Diálogo letrado
Diálogo letrado
- Bem-vindo, Benvindo!
- Tudo bem, senhora Gramática?
- Mais ou menos!
- Por quê?
- É que andam deturpando a escrita a fim de facilitar, mas, como somos afins, posso desabafar com você.
- Confundido regras?
- Abandonando conceitos e criando sintaxes esdrúxulas.
- Mas, me diga o porquê disso?
- Por que pergunta?
- Porque quero conhecer para que, na frente, não seja mais um equivocado.
- Verdade, senão caímos em erros! Se não estudarmos, vamos confundir e mudaremos o resultado final da frase.
- O bom é que ainda há pessoas responsáveis e querem o bem da educação.
- Usou perfeitamente o adjetivo e o advérbio. Mas, o que mais me irrita realmente, meu amigo, é a falta do vocativo. O texto fica perdido!
- Dona Gramática, aprendo sempre com a senhora!
- Entre mim e ti é o certo, sabia? Mas, “mim fazer é horrível”.
- Para eu aprender terei então que ler bastante!
- Leia acerca de tudo e abra a cerca da pesquisa para entrar novos conhecimentos.
- Senhora Gramática, onde e aonde está a certeza?
- Onde é um lugar fixo e ela não está nesse lugar. Agora, aonde ela vai, eu não sei!
- Entendi!
- Compreende agora o porquê de me estudar?
- A nível de conhecimento é...
- Epa, epa! Em nível de aprendizagem aprenda. A nível só se for do mar. Compreendeu?
- Que aula!
- Consertei-lhe apenas um vício de linguagem.
- Realmente, sou um sujeito oculto.
- Mudaram para desinencial. Com o que falei agora ficou indeterminado!
- Compreendi!
- Estude, assim, multiplicar-se-ão as oportunidades.
- E por que não querem mais aprender com a senhora?
- Confundiram tudo! Ensinar passou a ser “brincar” e brincam confundindo o infinitivo com o verbo no pretérito perfeito.
- Não há erro e nem acerto?
- Falam que não! Mas esquecem que em textos científicos, em poesias, na literatura (...), eu sempre estou.
- Você é quem organiza a língua?
- Eu mantenho a unidade na pluralidade.
- Ok! Em princípio você mantém a ordem?
- Usou corretamente o “em principio”, pois se percebe que quis falar “em tese”. Mas saiba que a princípio também existe e é só substituir por “no começo”.
- Fiquei feliz!
- Percebo que está realmente feliz?
- Estou em dúvida agora! Está ou estar?
- Eu usei acima um pronome indicativo e serve para indicar um substantivo e estar é a forma infinitiva do verbo. Não confunda!
- Mais uma aula que aprendi!
- “Mas” e “mais” também não são a mesma coisa! Um é conjunção e o outro é advérbio de intensidade.
- Essa conversa é uma aula.
-Apenas estou lhe dando um norte, para não sair escrevendo ao-deus-dará. Cuidado também com o Hífen. Palavras que precisam de conector, não usam mais o hífen. Mas, há algumas poucas exceções.
- Estou percebendo que você é muito útil para quem quer escrever e também entender o que se lê.
- Certamente! Benvindo, bem-vindo ao mundo das letras!
- Obrigado!
- Eu que agradeço! Perceba que não sou ditadora, mas tenho que organizar a língua, senão virará uma bagunça a comunicação.
- Andam falando o contrário?
- Usou o gerúndio corretamente. Sim, falam constantemente!
- Mas a senhora se irrita?
- Às vezes, mas nada que umas boas palmadas de concordância não resolvam.
- É muito bom visitar sempre a senhora!
- Visite sempre que quiser, estou sempre à espera.
- Agora terei quer ir, mas voltarei sempre.
- Até mais! Mas quando me vir novamente, traga apenas disposição para me entender.
Mário Paternostro