Escrever é um dom?
Escrever é um dom?
Na prática do ensino de língua portuguesa, ouço muitas e repetidas vezes a frase "eu não tenho o dom de escrever, professor". Na verdade, essa não é uma simples frase, como muitos pensam, trata-se de um discurso já cristalizado em nossa sociedade. E o pior é que esse discurso (difícil de ser derrubado) faz parte do imaginário de muitas pessoas, inclusive daquelas que necessitam da escrita para sua vida diária, seja profissional ou corriqueiramente.
Fato é que o advento das redes sociais e das várias formas de comunicação, advindas da explosão tecnológica, aumentaram e muito o volume de escrita; entretanto, e paradoxalmente, a qualidade não acompanha esse volume. Ou seja, de um lado temos uma sociedade cada vez mais escrevente; do outro lado, contudo, esses escreventes não têm uma escrita 100% satisfatória, digamos assim.
O aumento do volume de escrita não é sinônimo de pessoas pensarem melhor, serem mais críticas, estarem mais atentas às ideologias que buscam nos seduzir nos textos que lemos. Nem, tampouco, é sinal indicativo de uma escrita boa.
Toda pessoa que escreve (se o faz com um objetivo e alcança esse objetivo) pode ser considerado um escritor (a) de sucesso. Pelos medos impostos por muitas situações alguns deixaram de escrever e, com isso, não desenvolveram suas potencialidades como escritor. A esse respeito, a Professora Lucília Garcez disse que "O que vai determinar nosso grau de familiaridade com a escrita é o modo como aprendemos a escrever, a importância que o texto escrito tem para nós e para nosso grupo social, a intensidade do convívio estabelecido com o texto escrito e a frequência com que escrevemos. Consequentemente, são esses fatores que vão definir também nossa maturidade e nosso desempenho na produção de textos." (Técnica de redação. Didio, Lucília; p. 2).
Dessa forma, não devemos imaginar que o processo da escrita, ou o objeto resultado desse processo, seja algo exclusivo de pessoas escolhidas e ungidas. Não, não. Todos (isso mesmo, todos!) podemos produzir bons textos, bastando para isso uma coisa: escrever! Pôr em prática, e no papel, as nossas ideias. Devemos perder o medo da escrita!
Ao contrário do que dizem alguns, a escrita não se aprende quando se lê. Se fosse assim, era fácil aprender a jogar futebol: bastaria assistir às partidas e, pronto, nos tornaríamos em "Pelés". Não, não. Da mesma forma que para jogar bem futebol são necessários treino e prática, assim também o é com a escrita. Se leio bastando o máximo que posso ser é um ótimo... leitor... só... Se escrevo bastante, pratico a escrita, exercito-a, serei um bom escritor. Lógico que leitura e escrita não se dissociam, mas, claro, não são a mesma coisa. Isso é uma outra história.
Em suma - e respondendo ao título deste artigo -, a escrita não é um dom, ela é resultado de muito esforço, dedicação e treino. Para ser um bom escritor tenho que me esforçar, dedicar e treinar. Comece hoje, portanto. É por aí.