Respondendo / comentando sobre a questão "será que o emprego da figura de linguagem SILEPSE não seria mais recomendável..."
Frase dita pelo goleiro (do Bahia) Marcelo Lomba
ao ex-interventor, no momento da despedida deste :
"Aqui no Bahia, todos gostam do Senhor".
Gramaticalmente falando, a frase está perfeita, no
que se refere à concordância verbal : sujeito - "todos" (plural), verbo -
"gostam" (plural).
Porém, no aspecto semântico, tal frase daria margem a uma interpretação não imaginada pelo seu autor : Ao usar
o verbo na 3a. pessoa do plural (gostam) tem-se a impressão de que
o próprio autor da frase se exclui da relação das pessoas que gostam
do ex-interventor.
É sob esse aspecto que reside o nosso questio-
namento deixado (e bem observado pelo amigo Saulo de Liss) :
Pelo que podemos entender, o Marcelo Lomba
quis dizer que todas as pessoas do Bahia, INCLUSIVE ELE ( Marcelo
Lomba), gostam do ex-interventor. Neste caso, há necessidade de
se empregar a SILEPSE DE PESSOA, com o quê, a frase teria que estar
assim postada (conforme indicado pelo Saulo) :
"Aqui no Bahia, todos GOSTAMOS do Senhor".
Ao usar "gostamos", passa a ficar claro que o
goleiro se soma aos demais torcedores do Bahia que gostam do ex-
interventor.
A silepse,portanto, é um dos tipos de figuras de
linguagem em que a concordância se dá EM FUNÇÃO DO QUE SE PENSA
e não de acordo com o que as regras de concordância determinam.
Há três tipos de SILEPSE :
DE PESSOA (que é a que foi empregada acima) :
(o verbo ficou na 1a. PESSOA do plural, concordando com o sujeito
"todos NÓS" e não com o sujeito TODOS;
DE NÚMERO
Ocorre em exemplos como este :
"O povo PEDEM melhorias na saúde".
"O povo" é o sujeito representado por um co-
letivo. Mas, ao se dizer "o povo PEDEM", a concordância foi feita con-
siderando-se que por povo deve-se entender TODAS AS PESSOAS.
DE GÊNERO
Ocorre, em grande parte, quando se emprega
algum dos pronomes de tratamento como sujeito.
É o que ocorre neste exemplo :
"Vossa Majestade é JUSTO".
"Vossa Majestade" é forma FEMININA; neste
caso, para a concordância gramatical "correta", o predicativo ("justo")
deveria também estar no feminino. Ocorre, porém, que a concordância
empregando "justo" no masculino leva em conta que a pessoa que tem
esse título de "majestade" é alguém DO SEXO MASCULINO, portanto ,
a concordância ideológica passa a ser correta.
'Tamos entendidos ? Tomara !