REMONTANDO AOS TEMPOS CLÁSSICOS
1. Ourives/Ourívez?
Para mim, ourives. O “z” final, em palavras paroxítonas ou “graves”, ainda não vai desta. Virá depois, quando no espírito geral entrar a convicção de que a forma de cada palavra tem a sua primitiva razão de ser e que o arbitro ou o uso inconsciente só aproveita à ignorância.
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2. Direito/Direicto?
Direito é forma evolutiva, popular, em que o “i” substituiu o c. Só o Houaiss e o Aurélio seriam capazes de regist[r]ar direicto. Já agora… Se quiserem escrever torto…
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3. Idéa, chéa, alcatéa?
Há vantagem em representar por ei o valor ditongal é: alcateia, cheia, ideia… E daqui não se conclua que se deve escrever “ideiar”, “ideialidade”, o que é tolice, embora perpetrada por muito boa gente.
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4. Receo, passeo, passeiar, receiar, céa?
O i não veio, (ou não vêo, como diziam os antigos), não veio para a ideia, passeio e ceia, por motivos etimológicos; veio por motivos fonéticos, que não o justificam nos verbos respe[c]tivos.
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5. Cranio/Craneo?
O grego kranion e o latim cranium mandam escrever, em português, crânio.
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6. Aceitar/Acceitar?
Os dois cc não têm razão fonética nem racional, e por isso escrevo sempre aceitar.
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7. Igreja/Egreja?
Escrevem muitos egreja, uns por hábito, e outros por suporem que a etimologia da palavra é o latim ecclesia, que começa por i.
Cândido Figueiredo, gramático português escreve: «Ora, o latim ecclesia o que produziu foi eiglésia, donde saiu eigrésia, e depois eigreja, antigo vocábulo português, que, pela sua evolução, perdeu o e inicial, ficando igreja, que é como escreveram sempre os mestres. O antigo deminutivo igrejó, (fórma evolutiva de igrejola ou igrejório), inda perdeu mais: deixou até o i, e ficou grejó ou grijó, conservado hoje na designação de uma povoação nossa: Grijó». (In “Falar e escrever – Novos estudos práticos da língua portuguesa ou consultório popular de enfermidades da linguagem”, p. 320. Manteve-se a grafia de origem).
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8. Erva/Herva?
Os que escrevem herva, não digo que a comem, mas comem queijo e esquecem-se de que se a palavra é de carácter popular, e de que, se ela tem h no latim (herba), também tem b que deveria respeitar-se, se o h merecesse respeito. E assim é que, nas palavras eruditas, que se relacionam com erva, mantemos o h e até o b: herbáceo, herbívoro, herborizar, herbolário, etc. Aqui sim: h e b.
António Afonso Borregana, filólogo português escreve: «Por vezes, os hábitos linguísticos sobrepõem-se à etimologia, suprimindo o h, por exemplo, em: erva (lat. herba) e seus derivados, como ervanário ou erbanário». (In “Gramática Universal da Língua Portuguesa”, p. 64.)
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9. Joseph/Nazareth?
Emprega-se o h em nomes próprios de origem hebraica, nos grupos finais ch, ph e th, desde que se pronunciem: Moloch, Loth…
Mas, em José (Joseph) e Nazaré (Nazareth) desaparecem as duas consoantes finais porque não se pronunciam.
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10. Oiro?
Tem apenas o inconveniente de que não é usada; e, como “oirives” não é erro, e é usado, vamos com o uso. É o caso do … e do ...
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11. Secção deve ler-se como sessão?
Não, embora a tendência seja para se tornar nulo na pronúncia o primeiro c, como já se observa em acção, actual, refracção…
Em Portugal, escreve-se "secção" e diz-se "séksão", com é aberto e [k].
No Brasil, escreve-se "seção", pronunciado 'séção' ou 'sêção', de forma idêntica ou parecida com a pronúncia de "sessão".
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12. Outubro
Castilho preferiria Oitubro. O pior é que nós todos dizemos Outubro; e como não é erro.
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13. Scena/Cena?
Quanto à queda do s inicial antes do c, é facto geral em ortografia espanhola, (cetro, ciência, etc.); e, quando ele se mantém, é precedido de e, como em escena = português cena (scena, antigamente).
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14. Porque é que escreve agora e não haghora, (do latim hac hora)?
Porque é palavra, que pertence à linguagem corrente e a fonética popular não conhece letras inúteis.
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15. Farmácia/Pharmacia?
Farmácia é a forma preferida pelos que se não finem de amores por inutilidades gráficas.
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16. Asanhar/Assanhar?
De sanha não se fez asanha, fez assanhar.
BIBLIOGRAFIA:
BORREGANA, A. A. (2009). “Gramática Universal da Língua Portuguesa”. Luanda: Texto Editores.
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
FIGUEIREDO, Cândido de. (1926). “Falar e escrever – Novos estudos práticos da língua portuguesa ou consultório popular de enfermidades da linguagem”, 3.ª Edição melhorada. Lisboa: Livraria Clássica Editora.