MEIO/ MEIA/ MEIOS/ MEIAS (Concordâncias)

AOS ESTUDANTES, AMANTES, ESTUDIOSOS, CURIOSOS E PROFESSORES DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Obs.: Leia somente se você tiver muita paciência. Se você tiver interesse por aprofundamento, curiosidades, detalhes. Este é um texto que aprofunda este assunto. Não leia apenas em parte. Leitura fragmentada produz interpretação fragmentada ou errada. Penso que este conteúdo não deve ser lido por quem tenha menos de 12 anos, visto que esta é uma reflexão mais profunda. O básico está no outro texto: MEIO/ MEIA.

COMECEMOS!

1ª PARTE

O “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 3ª edição revista e atualizada, ano 2004, Editora Positivo, na página 1303, registra o verbete MEIO. Na página seguinte (1304), sobre essa palavra, registra:

“Adv. 22. Por metade; um pouco; um tanto; quase: Anda MEIO doente. [Há muitos exemplos, no português antigo como no moderno, desse advérbio flexionado (caso de concordância por atração): ‘a cabeça do Rubião MEIA inclinada’ (Machado de Assis, Quincas Borba, p. 67); ‘casou MEIA defunta’ (Id., Várias Histórias, p. 97); ‘a mesma mulher, sempre nua ou MEIA despida’ (Eça de Queirós, A Cidade e as Serras, p. 366); ‘Uns caem MEIOS mortos, e outros vão/ A ajuda convocando do Alcorão’. (Luís de Camões, Os Lusíadas, III, 50); ‘Cinzeiros com cigarros MEIOS fumados’ (José Régio, Histórias de Mulheres, pp. 45-46).]”

LUIZ ANTONIO SACCONI, em “Nossa Gramática Contemporânea: teoria e prática”, 1ª edição, Escala Educacional, na página 305, registra: “... Como advérbio, normalmente não varia. Ex.: Ela ficou MEIO nervosa. Eles estão MEIO desconfiados. Mas pode variar, por concordância atrativa. Ex.: Ela estava MEIA nua. As crianças ficaram MEIAS nervosas.

NOTA – TODO, em função adverbial, não varia, mas também pode sofrer concordância atrativa. Ex.: As crianças chegaram todo (ou todas) molhadas. Ela ficou todo (ou toda) orgulhosa”.

Obs.: Não me oponho a nada disso!

2ª PARTE

IMPRESCINDÍVEL:

Faz-se necessário dizer: SERÁ MOTIVO DE ZOMBARIA, DE SARCASMO quem, no dia a dia, seja em público ou numa conversa com amigos, seguir a concordância atrativa acima apresentada. Por quê? Porque essa não é a concordância defendida pela gramática normativa; não é a concordância da norma-padrão. Segundo a norma-padrão, em todos os casos acima, o certo é dizer e escrever: MEIO. Veja que os exemplos acima são PECULIARIDADES da literatura.

É mister reconhecer que, na hora de um concurso, na hora de falar em público, ou mesmo apenas numa conversa com amigos um pouco familiarizados com a norma-padrão da língua portuguesa, a concordância atrativa supracitada não tem espaço, chega até a ser IRRISÓRIA.

No texto MEIO/MEIA, eu apresentei a concordância gramatical. É esta a concordância ensinada nas escolas. É esta a concordância que usamos quando nos dirigimos ao público. É esta a concordância oferecida pela gramática normativa.

Eis, então, a concordância da norma-padrão:

MEIO (advérbio): UM POUCO, NÃO TOTALMENTE, é invariável, não varia, ou seja, permanece sendo MEIO. Ex.:

João está MEIO pensativo. Vocês/eles estão MEIO pensativos.

Sophia está MEIO calada. Elas estão MEIO caladas.

Por que você está MEIO triste?

Uma tarefa MEIO (não totalmente) acabada.

Quando significa METADE, a palavra MEIO varia. Ex.:

Pedro comeu MEIA pizza.

Obs.: MEIO é uma palavra que possui muitos outros significados e usos. Ex.:

Meios (recursos financeiros), meio de transporte, meio de comunicação, meio ambiente, por meio de, meio a meio.

Eu poderia citar muitos gramáticos, professores e estudiosos que dizem: como advérbio, MEIO é invariável. No entanto, apresentarei apenas alguns. Não quero ser prolixo. Quero ser breve e claro, ainda que a brevidade, como se nota, é impossível.

Eis alguns que me autorizam a dizer o que eu digo:

Dad Squarisi, no livro “Dicas da Dad: português com humor”, ano 2006, na página 231.

