"NÍVEIS DA LINGUAGEM"
Para que ocorra efetivamente a comunicação, urge, entre outros segmentos, que se escolha adequadamente o ‘nível de linguagem’ a ser utilizado.
Há três níveis de linguagem a se buscar:
- Nível de LINGUAGEM CULTA (variante padrão).
- Nível de LINGUAGEM FAMILIAR (ou coloquial).
- Nível de LINGUAGEM POPULAR.
Neste segmento, será enfatizado o nível de ‘LINGUAGEM POPULAR’ em um de seus momentos mais crescentes> a GÍRIA:
-“Linguagem peculiar a um grupo (profissional, etário, sócio-econômico etc.), a qual se caracteriza pela plasticidade e informalidade de sua construção”. De origem obscura > GÍRIO (GÍRIA) > ‘que contém gíria, ou se refere a ela’.
(Dicionário Etimológico – AG Cunha)
- Segundo ‘M Rodrigues Lapa’ – “a gíria nada mais é que uma forma exagerada da linguagem familiar”.
- De acordo com o ‘Dicionário Antológico das Literaturas Portuguesa e Brasileira’ (de onde vem o texto a seguir para exemplificar esse nível de linguagem): “a gíria é conceituada como sendo um conjunto de expressões populares corrente e frequente nas esferas populacionais menos afeita ao convívio da cultura...”.
*O texto a seguir é o depoimento do famoso Zé da Ilha, após ter sido preso motivado pelos fatos que o próprio depoente (na íntegra) expõe:
“Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da coitadinha, resolvi esquinar e caçar outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão. Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e troquei por centavos um embrulhador, plantado como um poste bem na quebrada da rua, veio uma para-quedas se abrindo, eu dei a dica, ela bolou, eu fiz a pista, colei; colei, solei, ela aí bronquiou, eu chutei, bronquiou, mas foi na despista, porque, muito vivaldina, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando. Morando na jogada, o Zezinho aqui, ficou ao largo e viu quando o cargueiro jogou a amarração dando a maior sugesta na recortada. Manobrei e procurei ingrupir o pagante, mas sem esperar recebi um cataplum no pé do ouvido. Aí dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça uma muqueada nos mordedores e taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança pondo-o por terra. Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas. Papai, muito esperto, virou pulga e fez a dunquerque, pois o vermelho não combina com a cor do meu linho. Durante a boogie, uns e outros me disseram que o sueco era tira e que iria me fechar o paletó. Não tenho vocação pra presunto e corri. Peguei uma borracha grande e saltei no fim do carretel, bem no vazio da Lapa, precisamente às 15 para a cor-de-rosa. Como desde a matina não tinha engulido a gordura, o roque do meu pandeiro estava sugerindo sarro. Entrei no china-pau e pedi um boi à Mossoró com confeti de casamento e uma barriguda bem morta. Engoli a gororoba e como o meu era nenhum, pedi ao caixa pra botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela fria. Ia pirar quando o sueco apareceu. Dizendo que eu era produto do mangue, foi direto ao médico-legal para me escolachar. Eu sou preto mas não sou gato Félix, me queimei e puxei a solíngea. Fiz uma avenida na epiderme do moço. Ele virou logo América. Aproveitei a confusa para me pirar mas um dedo-duro me apontou aos xifópagos e por isso estou aqui”.
(Atenção: o texto foi reparado de acordo com a ortografia de 2009)
Para entender o depoimento acima, é necessário que esclareçam algumas expressões dessa curiosa fala do famoso marginal
PATUÁ > sentido de ‘o negócio’, ‘o problema’, ‘a questão’.
GELO > desprezo.
ESQUINAR > (neologismo) ficar parado na esquina.
CABROCHA >mulher.
QUE PREPARASSEA A MARMITA > fizesse minha comida.
AMARROTASSE MEU LINHO NO SABÃO > lavasse minha roupa.
BORDEJAVA PELAS VIAS > perambulava pelas ruas.
ABASTECI A CAVEIRA > tomei uma bebida.
TROQUEI POR CENTAVOS UM EMBRULHADOR > comprar um jornal.
NA QUEBRADA DA RUA > esquina.
VEIO UMA PARA-QUEDAS SE ABRINDO > chegou uma mulher mostrando interesse.
EU DEI A DICA > dirigi umas palavras.
ELA BOLOU > foi receptiva.
EU FIZ A PISTA > acompanhei-a.
COLEI > juntei-me a ela.
SOLEI > conversei.
BRONQUIOU > aborreceu-se.
O CARGUEIRO ESTAVA LHE COMBOIANDO > o namorado estava lhe acompanhando.
MORANDO NA JOGADA > compreendendo a situação.
O ZEZINHO AQUI > referindo-se a si mesmo.
VIVALDINA > esperta.
O CARGUEIRO JOGOU A AMARRAÇÃO > o namorado aproximou-se dela.
CATAPLUM NO PÉ DO OUVIDO > soco na orelha.
