Gerúndio é pecado, doença ou burrice? Nada disso, é língua viva!

Num artigo anterior, comentei a respeito do uso do gerúndio e disse que não é errado dizer “vou estar fazendo”, “vou estar enviando”, “vou estar comendo”, etc. Disse ainda que, num artigo futuro, falaria um pouco mais dessa estrutura que tanto mal-estar causa entre os operadores e as operadoras de telemarketing e os gramáticos tradicionalistas, algo que, convenhamos, é completamente desnecessário.

Muitas pessoas acham que o uso dos três verbos (gerundismo ou gerúndio), como em “vou estar enviando”, é algo legal e que faz parte da língua culta. Não entendo essa forma de pensar como um erro, mas como uma visão não tão “completa” dos fatos.

Em comentário ao que escrevi, Reychaves denominou o fenômeno como “gerundite aguda”. Claro que o uso desse sufixo (–ite) mostra a ideologia da pessoa que isso escreveu (a meu ver, ideia preconceituosa). O uso do gerúndio não é uma doença, menos ainda aguda!

É completamente natural esse uso em determinados contextos. Por exemplo, se alguém diz para você o seguinte, “Amanhã na hora do almoço eu vou passar lá na sua casa”, você pode perfeitamente responder, “Não passe porque vou estar almoçando”. Neste caso, o gerúndio está exercendo sua função de modo perfeito, pois existe uma concomitância entre os atos de “passar na casa” e “horário do almoço”. Aí, o gerúndio é perfeito!

Na semana passada, um repórter da Rede Globo de Televisão fez uma reportagem sobre um padre que criou um sistema de pedido de orações via internet e telefone. O jornalista mostrava o quanto a tecnologia tem nos ajudado a aproximar-se de Deus. Lá pelas tantas, a telefonista disse num dos atendimentos, “vou estar anotando seu pedido e vou estar encaminhando para o padre”. Aí o repórter comentou que o sistema era santo, mas que o pecado do gerúndio continuava vivo. Disse algo mais ou menos nesse sentido.

O ponto negativo da questão é que as pessoas já estão comparando o uso do gerúndio com pecado e com doenças. Pelo amor de Deus! Não é para tanto, gente!

Fique, então, a dica: quando você fizer algo exatamente no momento em que está falando não é necessário falar que “vai estar fazendo”. Não que isso seja erro, mas é desnecessário. Por outro lado, se você usar essa estrutura linguística indicando uma ideia de concomitância entre os fatos é correto e cabível o uso do gerúndio!

Menos extremismos e mais cuidado ao pontuar a fala e a escrita do nosso povo e da nossa língua brasileira! Nossa língua é viva! É por aí...

Walan Araujo

Walan Gomes de Araujo
Enviado por Walan Gomes de Araujo em 20/07/2013
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