Conversando com o Prof. Littera-Lu sobre vícios de linguagem
Leitor: A palavra “picarete” exitse?
Littera-Lu:Não existe no português nada que seja "picarete". A forma "picareta" é a correta.
Leitor: O certo é Raio x ou Raios x?
Littera-Lu:Dado que nos referimos habitualmente a feixes de raios, recomenda-se «raios X».
Leitor: A pessoa só pode “ROTAR” depois de comer ou beber algo, pois arrotar significa «emitir gases (do estômago) pela boca». Certo?
Littera-Lu: A forma rotar não se encontra actualmente registada nos dicionários. Contudo, regista-se rotar, na acepção de «andar à roda; rodar; girar» (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, disponível na Infopédia).
Leitor: Aquele que ainda não teve o prepúcio amputado é incircuncisado. Não pode ser ‘kiungueiro’ ou ‘kiunga’?
Littera-Lu: As palavras ‘kiungueiro’ ou ‘kiunga’ são usadas, em Angola, para se referir àqueles que não tiveram o prepúcio “amputado”. É provável que tenha proveniência de uma língua de Angola.
Leitor: Inreval é o quê, afinal?
Littera-Lu: As luandenses usam "inreval" para designar uma adversária ou uma concorrente na disputa do mesmo homem, mas está a referida palavra não existe.
Leitor: Você pode me dar exemplos de rivais, em vez de “inrevais”?
Littera-Lu: Por exemplo, o grande rival do Petro é o D’Agosto, porque ambos COMPETEM e CONCORREM para o mesmo fim: ser o número 1 do futebol em Angola.
Leitor: Homem, quando desempregado, fez "biscato"?
Littera-Lu: Não. Homem, quando desempregado, fez biscate.
Em Portugal, usa-se "biscate", mas os dicionários também atestam "biscato".
Leitor: O cão cuata ou “escuata”?
Littera-Lu: A segunda, nem por brincadeira. Não conheço termo “escuatar”. Nunca, em tempo algum, tivemos o em termo causa na língua portuguesa. Nem agora nem na época de Camões. O povo, todavia, quando vê um delinquente, diz (ao seu cão ou cadela): Max,”escuata”!
Não existe o verbo “escuatar”.
Leitora: Seria pior se o povo usasse "escuata", em vez de ladra ou cuata, não seria?
Littera-Lu: Aí seria o máximo de indelicadeza e da deselegância. Ladra, cuata, acata, são as palavras correctas, ainda que muitos digam escuata.
Aliás, o povo também usa picarete, puju, rotar, quando a língua nos recomenda apenas picareta, pus, arrotar.
Leitor: Cuata é o quê, afinal?
Littera-Lu: Muito simples a resposta. Interjeição que exprime incitamento.
Leitor: Alguém já disse, certa vez: O João tem "voz grossa". Acertou?
Littera-Lu: «Voz grossa» é uma forma popular de «voz grave». «Voz fina» é a forma popular de «voz aguda».
Leitor: "Alejar-se" equivale a ferir-se/magoar-se?
Littera-Lu: "Aleijar-se" usa-se popularmente.
Leitor: Caução/Fiança?
Littera-Lu:Indiscutível, a segunda tem apenas uso no Brasil. Na prática, são a mesma coisa. A caução pode ser um tipo de fiança.
Leitor: Alguém, quando engripado, "escarra" ou "assoa" o nariz?
Littera-Lu: Pode assoar o nariz. Se tiver tosse e expetoração, também se pode dizer que "escarra" quando cospe essa secreção.
Leitor: Fulano tem muita roupa/Fulano tem muita peça de vestuário?
Littera-Lu: Pode usar "roupa" para referir-se a "vestuário".
Leitor: O que eu gosto mais/Do que eu gosto mais?
Littera-Lu: A forma mais coerente do ponto de vista gramatical é «aquilo de que gosto mais».
Leitor: Alguém pode dizer «Estou repleto» depois de comer ou beber algo?
Littera-Lu: Em Portugal, no registo informal, diz-se «estou cheio». Pode dizer de forma um tanto hiperbólica «estou repleto», mas esse adjetivo, pelo menos, em Portugal, costuma usar-se para espaços que se encontrem com a sua lotação completa: «o cinema estava repleto».
Leitor: O trânsito está caótico/A estrada está engarrafada/Há congestionamento?
Littera-Lu: Todas elas se admitem, embora a primeira seja própria do registo informal(que pode ser aceitável em certos contextos jornalísticos).