DEI-LHE UM BICO COM O PISANTE NA ALTURA DA DOBRADIÇA > dei-lhe um pontapé no joelho.
UMA MUQUEADA NOS MORDEDORES > um soco nos dentes.
TAQUEI-LHE OS DOIS PÉS NA CAIXA DE MUDANÇA > saltei com os dois pés no peito.
ELE SE COCOU. SACOU A MÁQUINA E QUEIMOU DUAS ESPOLETAS > sacou o revólver e deu dois disparos.
PAPAI > referência a ele próprio.
VIROU PULGA > deu um salto (sair aos saltos).
FEZ A DUNQUERQUE > fugiu, evadiu-se (alusão a famosa retirada de Dunquerque na segunda guerra mundial).
VERMELHO NÃO COMBINA COM A COR DO MEU TERNO > (vermelho do sangue) manchando seu terno.
TIRA > policial.
FECHAR O PALETÓ > matar.
NÃO TENHO VOCAÇÃO PRA PRESUNTO > (o apego à vida) não quero morrer.
BORRACHA GRANDE > ônibus.
NO FIM DO CARRETEL > no ponto final (no fim da linha).
BEM NO VAZIO DA LAPA > no Largo da Lapa.
ÀS 15 PARA A COR DE ROSA > às 17 horas e 45 minutos.
MATINA > manhã.
O ROQUE DO MEU PANDEIRO > o ruído do meu estômago.
CHINA-PAU > (pequeno restaurante chinês a preços populares).
BOI À MOSSORÓ COM CONFETI DE CASAMENTO E UMA BARRIGUA BEM MORTA > bife a cavalo com arroz e cerveja bem gelada.
COMO O MEU ERA NENHUM > estava sem dinheiro.
PEDI AO CAIXA PRA BOTÁ NA PINDURA > pedi ao caixa um crédito
EU IRIA ESQUENTAR AQUELA FRIA > depois pagaria a despesa.
PRODUTO DO MANGUE > filho de prostituta.
ME QUEIMEI E PUXEI A SOLÍNGEA > irritei-me e saquei a navalha.
FIZ UMA AVENIDA NA EPIDERME DO MOÇO > fiz um corte na pele do rapaz.
ELE VIROU LOGO AMÉRICA > ele ficou sujo de sangue (vermelho).
DEDO-DURO > delator.
XIFÓPAGOS > dupla de policiais que sempre andam juntos.
(Professor: Ademir Rêgo de Oliveira/2013)
Para que ocorra efetivamente a comunicação, urge, entre outros segmentos, que se escolha adequadamente o ‘nível de linguagem’ a ser utilizado.
Há três níveis de linguagem a se buscar:
- Nível de LINGUAGEM CULTA (variante padrão).
- Nível de LINGUAGEM FAMILIAR (ou coloquial).
- Nível de LINGUAGEM POPULAR.
Neste segmento, será enfatizado o nível de ‘LINGUAGEM POPULAR’ em um de seus momentos mais crescentes> a GÍRIA:
-“Linguagem peculiar a um grupo (profissional, etário, sócio-econômico etc.), a qual se caracteriza pela plasticidade e informalidade de sua construção”. De origem obscura > GÍRIO (GÍRIA) > ‘que contém gíria, ou se refere a ela’.
(Dicionário Etimológico – AG Cunha)
- Segundo ‘M Rodrigues Lapa’ – “a gíria nada mais é que uma forma exagerada da linguagem familiar”.
- De acordo com o ‘Dicionário Antológico das Literaturas Portuguesa e Brasileira’ (de onde vem o texto a seguir para exemplificar esse nível de linguagem): “a gíria é conceituada como sendo um conjunto de expressões populares corrente e frequente nas esferas populacionais menos afeita ao convívio da cultura...”.
*O texto a seguir é o depoimento do famoso Zé da Ilha, após ter sido preso motivado pelos fatos que o próprio depoente (na íntegra) expõe:
“Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da coitadinha, resolvi esquinar e caçar outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão. Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e troquei por centavos um embrulhador, plantado como um poste bem na quebrada da rua, veio uma para-quedas se abrindo, eu dei a dica, ela bolou, eu fiz a pista, colei; colei, solei, ela aí bronquiou, eu chutei, bronquiou, mas foi na despista, porque, muito vivaldina, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando. Morando na jogada, o Zezinho aqui, ficou ao largo e viu quando o cargueiro jogou a amarração dando a maior sugesta na recortada. Manobrei e procurei ingrupir o pagante, mas sem esperar recebi um cataplum no pé do ouvido. Aí dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça uma muqueada nos mordedores e taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança pondo-o por terra. Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas. Papai, muito esperto, virou pulga e fez a dunquerque, pois o vermelho não combina com a cor do meu linho. Durante a boogie, uns e outros me disseram que o sueco era tira e que iria me fechar o paletó. Não tenho vocação pra presunto e corri. Peguei uma borracha grande e saltei no fim do carretel, bem no vazio da Lapa, precisamente às 15 para a cor-de-rosa. Como desde a matina não tinha engulido a gordura, o roque do meu pandeiro estava sugerindo sarro. Entrei no china-pau e pedi um boi à Mossoró com confeti de casamento e uma barriguda bem morta. Engoli a gororoba e como o meu era nenhum, pedi ao caixa pra botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela fria. Ia pirar quando o sueco apareceu. Dizendo que eu era produto do mangue, foi direto ao médico-legal para me escolachar. Eu sou preto mas não sou gato Félix, me queimei e puxei a solíngea. Fiz uma avenida na epiderme do moço. Ele virou logo América. Aproveitei a confusa para me pirar mas um dedo-duro me apontou aos xifópagos e por isso estou aqui”.