Eduardo Martins, no livro “Os 300 Erros Mais Comuns da Língua Portuguesa”, ano 2009 (uma obra póstuma), na página 16.

A “Moderna Gramática Portuguesa”, 2009, de Evanildo Bechara, na página 549.

A “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”, 2008, de Domingos Paschoal Cegalla, na página 445: “A porta estava MEIO aberta; As meninas ficaram MEIO NERVOSAS; Os sapatos eram MEIO velhos, mas serviam”.

A “Gramática do Concursando”, 18ª edição, 2009, de José Almir Fontella Dornelles, na página 224.

O “Caldas Aulete: dicionário escolar da língua portuguesa: ilustrado com a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo” (2º ao 5º ano), 2011, nas páginas 302 e 303.

O Professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva, no livro “O Português do Dia-a-dia: como falar e escrever melhor”, 2004, na página 109.

O LUIZ ANTONIO SACCONI, na “Gramática Básica”, Escala Educacional, na página 237, que afirma: “MEIO só varia quando é adjetivo (e, neste caso, modifica substantivo)”.

Obs.: Veja: o mesmo gramático com posições diferentes. Pelo menos nesta obra, na página 237, ele apresenta somente o que é padrão. Não apresenta concordância atrativa.

O “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, 2009, na página 1267, que registra: “Adv. 22. Por metade, não totalmente (uma tarefa meio acabada). 23. Algo, um tanto, um pouco (hoje ela acordou meio triste)".

Para concluir, analise esta frase:

O POVO brasileiro ESTÃO sofrendo.

O que você acha dessa concordância? Está certa ou errada? Saiba que, de certo modo, ela está totalmente correta. É isso mesmo! Está totalmente correta. Esse tipo de concordância é chamado de SILEPSE DE NÚMERO, ou seja, a concordância não é gramatical, a concordância é com a IDEIA transmitida pela palavra POVO, que é a IDEIA de MUITAS PESSOAS. Sabemos que POVO indica MUITAS PESSOAS. No entanto, ninguém se arrisca a escrever ou falar assim. De acordo com a gramática normativa, de acordo com a norma-padrão, o certo é:

O POVO brasileiro ESTÁ sofrendo.

Ora, POVO (sujeito) é uma palavra no singular. O verbo (ESTAR) deve ficar no singular (ESTÁ). Eis o padrão!

Sendo assim, na hora de falar ao público, na hora de participar de um concurso, na hora de conversar com alguém que tenha um pouco de familiaridade com a norma-padrão da língua portuguesa, na hora em que estiver fazendo uma redação ou outro trabalho da ou na escola, na hora em que estiver numa entrevista de emprego, na hora em que precisar se dirigir a alguma autoridade, na hora em que você quiser obedecer à gramática normativa, use sempre MEIO (advérbio), sem MEIOS, MEIA OU MEIAS. Ex.:

Você está MEIO triste? Vocês estão MEIO tristes?

Você está MEIO abatido (a)? Vocês estão MEIO abatidos (as)?

Estou MEIO cansado. Estamos MEIO cansados.

Um trabalho MEIO acabado. Trabalhos MEIO acabados.

Trabalhos MEIO cansativos.

Evite, pois, ser objeto de irrisão! Se um concurso, por exemplo, fizer referência à concordância apresentada na 1ª PARTE deste texto, você possui o conhecimento sobre essa concordância. Não mencionando, use e viva com a concordância da 2ª PARTE. O sucesso será inevitável!

Deixemos os casos mostrados pelo Dicionário Aurélio para a linguagem literária! Lembre-se de que usar bem o nosso idioma significa falar e escrever de acordo com o ambiente e o momento. Para cada lugar há uma linguagem específica e certa. Na hora de namorar, por exemplo, seja livre para se expressar!

Neste momento, eu dirijo os meus parabéns ao advogado militante e Professor David Fares. Fico grato por ele ter entrado nessa reflexão e me provocado a aprofundar este assunto. Eu sempre digo aos meus alunos que se eles não falarem nada, se não perguntarem nada, eu não aprofundarei o assunto exposto, porque só mostrarei o básico, o fundamental para a vida e para o exercício da cidadania. Todo questionamento, sendo respeitoso, é sempre bom. Questionar é uma grande arte.

Parabéns, David Fares! Fique à vontade para comentar os meus textos, para se opor a eles, para me questionar. Ninguém cresce sem ser questionado.

É isso!

Um forte e cordial abraço!

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 14/12/2013
Reeditado em 14/12/2013
Código do texto: T4611704
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