“As casa amarela” e “Os carro azul”: é errado falar assim?
Quando nós ouvimos alguém dar sua opinião sobre a forma simplificada da pluralização da língua portuguesa chegamos a ficar assustados, tamanha é ignorância das pessoas. Como bem lembram alguns linguistas, por meio de uma inteligente metáfora, nossa língua é como uma roupa, que adequamos à situação de comunicação.
Ou seja, quando a gente fala “As casa amarela” e “Os carro azul” não estamos cometendo nenhum pecado. Estamos simplesmente nos utilizando de uma variedade da língua, de um tipo de roupa. Ninguém vai à praia trajando paletó, assim como não se vai a uma reunião de sunga. Para cada situação há uma roupa e uma variedade linguística.
Ao falante cabe saber usar sua língua em cada momento, de modo a alcançar uma comunicação eficaz.
Àqueles que dizem que é errado falar assim, digo: o que é erro? E respondo: o erro, em se tratando de língua, nasceu com o gramático grego Dionísio da Trácia, que, ao estudar os poemas “A odisseia” e “A ilíada”, descreveu minuciosamente parte das características fonéticas da língua na qual esses poemas foram escritos. Como os romanos, mais tarde, “beberam” da cultura grega, aderiram à noção de erro, versada por Dionísio, que, por sua vez, teve por base textos escritos e não falados. E, como todos sabem, língua falada e língua escrita são duas modalidades distintas dentro de um mesmo código.
Por esta razão não podemos falar de erro, mas de variedade. Em cada situação nós empregamos uma variedade. Em um congresso, falamos: “As casas eram azuis, com detalhes barrocos, o que lhes dava um ar de antiguidade...”. No bar, com os amigos, dizemos: “As casa era tudo azul e tudo véia... meu barraco é mais firmeza...”.
Outras características que devemos notar é que a forma simplificada da pluralização mostra que as línguas evoluem rumo à facilidade e à melhoria. A palavra “para”, de tão usada, passou a ser “pra”. A pluralização, da mesma forma, está mudando. Não é necessário pluralizar a frase toda, mas somente os determinantes. Em “As casa é azul” o determinante “As” já carrega a ideia de pluralização não sendo necessário marcar as outras.
É muito mais fácil dizer “As casa é azul” do que dizer “As casas são azuis”.