(Atenção: o texto foi reparado de acordo com a ortografia de 2009)
Para entender o depoimento acima, é necessário que esclareçam algumas expressões dessa curiosa fala do famoso marginal
PATUÁ > sentido de ‘o negócio’, ‘o problema’, ‘a questão’.
GELO > desprezo.
ESQUINAR > (neologismo) ficar parado na esquina.
CABROCHA >mulher.
QUE PREPARASSEA A MARMITA > fizesse minha comida.
AMARROTASSE MEU LINHO NO SABÃO > lavasse minha roupa.
BORDEJAVA PELAS VIAS > perambulava pelas ruas.
ABASTECI A CAVEIRA > tomei uma bebida.
TROQUEI POR CENTAVOS UM EMBRULHADOR > comprar um jornal.
NA QUEBRADA DA RUA > esquina.
VEIO UMA PARA-QUEDAS SE ABRINDO > chegou uma mulher mostrando interesse.
EU DEI A DICA > dirigi umas palavras.
ELA BOLOU > foi receptiva.
EU FIZ A PISTA > acompanhei-a.
COLEI > juntei-me a ela.
SOLEI > conversei.
BRONQUIOU > aborreceu-se.
O CARGUEIRO ESTAVA LHE COMBOIANDO > o namorado estava lhe acompanhando.
MORANDO NA JOGADA > compreendendo a situação.
O ZEZINHO AQUI > referindo-se a si mesmo.
VIVALDINA > esperta.
O CARGUEIRO JOGOU A AMARRAÇÃO > o namorado aproximou-se dela.
CATAPLUM NO PÉ DO OUVIDO > soco na orelha.
DEI-LHE UM BICO COM O PISANTE NA ALTURA DA DOBRADIÇA > dei-lhe um pontapé no joelho.
UMA MUQUEADA NOS MORDEDORES > um soco nos dentes.
TAQUEI-LHE OS DOIS PÉS NA CAIXA DE MUDANÇA > saltei com os dois pés no peito.
ELE SE COCOU. SACOU A MÁQUINA E QUEIMOU DUAS ESPOLETAS > sacou o revólver e deu dois disparos.
PAPAI > referência a ele próprio.
VIROU PULGA > deu um salto (sair aos saltos).
FEZ A DUNQUERQUE > fugiu, evadiu-se (alusão a famosa retirada de Dunquerque na segunda guerra mundial).
VERMELHO NÃO COMBINA COM A COR DO MEU TERNO > (vermelho do sangue) manchando seu terno.
TIRA > policial.
FECHAR O PALETÓ > matar.
NÃO TENHO VOCAÇÃO PRA PRESUNTO > (o apego à vida) não quero morrer.
BORRACHA GRANDE > ônibus.
NO FIM DO CARRETEL > no ponto final (no fim da linha).
BEM NO VAZIO DA LAPA > no Largo da Lapa.
ÀS 15 PARA A COR DE ROSA > às 17 horas e 45 minutos.
MATINA > manhã.
O ROQUE DO MEU PANDEIRO > o ruído do meu estômago.
CHINA-PAU > (pequeno restaurante chinês a preços populares).
BOI À MOSSORÓ COM CONFETI DE CASAMENTO E UMA BARRIGUA BEM MORTA > bife a cavalo com arroz e cerveja bem gelada.
COMO O MEU ERA NENHUM > estava sem dinheiro.
PEDI AO CAIXA PRA BOTÁ NA PINDURA > pedi ao caixa um crédito
EU IRIA ESQUENTAR AQUELA FRIA > depois pagaria a despesa.
PRODUTO DO MANGUE > filho de prostituta.
ME QUEIMEI E PUXEI A SOLÍNGEA > irritei-me e saquei a navalha.
FIZ UMA AVENIDA NA EPIDERME DO MOÇO > fiz um corte na pele do rapaz.
ELE VIROU LOGO AMÉRICA > ele ficou sujo de sangue (vermelho).
DEDO-DURO > delator.
XIFÓPAGOS > dupla de policiais que sempre andam juntos.
(Professor: Ademir Rêgo de Oliveira/2013)