“Deixei ele no serviço” ou “Deixei-o no serviço”? Tanto faz!
Esses dias eu estava lendo algumas produções de texto feitas por alunos de 6º, 7º, 8º e 9ºs anos do Ensino Fundamental da escola em que trabalho e fiquei bastante intrigado com o uso de algumas palavrinhas que muitos “problemas” têm causado para os brasileiros no momento da escrita. Esses vocábulos são os denominados “PRONOMES DO CASO RETO”.
As gramáticas normativas trazem uma distinção entre os “pronomes do caso reto” e os “pronomes do caso oblíquo”. Os pronomes do caso reto são aqueles que funcionam, na frase, como sujeitos. Por exemplo, em “Ele falou tudo o que aconteceu”, o pronome “eu” funciona como sujeito na frase, concordando com o verbo “falou”. Já os pronomes do caso oblíquo são aqueles que funcionam como objeto - complemento. Por exemplo, na frase “mande-os voltar”, o pronome “os” exerce função de objeto.
Levando-se em conta o número de ocorrências do uso dos pronomes do caso reto em função dos ditos pronomes oblíquos, nas produções textuais dos alunos, sou (somos?!) levado (s?!) a pensar: existe uma regra sensata no caso das nossas gramáticas normativas? A resposta é NÃO, não existe!
O que vemos é que nossas gramáticas, infelizmente, trazem, como regra, um uso arcaico da língua. E ainda querem (metonimicamente, aqui, uma vez que trata-se de uma política idiota HUMANA!) que esse uso arcaico seja considerado o correto, o padrão, o melhor. Seria absolutamente estranho as pessoas dizerem – e em alguns casos escreverem - “vi-os na festa ontem”, “convidei-os para a viagem”, “cumprimentei-os na entrada”. Isso seria estranho aos nossos ouvidos (ou aos olhos, por que não?).
Já temos manuais de gramática que apresentam uma posição inovadora quando o assunto é a tradição da língua e suas mudanças. Marcos Bagno, por exemplo, em sua Gramática Pedagógica, fala de um ensino de língua que se paute basicamente nos gêneros textuais. O mesmo diz Luiz Antônio Marcuschi, em muitas de suas obras.
A regra da gramática tradicional, da gramática normativa, diz que devemos usar sempre uma única variedade da língua (caso dos pronomes do caso reto). No entanto, se fizermos isso deixaremos de ser ouvidos por muitos, que passarão a enxergar em nós pessoas chatas, pedantes e estranhas.
Adequar sempre sua linguagem ao gênero e ao momento, esta é a solução! Por isso, em caso reto ou oblíquo, o que manda é o gênero... Simples assim!
Walan Araujo.