, sábia) segue a terceira declinação (sapiens, sapientis), sendo portanto de segunda classe.Do mesmo modo, o adjetivo 'mortalis, mortale'.
Na formação do grau comparativo 'sapiens' fica ‘sapientior’ (mais sábio) – masculino e feminino; sapientius (neutro). Já 'mortalis, mortale' fica 'mortalior' (masc. E fem) e 'mortalius' (neutro).
FORMAÇÃO DO GRAU SUPERLATIVO EM LATIM
Os adjetivos são lançados no grau superlativo com o acréscimo da terminação ‘issimus, issima, issimum’, para o masculino, feminino e neutro. Em português, admitem-se duas modalidades do grau superlativo: o sintético (felicíssimo) e analítico (o mais feliz); porém, em latim, os adjetivos no grau superlativo terão sempre a forma sintética.
Exemplos:
Gravis – gravissimus, gravissima, gravissimum (masculino, feminino e neutro).
Jucundus – jucundissimus, jucundissima, jucundissimum.
Sapiens – sapientissimus, sapientissima, sapientissimum.
Outros exemplos de comparativo e superlativo:
Velox, velocis (veloz) – velocior (comparativo) – velocissimus (superlativo).
Celeber, celebris (célebre, famoso) – celebrior (comparativo) – celebrissimus (superlativo).
Nobilis, nobilis (nobre) – nobilior (comparativo) – nobilissimus (superlativo).
Felix, felicis (feliz) – felicior (comparativo) – felicissimus (superlativo)
Sanctus, sancti (santo) – sanctior (comparativo) – sanctissimus (superlativo).
CASOS ESPECIAIS
1 - Os adjetivos terminados em ‘er’ no masculino, adotam a terminação ‘errimus’ em vez de ‘issimus’ no superlativo.
Exemplos:
Pulcher – pulchrior (comparativo) – pulcherrimus (superlativo).
Niger – nigrior (comparativo) – nigerrimus (superlativo).
2. Alguns adjetivos terminados em ‘ilis’ fazem o superlativo com ‘limus’.
Exemplos:
Facilis, facilis (fácil) – facilior (comparativo) – facillimus (superlativo). OBS: dobra o ‘L’.
Humilis, humilis (humilde) – humilior (comparativo) – humillimus (superlativo).
3. Alguns adjetivos têm formação irregular dos graus comparativo e superlativo, tal qual em português.
Exemplos:
Bonus (bom) – melior (melhor) – optimus (ótimo).
Malus (mau) – pejor (pior) – pessimus (péssimo).
Magnus (grande) – major (maior) – maximus (máximo).
Parvus (pequeno) – minor (menor) – minimus (mínimo).
4. O latim é um idioma pródigo em exceções, isto ocorre também na formação dos graus dos adjetivos. Portanto, além dos casos especiais citados, há ainda diversos outros que podem ser encontrados nas boas gramáticas e que deixam de ser mencionados aqui em virtude da própria natureza elementar destes apontamentos.
APLICAÇÃO PRÁTICA NA CONSTRUÇÃO DE FRASES
1a. situação: comparação entre duas pessoas. Neste caso, usa-se a conjunção comparativa ‘quam’, colocando-se a segunda palavra no mesmo caso da primeira.
Exemplos:
Pedro é mais sábio do que o irmão. – Petrus est sapientior quam frater.
O filho é mais rico do que o pai. – Filius est divitior quam pater.
2a. situação: comparação entre duas qualidades. Neste caso, usa também a conjunção ‘quam’ e a segunda qualidade também fica no comparativo.
Exemplo:
Pedro é mais sábio do que rico. – Petrus est sapientior quam divitior.
3a. situação: superlativo relativo. Quando o superlativo também se refere a outras pessoas ou qualidades, o segundo termo pode ir para o genitivo ou para o ablativo com ‘ex’ ou para o acusativo com ‘inter’.
