O Houaiss e você
Por força da profissão e do trabalho, Luiz Antonio Sacconi foi obrigado a analisar página por página do calhamaço, que é o Dicionário Houaiss. Aqui, agora, algumas (apenas algumas) das coisas mais “interessantes” que o gramático Luiz Antonio Sacconi encontrou:
1. Conto-da-carochinha, todo o mundo sabe o que é. Mas… conto-da-carochinha é de gênero masculino ou de gênero feminino? Qualquer criança sabe que conto-da-carochinha é uma palavra composta de gênero masculino: O conto-da-carochinha. Consultem, no entanto, a página 819 do Houaiss e vejam qual o gênero que ele dá para essa palavra. (E isto não é um conto-da-carochinha…)
2. No mesmo verbete, CONTO-DA-CAROCHINHA, na acepção 2, ele traz conto-de-fadas. Tentem achar o verbete CONTO-DE-FADAS no dicionário e veja se encontram! Sim, vocês vão encontrar conto de fadas (sem hifens) no verbete CONTO. Mas eu não pedi que procurassem conto de fadas. Eu pedi que procurassem CONTO-DE-FADAS (com hifens e substantivo composto) que é o que ele traz no verbete CONTO-DA-CAROCHINHA.
3. Se algum de vocês estiver prestes a comprar um helicóptero, cuidado! Para o Houaiss, não existe HELIPONTO. Assim, para esse dicionarista não há em nenhum lugar do mundo um pedacinho de solo ou de espaço destinado a pouso e decolagem do seu helicóptero, o que pode ser perigoso!… Afinal, pousar onde? Apenas no heliporto? Então, qual a vantagem de um executivo adquirir um helicóptero, se for obrigado a pousar bem distante do seu local de trabalho, o heliporto?
4. É natural que uma pessoa que adquira um calhamaço desses, de quase 3.000 páginas, não quer sentir-se frustrado, ao procurar um verbete. Mas tentem procurar CHAGÁSICO no Houaiss! Veja se encontram! E CARTOGRAFAR? (Esta nem no outro, o Aurélio, existe.) E CARSTE? E INTITULAMENTO? E RURALIZAÇÃO? E SAMONGA?
5. Em BERBERINA, o Houaiss fornece uma fórmula química errada do alcalóide. No lugar de H18 deve ser H19 e no lugar de NO4 deve ser NO5. Se alguém seguir a fórmula do dicionário e houver uma explosão, quem se responsabilizará?…
6. Tentem comparar SUBVERBETE do Houaiss com SUBVERBETE do Aurélio. Vejam que coincidência!… Mas coincidências, afinal, são coisas da vida…
7. SUCATEIRO é adjetivo? Não é. Mas o Houaiss dá esse nome como adjetivo.
8. O Houaiss registra direitinho QUEBRA-CABEÇA, no que não faz mais que obrigação. Mas no verbete TANGRAMA, usa “quebra-cabeças”. Afinal, o correto é o quebra-cabeça ou “o quebra-cabeças”?
9. Por favor, vão até o verbete TORÇÃO e reparem na definição da acepção 8! Repararam? Agora, uma perguntinha (marota): um órgão pode fazer um movimento de rotação “sobre ele” mesmo? Será que se fizesse o movimento sobre si mesmo, não seria um movimento mais coordenado?…
10. Imprecisões técnicas existem a mancheias no Houaiss. Por exemplo, no verbete CONCEITISTA, que ele dá como adjetivo e substantivo de dois gêneros. Ora, um substantivo de dois gêneros (ou substantivo comum-de-dois) não pode ser definido assim: “que ou aquele que…”, mas sim que ou pessoa que…, já que não se trata de um substantivo masculino, mas de um substantivo comum-de-dois, ou seja, refere-se tanto a homem quanto a mulher. Definindo como “que ou aquele que…” ele deixa as mulheres de lado e comete uma imprecisão técnica. E, nos dias de hoje, deixar as mulheres de lado não parece ser uma boa política. Aliás, nunca foi…
(E saber que, quando saiu o Houaiss, a Veja ficou eufórica: estampou na capa a foto do dicionário com a legenda Habemus papam. Esse papa abençoa?…)