* Eu quero falar sobre as metonímias.
 
Pretendo explicar o assunto de uma forma bem descontraída.
 
Após diversas aulas, concluindo as lições do ano letivo revisando as orações reduzidas de infinitivo e tentando mostrar como evitar confundir as adverbiais causais com as coordenadas explicativas, percebendo que o aluno não entendeu bulufas, o professor precisa pegar leve.
 
* Os queridos amigos do Recanto, caso desejem efetuar leituras repletas de sensibilidade, encanto e ternura, não podem ficar sem conferir os inspirados textos da autora Cle.
 
Vocês afirmarão satisfeitos demais:
“Adoro ler Cle!” ou “Não posso deixar de conferir Cle.”.
 
Certamente ninguém estará lendo Cle, mas algum formidável texto dela, ou seja, citamos a autora querendo dizer que lemos a obra da pessoa.
 
Eis uma metonímia habitual.
 
* Quando as mães mandam “Vá ali e compre um Bombril!”, se o filho comprar a lã de aço Assolan, ela não ficará chateada.
 
Eis uma metonímia também muito comum.
O produto, que é a lã de aço, passa a ser confundido com a marca mais tradicional e consagrada.
 
Isso também ocorre na hora de comprar uma água sanitária.
Eu costumo preferir a água sanitária Qboa, a verdinha e original, porém alguém dirá “Querida, não esqueça de pegar uma Qboa” e verá depois a esposa segurando outra marca do produto sem conflito algum.
 
Não sei explicar o motivo, porém, se compramos sabão em pó, é preciso especificar a marca.
A metonímia, presente nos dois últimos exemplos, não ocorre dessa vez.
 
Eu só compro Omo, mas você fica à vontade para levar o seu sabão em pó predileto.

* Durante a ceia natalina, acontece um exemplo de metonímia curioso e divertido.
Costumamos escutar: “O peru estava saboroso!”, “Ele quis dormir cedo, deixou o peru para o outro dia.”
 
Na atualidade o “peru” muitas vezes não é exatamente o peru.
Na hora de comprar levamos o Chester, o Fiesta, o Freski e outras marcas disponíveis.
 
* Qual é a diferença, Ilmar?
 
Apenas as empresas são diferentes.
Comparando o produto, a ave, eliminando um detalhezinho aqui e outro acolá, tudo é a mesma coisa, ou seja, estamos consumindo frangos os quais recebem uma alimentação especial e viram “superfrangos”.
Quem começou a colocar essas aves no mercado provavelmente assistia bastante aos filmes com super-heróis.
 
Nessa história “metonímica”, o único diferente seria o velho peru.
 
Para resumir, podemos dizer que existem os frangos e os perus, tipos de aves pertencentes aos galináceos.
Os frangos são os filhos dos galos e das galinhas, na fase juvenil.

As aves natalinas, que não são perus, são os superfrangos.
 
* Na prática ninguém quer saber disso.
 
Todos só falam no peru.
 
A marca “Chester” só ganha uma certa fama na hora de comprar.
Depois o superfrango perde os superpoderes e é menosprezado.
 
No momento do consumo, parece que todos estão saboreando um peru. Não interessa se a ave é um franguinho ou um poderoso frango, as pessoas sempre destacam o peru, o primo tradicional.
 
* Eu diria que ocorre uma grande sacanagem metonímica.
 
A galera saboreia diversas aves, geralmente os superfrangos, curte a ceia com total gula, porém a fama fica apenas com o peru.
 
Claro que nós estamos falando sobre um reconhecimento póstumo.
Peru ou superfrango, eles cedem a vida favorecendo o paladar dos homens comilões comemorando o solidário Natal.
 
Apesar de saber que as aves não podem presenciar a homenagem, todos ficam revoltados vendo elas humilhadas e ignoradas.
 
Por que somente o peru prova a glória da fama?
 
* Fazendo um estudo menos emotivo, veremos que a vida apresenta suas compensações também no terreno dos galináceos.
 
O peru, esse farsante intrometido, que tanto desfruta elogios e adjetivos sem merecer, não terminará a festa natalina impune.
 
Mais tarde, durante a “Missa do Galo”, esquecem o nosso amiguinho e destacam o macho da galinha, o frango que superou a fase juvenil.
 
A cerimônia católica vai destacar o galo, punindo o convencido peru de uma forma bem severa e implacável.
 
Enquanto o peru ganha destaque após perder sua vida, maltratando os frangos vitaminados ou superfrangos, humilhando os seus parentes, o galo recebe aplausos sem sofrer qualquer arranhão.
 
Parece que todo o reino animal sai vitorioso nesse episódio, entretanto o único que pode rir é o galo.

O galo permanece vivo, tão vivo, que, objetivando compensar o enorme sentimento de culpa o qual passa a experimentar, sem poder contar com os psicólogos (no reino animal não há psicólogos), ele decide cantar anunciando a chegada de uma nova manhã.
 
* É o mínimo que os galos acreditam ser necessário fazer!
 
Eles desejam assim homenagear os perus ignorados na hora da missa.
 
Em relação aos superfrangos, saboreados e nunca citados, os galos agem como heróis vingadores, no entanto eles são inocentes, jamais agem querendo ferir a honra dos perus.
 
Somente os católicos podem explicar o fato do dono da missa ser o galo quando a lógica recomenda que os perus merecem nomear a santa celebração.
 
* Esquecendo as injustiças e polêmicas as quais envolvem o assunto, é muito importante você compreender que o peru, não sendo o peru na hora da ceia, se continuam falando em peru, serve como um excelente exemplo de metonímia.
 
* Agora preciso encerrar, pois está na hora de curtir um ótimo chuveiro.
Percebam que usei outra metonímia, pois vou curtir o banho que o meu chuveiro permite efetuar.
 
Espero que vocês tenham aprovado a minha explicação e nunca mais voltem a considerar o vocábulo “metonímia” um desconhecido palavrão.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 11/12/2013
Reeditado em 11/12/2013
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