ORIGEM DA CRASE

A palavra crase vem do grego "krâsis" que quer dizer fusão, mistura. Surgiu da necessidade de evitar-se o hiato - o choque deselegante das vogais "aa".

É uma figura de gramática que consiste na fusão de dois sons iguais. Resumindo: é a contração da preposição "a" com outro "a" ou com "o".

Antigamente, em época que nos foge à memória, os clássicos da língua não se preocupavam com o abalroamento dos "aa", escreviam assim:

- Irei aa festa.

- Falei, ontem aa professora.

- A casa é boa: refiro-me aa que comprei.

- Praza aos céus que ele se veja em situação análoga aa do Mandarim.

- Estão os médicos assustados diante de um surto de gripe que se assemelha aa de 1918.

- Dirija-se a aquela senhora que está de pé.

- Refiro-me a aquele menino que acaba de sair.

- Reporto-me a aquilo que me contastes ontem.

Foram inúmeros os autores da velha escola portuguesa que nos deixaram interessantíssimos dessa maneira de escrever. Numa rápida visita aos arquivos vêm-se textos em que se ressalta essa forma de grafar.

Com a evolução natural do idioma, o ouvido clássico moderno, talvez obedecendo a um imperativo da boa fonética, decidiu evitar o atropelamento dos "aa".

Compreenderam? O acento grave é o traço característico dessa cominação, e quer dizer: "moram aqui dois "aa". Escrevemos portanto não como os antigos faziam , e sim:

- Irei à festa. Falei, ontem, à professora. A casa é boa; refiro-me à que comprei. Praza aos céus que ele se veja em situação análoga à do Mandarim, etc.

A grafia dos "aa" pertence ao passado do nosso idioma. Esquecida hoje em velhos textos que se perdem na poeira dos arquivos, essa forma original de escrever para nós só tem valos histórico.

CASOS EM QUE SE NOS AFIGURA A NECESSIDADE DE FUNDIR "AA" EM "Á".

Estudaremos de maneira clara e compreensível as três situações distintas em que ocorre, particularmente, o encontro das duas vogais.

Identificando-se o leitor com os casos em que há necessidade de transformar-se "aa" em "à", fica ele em condições mais vantajosas de rever o mérito da questão.

Em três hipóteses dá-se o encontro de "aa".

O primeiro "a" (coisa que não devemos esquecer) é sempre preposição e pode colidir:

1 - com o artigo feminino a;

2 - com o pronome a;

3 - com o a inicial dos demonstrativos aqueles, aquela, aquilo.

Exemplo dor três casos:

Preposição Artigo

Falei ontem A A professora.

A casa é boa; pronome

refiro-me A Que comprei.

Dirija-se aquele menino que acaba de sair. A

Refiro-me A Aquela senhora que está d e pé.

Reporto-me A Aquilo que me contastes ontem.

Está aqui o princípio em torno do qual podemos construir a nossa base de partida. Sempre que houver o encontro da preposição"a" com outro "a" - que pode ser artigo, pronome pronome ou a inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aquilo - escrevemos "aa".

Outros exemplos ilustrarão o que desejamos explanar. É indispensável um treino mais amplo para que o leitor possa fazer com segurança a distinção dos três casos determinantes de crase.

(Segue a matéria, parei devido o editor de texto não caber). Em breve escreverei o artigo completo, que sei ser de muito interesse a muitos.

Joel Vieira.