GRAMÁTICA PEDAGÓGICA OU GRAMÁTICA HISTÓRICA?
Lingu@ Nostr@ - Revista Virtual de Estudos de Gramática e Linguística do Curso de Letras da Faculdade de Tecnologia IPUC – FATIPUC.
ISSN
www.linguanostra.ipuc.edu.br – linguanostra@ipuc.edu.br – Canoas/RS, Volume 1, Número 1, janeiro / junho de 2013.
BAGNO, Marcos. Gramática Pedagógica do Português Brasileiro. São Paulo:
Parábola Editorial, 2011.
GRAMMAR TEACHING OR HISTORICAL GRAMMAR?
Arlinda Maria Caetano Fontes*
A recente publicação da Gramática Pedagógica do Português Brasileiro, de
Marcos Bagno, acrescenta à bibliografia dos estudos linguísticos um repertório
incomparável de dados sobre a origem e evolução da nossa língua pátria. O autor
mostra ser um insigne pesquisador e detentor de vastos conhecimentos sobre a
evolução e a abrangência da língua lusa e já vislumbra uma língua brasileira que se
destaca nesse cenário buscando sua emancipação.
A língua-mãe, o Latim, e até suas ancestrais são chamadas a comparecer
num encontro glotológico histórico para colocar em relevo as mutações, as
evoluções, as semelhanças, as dessemelhanças, as afinidades num incomparável
estudo comparativo, muito valioso para quem deseja ou precisa conhecer bem
nosso idioma – de onde veio, como está e para onde vai.
Assim, dir-se-ia, com mais precisão, que se está diante de uma bela
gramática histórica, mais do que uma gramática pedagógica. A obra traz ricas
informações e abundantes exemplificações que comprovam suas colocações, além
de um desfile de dados de outras línguas – coirmãs ou não – o que torna presente,
também, uma gramática comparativa.
Inegavelmente, Marcos Bagno externa grande cultura e vastos
conhecimentos linguísticos. O domínio do Latim propiciou-lhe segura base para suas
incursões, seguindo a trajetória da evolução da nossa língua luso-brasileira. Essa
sua condição é visível nas páginas deste seu compêndio.
O linguista, com certa razão, tenta demolir o radicalismo de gramáticos
tradicionais que insistem em manter em vigor construções arcaicas não
homologadas pelo uso popular. Nesse aspecto, entretanto, parece que ele avança
demais. Há os que proclamam “nem tanto ao céu, nem tanto ao mar”. Creem esses
* Mestre em Comunicação/Semiótica pela UNISINOS, de São Leopoldo/RS. Docente e Coordenadora
dos Cursos de Letras e Pós-Graduação em Neopedagogia da Gramática da Faculdade de
Tecnologia do IPUC/FATIPUC, de Canoas/RS. E-mail: <arlinda10@gmail.com>.
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que uma língua nacional não deve ser mutável de maneira muito intensa, em curto
período. Ademais, muitos defendem que “o grande homologador das regras
gramaticais não deve ser a camada ignara”, mas o usuário da língua instrumental,
como o é a grande imprensa nacional cuja linguagem é acessível a qualquer
cidadão, uma vez que é a mesma em todo o território deste imenso país.
Assim, a gramática deve ser o documento que zela pela unidade da língua
nacional, e a escola, sem deixar de ser democrática, deve funcionar como ambiente
de inclusão dos usuários que, em casa ou em sua comunidade, falam a linguagem
de seu meio sem se preocuparem com formalidades que, se ignoradas, podem lhes
barrar o alcance de benefícios pessoais, como a ascensão profissional. É preciso
trazê-los para a fala oficial da grande nação brasileira. Sem dúvida, trata-se de uma
tarefa de inclusão social. Esse é o papel das instituições de ensino no que tange ao
ensino da língua pátria.
Pensa-se que o autor da Gramática Pedagógica do Português Brasileiro
excede-se um pouco ao propor a utilização da linguagem popular no ensino, em
escolas. Isso seria democratizar o ensino, sim. A intenção é elogiável e encontraria
grande apoio dos que são avessos a muita “gramaticalização”. Mas experiências do
passado mostram que mudanças assim podem encontrar resistências quase
intransponíveis e levar a resultados indesejados.
Finalizando-se, cumpre dizer que a obra aqui focalizada, de recente
publicação, merece um estudo mais completo e mais aprofundado para que se
possa emitir um parecer mais maduro, mais condizente com o nível do trabalho e
dedicação de Marcos Bagno, o que poderá ser feito nos próximos meses, com
bases mais seguras. Por ora, recomenda-se, extensivamente, esta leitura para que
cada docente possa contribuir com sugestões para sua utilização, ampliando-se o
debate sobre o ensino da língua portuguesa nas escolas.