Exemplo:
Francisco é o mais humilde dos homens. A tradução pode ser:
Franciscus est humillimus hominum. (hominum – genitivo plural de homo, hominis).
Franciscus est humillimus ex hominibus. (hominibus – ablativo plural de homo, hominis).
Franciscus est humillimus inter homines. (homines – acusativo plural de homo, hominis).
Lição n. 21
Nesta lição, apresento os principais pronomes da língua latina. Eles estão declinados e separados pelos gêneros (masculino, feminino e neutro). Quanto aos pronomes possessivos, a sua declinação segue o padrão dos adjetivos, ou seja, o masculino e o neutro seguem a 2a. Declinação, enquanto o feminino segue a 1a. Declinação.
PRONOMES PESSOAIS DO CASO RETO
Ego (eu) Tu (tu) Is, Ea, Id (ele/ela) Nos (nós) Vos (vós) Ii, Eæ, Ea (eles/elas)
PRONOMES PESSOAIS DO CASO OBLÍQUO
CASOS 1a. pessoa 2a. pessoa 3a pessoa
Nominativo (sing)
Genitivo
Dativo
Acusativo
Ablativo me
mei
mihi
me
me te
tui
tibi
te
te se
sui
sibi
se
se
Nominativo (plural)
Genitivo
Dativo
Acusativo
Ablativo nos
nostri
nobis
nos
nobis vos
vestri
vobis
vos
vobis se
sui
sibi
se
se
PRONOMES DEMONSTRATIVOS - HIC (ESSE), HÆC (ESSA), HOC (ISSO)
Nominativo (sing) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo hic huius huic hunc hoc hæc huius huic hanc hac hoc huius huic hoc hoc
Nominativo (plural) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo hi horum his hos his hæ harum his has his hæc horum his hæc his
PRONOMES DEMONSTRATIVOS - ILLE (AQUELE), ILLA (AQUELA), ILLUD (AQUILO)
Nominativo (sing) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo ille illius illi illum illo illa illius illi illam illa illud illius illi illud illo
Nominativo (plural) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo illi illorum illis illos illis illæ illarum illis illas illis illa illorum illis illa illis
PRONOMES DEMONSTRATIVOS - IS (ESTE), EA (ESTA), ID (ISTO)
Nominativo (sing) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo is eius ei eum eo ea eius ei eam ea id eius ei id eo
Nominativo (plural) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo ii eorum iis eos iis eæ earum iis eas iis ea eorum iis ea iis
PRONOMES REFLEXIVOS - IPSE, IPSA, IPSUM (EU PRÓPRIO/A, TU PRÓPRIO/A, ELE/A PRÓPRIO/A)
Nominativo (sing) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo ipse ipsius ipsi ipsum ipso ipsa ipsius ipsi ipsam ipsa ipsum ipsius ipsi ipsum ipso
Nominativo (plural) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo ipsi ipsorum ipsis ipsos ipsis ipsæ ipsarum ipsis ipsas ipsis ipsa ipsorum ipsis ipsa ipsis
PRONOMES REFLEXIVOS - IDEM, EADEM, IDEM (O MESMO, A MESMA, O MESMO)
Nominativo (sing) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo idem eiusdem eidem eundem eodem eadem eiusdem eidem eandem eadem idem eiusdem eidem idem eodem
Nominativo (plural) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo idem eroundem isdem eosdem isdem eædem earundem isdem easdem isdem eadem eorundem isdem eadem isdem
PRONOMES RELATIVOS - QUI, QUÆ, QUOD (QUE [O QUAL], QUE [A QUAL], QUE)
Nominativo (sing) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo qui cuius cui quem quo quæ cuius cui quam qua quod cuius cui quod quo
Nominativo (plural) Genitivo Dativo Acusativo Ablativo qui quorum quibus quos quibus quæ quarum quibus quas quibus quæ quorum quibus quæ quibus
PRONOMES POSSESSIVOS
1a. pessoa 2a. pessoa 3a. pessoa
meus, mea, meum (singular) = meu, minha
mei, meæ, mea (plural) = meus, minhas tuus, tua, tuum (singular) = teu, tua
tui, tuæ, tua (plural) = teus, tuas suus, sua, suum (sing) = seu, sua
sui, suæ, sua (plural) = seus, suas
noster, nostra, nostrum (sing) = nosso, nossa
nostri, nostræ, nostra (plural) = nossos, nossas vester, vestra, vestrum (sing) = vosso, vossa
vestri, vestræ, vestra (plural) = vossos, vossas suus, sua, suum (sing) = seu, sua
sui, suæ, sua (plural) = seus, suas
LIÇÃO N. 22
O MODO SUBJUNTIVO DOS VERBOS
No modo indicativo, os verbos exprimem a ação ou o estado do sujeito de forma direta. No modo subjuntivo, os verbos designam esta ação ou estado de forma indireta. Dessa forma, o presente do subjuntivo pode expressar um desejo ou exprimir uma exortação; o imperfeito do subjuntivo assinala uma condição.
