No açougue: "Colchão mole em promoção" ou "Coxão mole em promoção"? Cuidado com o que você vai comer!
Já ouvi algumas vezes que o famoso erro de ortografia tira a credibilidade da pessoa que produziu um texto que contém esse erro. Será mesmo que isso ocorre? Será mesmo que as pessoas estão se importando tanto com textos que fogem ao padrão da língua escrita? Acho que não, não estão não.
Passando esses dias em frente a um açougue, li o seguinte: “colchão mole em promoção R$ [preço]”. Para quem não sabe, a palavra colchão designa o objeto que nós pomos sobre o estrado da cama, o colchão é o local em que reclinamos nosso corpo para descansar, dormir, etc. Já a palavra coxão vem de coxa, que se grafa com “x”, e não com “ch”, como quis o nosso açougueiro.
A grande questão é a seguinte, as pessoas deixarão (ou deixaram?) de comprar carnes nesse açougue por causa de um erro ortográfico? Será que elas passaram a desconfiar da qualidade da carne em virtude do erro? Será que essas pessoas deixarão de frequentar o estabelecimento por causa desse erro? Acho que não!
Na grande maioria das vezes, quando falamos de erro, em língua escrita, estamos querendo falar de desvio ortográfico. Prefiro a expressão “desvio ortográfico” à expressão “erro ortográfico”. Como sabemos, quando escrevemos alguma palavra em português o fazemos respeitando a etimologia ou simplesmente à alguma regra, alguma convenção. Por exemplo, por razões etimológicas grafamos a palavra “hoje” com “h”, mas ela poderia ser grafada como “oje” e, com certeza, não haveria dano algum ao sentido da palavra. Ela continuaria significando a mesma coisa. As regras também podem ser somente uma convenção. Escrevemos “enxada” com “x” e não com “ch” por que o “x” é colocado, salvo em raros casos, após o “en”.
A meu ver, não se trata de uma questão credibilidade ou falta dela. As pessoas escrevem e pronto, simples assim. É claro, é óbvio que se esse erro estivesse num documento oficial haveria a necessidade de maior cuidado, não é? Afinal de contas é um documento oficial. Mas, em não sendo, é absolutamente natural haver essas ocorrências. Natural de tudo. Daria no mesmo se, diante de uma loja de colchões, estivesse escrito “coxões em promoção!”. Engraçado, não?
Em suma, não acho que as pessoas deixarão de frequentar o açougue por causa desse desvio ortográfico. Uma coisa é deixar de comprar a carne no lugar por que se escreveu “colchão duro” ou “colchão mole...”, outra é deixar de comprar lá por que não é carne Friboi. É por aí.
Walan Araujo