Resposta à questão apresentada (nos "comentários") pelo colega recantista, DaniBertollo / PR (ref. a uma CLASSIFICAÇÃO ORACIONAL)
(Preliminarmente, desejaríamos pedir e contar com
a gentileza da permissão do nosso colega acima para transpor para es-
ta publicação a questão por ele levantada, dada a sua relevância, para
fins de análise sintático-gramatical. Ao mesmo tempo, damos-lhe as
boas-vindas à nossa humilde página e agradecemos pela expressiva
participação. Um grande abraço, colega!).
Mas, vamos à questão...
QUESTIONAMENTOS LEVANTADOS :
No período (composto por subordinação) "acredita-se/ que a mãe se aproximará de Davi" :
- A 2a. oração ("que a mãe se aproximará de Davi") é do tipo
subordinada substantiva SUBJETIVA, OBJETIVA DIRETA ou
OBJETIVA INDIRETA ?
- Se o verbo ACREDITAR (objeto de uma de nossas publicações
anteriores e que gerou tais questionamentos) pode ser tran-
sitivo (=aquele que, por não ter sentido completo, necessita
ou de um objeto direto ou de um objeto indireto para comple-
tá-lo), poderá ser considerado ("acredita-se") na forma pas-
siva sintética ?
Respondendo :
1) A classificação "menos gramaticalmente traumática" para a 2a.
oração do período acima, EMBORA COM SÉRIAS RESTRIÇÕES
GRAMATICAIS, "seria", no nosso entendimento, SUBORDINADA
SUBSTANTIVA OBJETIVA DIRETA, porque representa (-ria) o ob-
jeto direto da oração principal ("acredita-se"), respondendo a
pergunta (imprópria) : "acredita-se O QUÊ ?" (A pergunta ade-
quada, sob a ótica regencial, deveria ser : "acredita-se EM QUÊ?).
Toda a dúvida levantada pelo colega - e que é a mesma de muitos
de nós professores da disciplina - decorre, a nosso ver, da inade-
quada REGÊNCIA VERBAL do verbo "acreditar" , quando é classifi-
cado como transitivo direto, pois, para nós, quem acredita, ACRE-
DITA E M algo ou alguém e não, algo ou alguém (ou seja : o
verbo acreditar DEVERIA SER, quanto à regência - que exige a
preposição "em" - TRANSITIVO INDIRETO).
Mas, tal imperfeição regencial (o verbo "acreditar" permitir a
classificação como TRANSITIVO INDIRETO) já se consagrou
popularmente e, quando isso, ocorre, adeus, normas gramaticais!
Resumindo, a classificação por você considerada (substantiva
objetiva direta) é a menos gramaticalmente imperfeita. Concor-
daríamos - mesmo com restrições - com tal classificação.
2) A oração "acredita-se" NÃO ESTÁ, EM NENHUMA HIPÓTESE, NA
VOZ PASSIVA SINTÉTICA. Para que tal ocorrese, a forma verbal
"acredita-se" teria que permitir - mas não permite - a transforma-
ção em VOZ PASSIVA ANALÍTICA (como ocorre em : "vendem-se
livros" : voz passiva sintética que, convertida para a passiva ana-
lítica, seria : livros SÃO VENDIDOS).
Assim sendo, o "se" (posposto a "acredita") É ÍNDICE DE INDETER-
MINAÇÃO DO SUJEITO. Na oração "acredita-se", o sujeito é, por-
tanto, do tipo INDETERMINADO (que, relembrando aos outros lei-
tores, é aquele que ocorre : na situação acima, ou seja, quando
o verbo está na 3a. pessoa do singular seguido do índice de inde-
terminação do sujeito - "se" - (não permitindo conversão para a
voz passiva analítica) ou na 3a. pessoa do plural, quando a forma
verbal está desacompanhada do pronome pessoal ELES/ELAS/VO-
CÊS (como ocorre em "Assaltaram o açougue").
(Porém, para finalizar, mas colocando mais
lenha na discussão, há um detalhe que deixamos por último : Há, a
nosso ver, a possibilidade de DOIS TIPOS DE PERGUNTA EM TORNO
DO VERBO ACREDITAR :
1) PRIMEIRA PERGUNTA :
Feita A O verbo : o que se acredita ? (ainda que,
novamente destacamos, A REGÊNCIA VERBAL estaria incorreta).
Neste caso, a resposta "que a mãe se aproximará de
Davi" (por ser SUJEITO) corresponderia a uma ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA SUBJETIVA (apesar de termos aprendido, desde as primeiras séries, que a oração subjetiva é, dentre outros casos, predominantemente, formada pelas seguintes expressões : "é preciso", "é necessário", "é conveniente..." ).
2) SEGUNDA PERGUNTA :
Feita P E L O verbo : acredita-se o quê ? (novamente,
com regência verbal incorreta, mas popularmente consagrada).
A resposta "que a mãe se aproximará de Davi" (por ser
OBJETO DIRETO) corresponderia a uma ORAÇÃO SUBORDINADA SUBS-
TANTIVA OBJETIVA DIRETA.
É, meu caro, essa discussão dá muito pano
para manga...caso queira continuar a refletirmos conjuntamente, re-
torne ao assunto.
Eta, linguinha esta nossa !