O subjuntivo dos verbos, em português e em latim, é regido geralmente por uma preposição. Por exemplo: UT – que, para que, a fim de que; pode também vir acompanhado de uma interjeição, por exemplo, UTINAM – oxalá, quando se trata de expressões positivas. Usa-se NE (que não, para que não) quando se trata de uma expressão negativa.
Observemos o exemplo do verbo ESSE (SER, ESTAR). No modo subjuntivo, temos:
PRESENTE IMPERFEITO
Sim (seja) Essem (estivesse)
Sis (sejas) Esses (estivesses)
Sit (seja) Esset (estivesse)
Simus (sejamos) Essemus (estivessemos)
Sitis (sejais) Essetis (estivésseis)
Sint (sejam) Essent (estivessem)
a) O SUBJUNTIVO ENQUANTO DESEJO, OU SUBJUNTIVO OPTATIVO
Exemplos:
Ut felix sim. - Para que eu seja feliz.
Ut felices simus. - Para que sejamos felizes.
Utinam felix sis. - Oxalá, sejas feliz.
Ne ægrotus sim. - Que eu não fique doente.
Ignavi ne simus. - Para que não sejamos covardes.
Mater orat ne filius ægrotus sit. - A mãe ora para que o filho não fique doente.
Agricolæ laborant ut divites sint. - Os agricultores trabalham para que sejam ricos (ou para que fiquem ricos).
b) O SUBJUNTIVO ENQUANTO EXORTAÇÃO
Exemplos:
Amici, læti simus. - Amigos, sejamos alegres.
Milites, ignavi ne sitis. - Soldados, não sejais covardes.
Discipuli, ne pigri, sed seduli sitis. - Alunos, não sejais preguiçosos, mas diligentes.
c) O SUBJUNTIVO ENQUANTO CONDIÇÃO
OBS: No latim, o futuro condicional ou futuro do pretérito se confunde com o imperfeito do subjuntivo, portanto, 'essem' pode significar tanto 'eu estivesse' como 'eu estaria', 'eu fosse' como 'eu seria'.
Exemplos:
Contentus essem si Maria sana esset. - Seria (ficaria) contente se Maria estivesse sã.
Magistri contenti essent se discipuli seduli essent. - Os mestres seriam (ficariam) felizes se os alunos fossem aplicados.
Si semper diligenti essetis, patres vestri læti essent. - Se vós sempre fosseis diligentes, vossos pais ficariam alegres.
