Estrutura da Língua Portuguesa: A significação geral das noções gramaticais do verbo
Resumo do capítulo XII (doze) do livro Estrutura da Língua Portuguesa: A significação geral das noções gramaticais do verbo
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As noções gramaticais do verbo em português se dividem em dois morfemas flexionais: o de tempo e modo e o de número e pessoa. Rigorosamente, apenas o primeiro é propriamente verbal, porquanto o segundo serve para marcar a pessoa prenominal do sujeito.
O morfema flexional propriamente verbal apresenta cumulação das noções de tempo e modo e, às vezes, de aspecto. A primeira caracteriza-se pela relação entre o momento da fala e o momento do processo. A segunda qualifica-se pelo julgamento implícito do falante a respeito da comunicação que faz. Embora sejam noções diferentes, acontece de haver um emprego modal dos tempos verbais. Emprega-se, por exemplo, o futuro sem implicação temporal. Esse fenômeno chama-se emprego metafórico.
A noção de modo apresenta três "especialidades": modo indicativo, modo subjuntivo e modo imperativo. Os dois últimos assinalam uma tomada de posição subjetiva do falante em relação ao processo verbal enunciado (assinalação subjetiva). Entretanto, o subjuntivo depende de uma palavra - advérbio ou mesmo um verbo - que o domina (subordinação sintática), enquanto que o imperativo não depende. O indicativo, por sua vez, não apresenta essa assinalação subjetiva, embora possa possuir um caráter subjetivo e uma subordinação sintática.
A noção de tempo em português apresenta, no modo indicativo, dois sistemas verbais possíveis. O primeiro opõe presente e pretérito. Presente, em face de pretérito, pode expressar presente, futuro ou tempo indefinido (atemporal). Pretérito, por sua vez, apresenta dois sentidos: um pretérito anterior a outro (mais-que-perfeito) e um pretérito inconcluso (imperfeito). Acontece que a forma "mais-que-perfeita" é mínima na língua oral, mesmo dentro do dialeto culto, e a forma "imperfeita" tem, em geral, emprego metafórico, para indicar irrealidade.
O segundo sistema opõe o futuro e o presente, e o futuro e o pretériro. Assim, pode haver o futuro do presente e o futuro do pretérito. O primeiro traz consigo a marca de futuro, a intenção de posterioridade, embora seja conjugado no presente. O segundo, por sua vez, mantendo-se anterior ao presente histórico, marca um acontecimento posterior a um acontecimento anterior.
O tempo verbal, no modo subjuntivo, também apresenta duas divisões. De um lado, a oposição entre presente e pretérito. Assim, indica-se passado nas orações precedidas de talvez ou nas orações subordinadas relacionadas com um verbo indicativo pretérito da oração principal. De outro lado, tem-se a oposição entre pretérito e futuro nas orações subordinadades condicionais.
O infinitivo, como dito no segundo parágrado, é como um subjuntivo sem subordinação sintática e, embora se confunda formalmente com ele, apresenta somente o tempo presente.
O que falta até aqui é falar das formas nominais, ou seja, do infinitivo, do gerúndio e do particípio. O primeiro costuma ser considerado como o nome do verbo por ser uma forma sem implicações de tempo, aspecto ou modo. O segundo apresenta a noção de aspecto imperfeito por marcar uma ação inconclusa, além de ser, morfologicamente, uma forma verbal. Por último, o particípio é de aspecto perfeito por marcar um processo concluso e que, por esse motivo, apresenta valor de pretérito ou de voz passiva. Entretando, não se deve confundi-lo com uma forma verbal, mas caracterizá-lo como um nome adjetivo, que expressa um processo que se passa em um substantivo.