1.ª não é a mesma coisa que 1ª, Domingos Ivan!

DO LEITOR JOSÉ ARMANDO CAFRIQUE, DE LUANDA:

__«Littera:

Hesitei sobre se estaria perfeitamente dentro da norma a seguinte frase, que se me deparou no seguinte post __”do Prof. Domingos Ivan MEIO/MEIA/MEIOS/MEIAS (Concordância)” [Código do texto: T4611704, datado de 14.12.20013]:

«Evite, pois, ser objeto de irrisão! Se um concurso, por exemplo, fizer referência à concordância apresentada na “1ª” PARTE desse texto, você possui o conhecimento sobre essa concordância. Não mencionando, use e viva com a concordância da “2ª “ PARTE. O sucesso será inevitável!.»___

Tem razão em hesitar; e mais razão terá em repudiar aquela frase, como estranha ao cumprimento do obrigatório ponto na grafia dos ORDINAIS e semelhante à ... Em bom português, escrever-se-ia: 1.ª PARTE e 2.ª PARTE.

As citações são do Prof. Ivan, mas bem podiam ter sido de qualquer outro autor do Recanto das Letras , tal a generalizada negligência no cumprimento do obrigatório ponto na grafia dos ORDINAIS. Qualquer ABREVIATURA, como é o caso, obriga a levar o sinal respectivo, o ponto:«1.ª, 2.ª e 3.ª conjugações» [Nova Gramática do Português Contemporâneo, edições João Sá da Costa, pág. 402]; «1.ª oração, 2.ª oração (…)» [Moderna Gramática Brasileira, de Celso Pedro Luft, Editora Globo, São Paulo, pág. 92]; «Emprega-se o acento agudo na 3.ª pessoa do singular [os derivados de ter e vir: contém, retém, intervém, advém» [Manual Prático de Ortografia, de José M. Castro Pinto, Plátano Editora, Lisboa, pág. 119].

Não pôr ponto nestes casos – como cada vez mais é prática negligente nos textos de autores do Recanto das Letras–, para além do desrespeito às normas inerentes a qualquer língua minimamente prezada , dá lugar a todas as ambiguidades. Por exemplo, 2º não é a mesma coisa que 2.º, pois 2º pode ser interpretado como dois levantado a zero, isto é, um.

O ponto é indispensável nas palavras abreviadas, significando que alguma coisa foi retirada. Por exemplo, na abreviatura Eng., o ponto significa que foram retiradas as letras 'enheiro'; e, numa possível abreviatura Eng.º, que foram retiradas as letras intermédias 'enheir'. Logo, não faz sentido inscrever o ponto depois do índice superior, pois que a supressão de letras é anterior

Por exemplo, em 2.º, o ponto significa que o cardinal se deve ler 'segundo', com a terminação da palavra em índice superior (que podia ser a, de segunda). Esta é a lógica.»

(Vide José Mário Costa, «2º não é a mesma coisa que 2.º», Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.)