Puer orat ut pater ejus mox sanus sit. - O menino ora para que o pai dele em breve esteja são.
d) O MODO SUBJUNTIVO NAS QUATRO CONJUGAÇÕES
1a. CONJUGAÇÃO - 'ARE'
PRESENTE IMPERFEITO / CONDICIONAL
Amem (eu ame) Amarem (eu amasse ou amaria)
Ames (tu ames) Amares (tu amasses ou amarias)
Amet (ele/ela ame) Amaret (ele/ela amasse ou amaria)
Amemus (nós amemos) Amaremus (nós amássemos ou amaríamos)
Ametis (vós ameis) Amaretis (vós amásseis ou amaríeis)
Ament (eles/elas amem) Amarent (eles/elas amassem ou amariam)
2a. CONJUGAÇÃO – 'ERE' (longo)
PRESENTE IMPERFEITO / CONDICIONAL
Moneam (eu avise) Monerem (eu avisasse ou avisaria)
Moneas (tu avises) Moneres (tu avisasses ou avisarias)
Moneat Moneret
Moneamus Moneremus
Moneatis Moneretis
Moneant Monerent
3a. CONJUGAÇÃO – 'ERE' (breve)
PRESENTE IMPERFEITO / CONDICIONAL
Legam (eu leia) Legerem (eu lesse ou leria)
Legas (tu leias) Legeres (tu lesses ou lerias)
Legat Legeret
Legamus Legeremus
Legatis Legeretis
Legant Legerent
4a. CONJUGAÇÃO - 'IRE'
PRESENTE IMPERFEITO / CONDICIONAL
Audiam (eu ouça) Audirem (eu ouvisse ou ouviria)
Audias (tu ouças) Audires (tu ouvisses ou ouvirias)
Audiat Audiret
Audiamus Audiremus
Audiatis Audiretis
Audiant Audirent
Alguns exemplos:
Patrem et matrem amemus. - Amemos pai e mãe.
Deus dixit ut amaremus patrem et matrem. - Deus disse que amássemos pai e mãe.
Puer secat alas avium ne volent. - O menino corta as asas das aves para que não voem.
Utinam hodie vocem ejus audiatis... - Oxalá, hoje ouçais a sua voz [voz dele]...
...Ut dirigat pedes nostros in viam pacis. - ... Para que dirija nossos pés no caminho da paz.
LIÇÃO N. 23
VERBOS NA VOZ PASSIVA E VERBOS DEPOENTES
A voz passiva dos verbos em latim se faz com alteração da desinência verbal, sem a necessidade do auxiliar (como ocorre em português), exceto no tempo pretérito perfeito. Veja alguns exemplos:
Verbo LAUDARE (louvar) – 1a. Conjugação
Tempo presente:
Voz ativa: LAUDO, LAUDAS, LAUDAT, LAUDAMUS, LAUDATIS, LAUDANT (eu louvo, tu louvas...nós louvamos...)
Voz passiva: LAUDOR, LAUDARIS, LAUDATUR, LAUDAMUR, LAUDAMINI, LAUDANTUR (eu sou louvado, tu és louvado..., nós somos louvados...)
Tempo passado:
Voz ativa: LAUDAVI, LAUDAVISTI, LAUDAVIT, LAUDAVIMUS, LAUDAVISTIS, LAUDAVERUNT (eu louvei, tu louvaste...)
Voz passiva: LAUDATUS SUM, LAUDATUS ES, LAUDATUS EST, LAUDATI SUMUS, LAUDATI ESTIS, LAUDATI SUNT (eu fui louvado, tu foste louvado... nós fomos louvados...)
Verbo MONERE (avisar) – 2a. Conjugação
Tempo presente:
Voz ativa: MONEO, MONES, MONET, MONEMUS, MONETIS, MONENT (eu aviso, tu avisas)
Voz passiva: MONEOR, MONERIS, MONETUR, MONEMUR, MONEMINI, MONENTUR (eu sou avisado, tu és avisado..., nós somos avisados...)
Tempo passado:
Voz ativa: MONUI, MONUISTI, MONUIT, MONUIMUS, MONUITIS, MONUERUNT
Voz passiva: MONITUS SUM, MONITUS ES, MONITUS EST, MONITI SUMUS, MONITI ESTIS, MONITI SUNT. (eu fui avisado, tu foste avisado... nós fomos avisados)
Verbo LEGERE (ler) – 3a. Conjugação