“Vou estar enviando”, erro ou acerto?
Acho que todos nós já passamos pela experiência de ter ouvido alguém proferir uma frase e, no meio dela, haver a famosa expressão com três verbos, a que os gramáticos dão nome de “gerundismo”.
De acordo com a tradição da língua, trata-se de uma perífrase, que aquilo que ocorre quando nos utilizamos de muitas palavras para dizer uma coisa só – uma coisa simples. O que poderia ser dito com dois verbos - ou até um - acaba sendo dito com três.
É quase que “fatal”, no bom sentido da palavra, a gente conversar com alguma telefonista e ela dizer: “Só um momento que ‘vou estar transferindo’ a ligação”. O xis da questão é que não há necessidade de se empregar três quilos de verbo quando meio quilo dá conta do caso, não é? A mesma telefonista poderia muito bem ter dito “Só um momento que vou transferir a ligação”, ou, utilizando-se de menos verbos, e tomando-nos menos tempo, poderia dizer, “Só um momento que transferirei a ligação”.
Não podemos dizer que as pessoas que se utilizam do famoso “gerundismo” falam o português de modo errado. Ao contrário. Elas simplesmente fazem uso de uma forma que, em virtude de sua “cara de bonita” virou moda na boca do povo.
Não acho que devamos, agora, querer acabar com esse uso. O próprio nome já diz: uso! Se for usual, se for uso, ninguém conseguirá tirar, banir. Vira costume. No entanto, é preciso que se tenha conhecimento daquilo que dizem os gramáticos. Como é sabido, o gerundismo não é bem visto por eles.
As pessoas que dominam a linguagem dita culta o encaram como uma muleta linguística, usada por aqueles que, não tendo com o que preencher sua fala, utilizam-se de qualquer coisa aparentemente culta. Acho que não é por aí. Mas sair, por outro lado, falando que “vai estar enviando”, “vai estar fazendo”, “vai estar preenchendo” (como ouço todos os dias na secretaria da escola) não é tão legal.
Não vamos falar de erro. Falemos somente uma coisa: a língua está aí para ser usada. É uma espécie de folha cheque em branco que pode ser preenchida a gosto daquele que a tem. Sabendo, porém, que dependendo da forma como a preencheremos teremos um resultado, positivo ou negativo.
Considero que essa é uma questão muito complicada. No próximo texto “vou estar escrevendo” sobre a estrutura do gerúndio e mostrar como - quando se utilizado na estrutura aqui comentada - ele é válido. É por aí...
Walan Araujo