"Pelo pelo do animal perebe-se que..." (os desacordos do acordo ortográfico)
Os alunos da escola em que trabalho vieram a mim com uma interessante dúvida: "pelo pelo do animal...", não há acento no segundo pelo? Pois é, essas duas palavras são um exemplo da chamada homografia, isto é, palavras que têm a escrita idêntica mas significados diferentes.
Numa frase como "pelo pelo do animal pode-se descobrir alguns tipos de doença de pele", percebe-se que existem duas palavras escritas de modo igual. Mas não há um acento diferencial entre elas? A resposta é não! Não existe acento em nenhuma das duas palavras, de acordo com o Nova Ortografia.
Antes do advento do Acordo Ortográfico, em 2009, a palavra pelo (substantivo) recebia o acento circunflexo que a diferenciava de pelo (preposição), que não tinha esse acento por ser preposição. Na antiga ortografia, a frase acima ficaria assim: "Pelo pêlo do animal pode-se descobrir alguns tipos de doença de pele". Ou seja, havia, antes, uma diferença. Mas essa diferença morreu com a antiga ortografia. Assim, "pelo pelo do animal pode-se descobrir alguns tipos de doença de pele."
É por essas e outras que o Acordo Ortográfico não é tão bem-visto. Em casos como o das palavras "pôr" (verbo) e "por" (preposição), os acentos continuaram firmes e fortes. Por que razão, então, tirar os acentos que diferenciavam "pêlo" (substantivo) e "pelo" (preposição)? Será que essa mudança ajudou ou atrapalhou?! Olha, do jeito que as coisas andam com a nova ortografia, acho que atrapalho, e muito!
Evanildo Bechara, o Papa da Língua Portuguesa no Brasil, diz que "um acordo ortográfico é feito para as gerações futuras, não para a geração que o faz". Nesse aspecto, concordo com ele. Se fosse feito para nós o entenderíamos com facilidade e, talvez, até percebêssemos coerência nele... Mas deixem as facilidade linguísticas e a coerência dos fatos para as gerações futuras; continuemos na dúvida mesmo!
A sorte é que o tal do (des?) Acordo Ortográfico foi prorrogado. Ele entrará em vigor apenas em 1º de janeiro de 2016. Até lá, escreve-se pêlo (substantivo) com acento circunflexo... O que não podemos fazer é misturar uma grafia com outra, pondo, por exemplo, a palavra "pêlo", com acento - indicando a antiga ortografia - e a palavra ideia, sem acento - indicando a nova ortografia. Isso não! Ou se usa uma grafia ou outra; misturar, nunca!
A dica, então, é a seguinte: no acordo ortográfico "pelo", o do corpo, de animais ou humanos, claro, não tem acento; pelo, preposição, tem acento. É mais ou menos isso.
Walan Araujo