A regência de alguns verbos
Um dos problemas que mais incomodam àqueles que falam e escrevem, em língua portuguesa, são os famosos empregos de preposição, que nas gramáticas são estudados pela parte de regência.
Na frase “Tiago foi na padaria”, nós temos, de acordo com as gramáticas normativas, um erro. Esse erro consiste no emprego inadequado da preposição “em” mais o artigo “a” que resuta em “na”. Na tradição gramatical o que temos é “Tiago foi à padaria”.
Concordo com o que disse a esse respeito Nascentes (1960:18), “A regência, como tudo na língua, a pronúncia, a acentuação, a significação, etc., não é imutável. Cada época tem sua regência, de acordo com o sentimento do povo. Não podemos seguir hoje exatamente a mesma regência que seguiam os clássicos; em muitos casos teremos mudado”.
De acordo com o trecho acima, a frase “Tiago foi na padaria” passa a ser válida, afinal de contas, hoje, o verbo “ir” rege, na maioria das vezes, a preposição “em”, não a preposição “a”. Isso é facilmente comprovado quando se ouve a fala de todas as pessoas que se comunicam em língua portuguesa, seja na modalidade falada (neste caso, a maioria das ocorrências) ou escrita (neste caso, depende de quem escreve e de sua familiaridade com a língua padrão). É claro que existe um registro formal, culto, que devemos dominar, conhecer. O que não podemos é esquecer que a regência é dada, como disse Nascentes, pelos usos que se fazem da língua, e não pela regra gramatical que dita esta ou aquela preposição.
Pensemos no verbo “assistir”, que pode ter dois significados. No primeiro caso, significa ver; no segundo, ajudar. Quando empregado no sentido de ver, como na frase “Assisti ao jogo do São Paulo contra o Corinthians”, o verbo “assistir” rege a preposição “a”. No entanto, o uso que o povo faz da linguagem tem consagrado o emprego desse verbo sem o uso da preposição “a”, de modo que a frase acima fica assim: “Assisti o jogo do São Paulo contra o Corinthians”. Já quando o mesmo verbo tem sentido de ajudar, ele não rege a preposição “a”, funcionando da seguinte forma: “O médico assistiu ( com sentido de ajudar, socorrer) o paciente”.
Com ou sem preposição, a regência é sempre um tema bastante polêmico. A meu ver, o correto é nós nos preocuparmos primeiramente com a clareza, que – convenhamos – independe da preposição. Mas, não neguemos, conhecer a regência padrão é, sim, fundamental, desde que não a entendamos como uma espécie de camisa de força que “prende” a grande máquina de criações que é uma língua viva e seu povo! Simples e descomplicado, não? É isso aí.
Walan Araujo