Palíndromos
PALINDROMOS
Quando eu estava na adolescência, descobri que gostava de brincar com palavras, fazendo jogos com a sonoridade e significados, poemas diversos e por aí vai. Através de um amigo de letras, fiquei conhecendo os palíndromos.
Um palíndromo é uma palavra, frase ou sequencia de letras que tenha a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita. Num palíndromo, para que “funcione” a ideia, são desconsiderados os sinais ortográficos (inclusive pontuação), assim como os espaços entre palavras. A palavra "palíndromo" vem do grego palin ("para trás") e dromos ("corrida, pista").
A primeira frase palíndroma que aprendi (e decorei) seria de Bocage (Manuel Maria Barbosa du Bocage, poeta português, 1765-1805):
.Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na “Moda da Romana”: Anil é cor azul.
Algumas frases palíndromas famosas:
Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!
Roma me tem amor.
Madam, I´m Adam.
Achei o máximo. Para mim, era um achado. Passei a tentar fazer alguns:
Eva, arara é rara ave.
Após a sopa
Ivo? Ué, eu o vi.
Sapos maus suam sopas
Fiz até um poemeto meio esdrúxulo:
A ética, cite-a
se até o pó poeta és
e cá facilite a etílica face
se ver o cínico revés.
Até que, com a internet, fui descobrindo que muita gente também gosta de fazer palíndromos. Preciso dar crédito a um camarada, mestre da coisa, chamado Rômulo Marinho, que escreve artigos e propaga os palíndromos, tanto os dele quanto os de outros. Vejam alguns exemplos (tem muito mais!): Pode procurar no Goooooooogle.
Rir, o breve verbo rir.
A base do teto desaba
A cara rajada da jararaca
A diva em Argel alegra-me a vida
A Rita, sobre vovô, verbos atira
Laço bacana para panaca boçal
O pó de cocaína mata maníaco cedo, pô!
Oto come doce seco de mocotó.
Tucano na CUT.
Muito bom, não é?
O Palíndromo de Sótades
Sótades (285-247 AC)foi um grego natural de Creta, que viveu na Alexandria. Chegado em sátiras e ironias, sempre se ferrava por sacanear os poderosos e acabou morrendo por ter sido trancado dentro de um baú e jogado ao mar. Somente poucos fragmentos da obra de Sótades foram preservados. Mas, mesmo sendo um grande sacana (tipo Marcial), Sótades é também conhecido como o primeiro a fazer palíndromos. Desta maneira, quando se fala em “literatura sotádica”, entenda-se erótica ou até obscena. (está no Aurélio); mas quando se fala em “letras sotádicas”, estamos falando de versos inventivos, aqueles que significam o mesmo de trás para frente, ou seja, os palíndromos.
A figura do “palíndromo de Sótades”, mostrado abaixo, foi encontrada nas ruínas de Pompéia, na Itália, entre outros objetos remanescentes da erupção do Vesúvio de 79. Era o palíndromo latino “SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS”. O mais interessante é a forma com que o palíndromo foi montado:
S A T O R
A R E P O
T E N E T
O P E R A
R O T A S
É um acróstico e um palíndromo combinado, e pode ser lido em todas as direções, significando sempre a mesma coisa. Possível tradução, se “Arepo” for um nome próprio:
Arepo, o Semeador, trabalha com um arado.
Achei essa figura muito interessante, e resolvi criar uma igual. Lembrei-me da minha amiga Inara e consegui montar um (é muito difícil, levei um tempão, acredite!):
Rimas, Inara, matam a Rani Samir.
Na figura, fica assim:
R I M A S
I N A R A
M A T A M
A R A N I
S A M I R
Ficou legal. Você tentaria fazer um palíndromo?