Os exageros na escrita e na fala
Uma das características do bom escritor (e do bom falante) é a de fugir dos exageros. O dicionário Houaiss Conciso define exagero como “qualquer coisa além do normal ou do razoável; exorbitância, exageração”. Todas as vezes, portanto, que escrevemos (ou falamos) algo, temos de tomar muito cuidado para não cometermos exageros, como se a nossa opinião fosse a única verdadeira.
Todo assunto tem, pelo menos, dois pontos de vista distintos. E quando digo que “todo assunto tem, pelo menos, dois pontos de vista distintos”, não estou indo contra aquilo contra o quê escrevo aqui! Veja, por exemplo, a questão da descriminalização da maconha. Há, pelo menos, dois pontos de vista; aquele de quem se põe contra a descriminalização e aquele de quem se põe a favor. E é justamente nesse ponto de choque que nascem os exageros.
Ao escrever e ao falar, nós estamos construindo a imagem que desejamos veicular de nós mesmos, por meio de nossa formação ideológico-discursiva. Se demonstro ser uma pessoa fechada às opiniões diferentes da minha mostro, também, ser uma pessoa com a qual não se pode estabelecer diálogos. E isso tudo é fruto dos exageros, que ocorrem tanto na escrita quanto na fala.
Se eu digo que “a descriminalização da maconha irá melhorar o combate ao tráfico”, estou sendo exagerado, afinal de contas a descriminalização pode trazer, segundo a visão de outras pessoas, muitos males à sociedade. Faça uma pergunta a esse respeito a algumas pessoas e perceberá muitas diferenças, pois cada uma dará uma opinião fundamentada em suas ideologias. Por isso é que é importante – e necessário – ter um discurso sem exageros e, portanto, mais aberto à racionalização das várias visões dentro de sociedades heterogêneas como a nossa.
O Manual de Redação e Estilo do jornal O Estado de São Paulo trata desse tema e dá uma dica muito importante. Na página 36 lemos o seguinte: “Evite afirmações definitivas, categóricas, que tentem impor a todos uma verdade no mínimo passível de discussões”.
Ou seja, quando estamos falando ou escrevendo a respeito de um assunto polêmico, devemos tomar o cuidado de não querer que o outro aceite, de qualquer maneira, nossa visão a respeito do tema em pauta, sob pena de parecermos pessoas que não se abrem para o debate e a troca de ideias sadios.
É claro que nós não podemos resumir o tema “exageros na escrita e na fala” ao que aqui foi escrito; ainda há muito a ser dito. Mas se nós nos propusermos a ter um texto, um discurso, com menos exageros, com certeza teremos relações interpessoais mais harmoniosas.
Respeitar todas as formas de compreensão de um mesmo objeto, de uma mesma realidade, é, sem dúvida alguma, característica do bom escritor, do bom falante e do bom cidadão.
Walan Araujo.