AS EXPRESSÕES “VÍTIMA FATAL”, “VÍTIMA LETAL” E “VÍTIMA MORTAL” [NOSSO ENTENDIMENTO]

Depois de ler, neste nobre espaço cultural, os excelentes e sucessivos textos de autoria do ilustre correcantista AMÉRICO PAZ acerca da expressão “VÍTIMA FATAL”, resolvemos, como mero e eterno aprendiz da Língua Portuguesa, expressar nossa humilde opinião sobre a referida expressão, sem nenhum objetivo, é claro, de causar polêmica.

Os vocábulos FATAL, LETAL e MORTAL, segundo consignam nossos mais autorizados dicionários, exprimem algo que é determinado por um fato, que produz a morte ou que está sujeito a ela; trata-se de algo inevitável, funesto, marcado pelo destino. Qualificam, conseguintemente, aquilo que causa ou provoca o resultado.

Ainda que no falar usual de algumas línguas modernas exista, de fato, a tendência de “adjetivar” tais vítimas [diz-se, por exemplo, 'victimes fatales' em francês, 'fatal victims' em inglês, 'víctimas fatales' em espanhol], assim como no vernáculo, a expressão “VÍTIMA FATAL” é de difícil sustentação lógica e semântica até mesmo nos idiomas citados.

Para nós, o uso da expressão “vítima fatal” constitui “impropriedade vocabular”, visto que a vítima não é o agente causador, e sim alguém que sofre a consequência. Portanto, a “qualificação” deve recair sobre o fato, e não sobre o agente causador. Então, “fatal”, “letal” e “mortal”, em nosso modesto entendimento, é o evento, o acidente, a doença. É o que pensamos, mas há quem sustente o contrário.

Ensina o respeitado Prof. SÉRGIO NOGUEIRA DUARTE DA SILVA em seu excelente “O Português do Dia-a-Dia – Como Falar e Escrever Melhor”, Editora Rocco Ltda, 1ª ed., 2003, p. 81: “VÍTIMA FATAL – Não existe. O acidente é que é fatal. ‘Fatal’ é o que causa a morte; acidente fatal, tiro fatal, choque fatal, queda fatal...”

Obtempera, a propósito do tema, o renomado EDUARDO MARTINS em seu excelente “Manual de Redação e Estilo”, Editora Moderna, 3ª ed., 2000, p. 312, obra essa referendada por Adriano da Gama Kury, Odilon Soares Leme, Lygia Fagundes Telles e Rachel de Queiroz, que: “‘Vítima fatal’. Fatal significa mortífero, que causa a morte, que traz ruína ou desgraça. Por isso, não existe a expressão ‘vítima fatal’: a vítima ‘recebe’ a morte, e não ‘a produz’. Fatal é um golpe, um tiro, um acidente, uma pancada, um choque, uma batida, e nunca a vítima.”

Para reflexão: “Ter razão é tão perigoso que muitas pessoas acham melhor não ter nenhuma.” — Carlos Drummond de Andrade

David Fares
Enviado por David Fares em 06/07/2013
Reeditado em 06/07/2013
Código do texto: T4374422
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.