AH! OS ETERNOS CONTESTADORES
Sérgio Martins Pandolfo*
Estamos a pouco mais de dois meses para o final do período de adaptação e efetiva implantação em caráter definitivo e exclusivo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e já a senadora gaúcha Ana Amélia (PP) apresentou proposta estendendo por mais seis anos o prazo para a adoção do novo acordo. Como é sabido, no final de 2008 o ex-presidente Lula da Silva e o primeiro ministro de Portugal José Sócrates firmaram documento conjunto para a entrada em vigor das novas regras no Brasil e em Portugal - que deverá ser seguido por suas ex-colônias – fixando um lapso de quatro anos de adaptação para o Brasil, tendo em vista que os vocábulos a corrigir representam apenas 0,5% e seis anos para Portugal que exibe percentual um pouco maior, 1,6%.
Posta a viger pelo presidente Lula a partir de 1º de janeiro de 2009, a faixa de adequação encerrar-se-á em 31/12/2012, passando a nova ortografia a ser obrigatória em documentos, publicações, concursos e exames escolares, enquanto que em Portugal, que igualmente já implantou o acordo em todos os documentos oficiais, incluindo o Diário da República, atos e ofícios midiáticos, o prazo expirar-se-á em 31/12/2014. A alegação da senadora é de que “muitos professores” não estão satisfeitos com as normas e que o senado deveria analisar melhor o teor do AOLP, o que foi logo abonado pelo senador Paulo Bauer (PSDB-SC), que também defende a atuação do senado no debate.
Ora francamente, as entidades de cá e de lá oficialmente encarregadas de proceder à análise e estudos para ajustes na língua de Camões são a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, que durante muitos anos, por meio de seus maiores, debruçaram-se na apreciação das diferenças existentes nas normas brasileira e lusitana, de modo a ajustá-las, tanto quanto possível, a uma ortografia una!
Cumpre dizer que a Língua Portuguesa era a única das chamadas língua universais de cultura a apresentar duas normativas ortográficas oficiais, o que, a par da complicação que causava à edição de livros, inclusive de dicionários distintos, impediu até aqui que “a última flor do Lácio” se tornasse idioma oficial na ONU, pois quando se protestava contra essa estranha exclusão, visto ser a LP a terceira mais falada do Ocidente e em franca expansão, logo vinha a resposta em tom inquisitorial: mas qual delas, a lusitana ou a brasileira!? Para o Brasil, que sonha abiscoitar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, isso é simplesmente fundamental. Cabe acrescer também, por oportuno e esclarecedor, que o acordo implicará tão somente em ajustes na grafia das palavras, nada mudando no que respeita aos falares regionais, ao sotaque e à construção frasal. Que grande contribuição ou inovações, portanto, teria o Senado Federal a acrescentar e com isso anular, praticamente, tudo o que já foi acertado entre as duas nações-líderes de expressão portuguesa? Isso nos sabe tão somente a esperneio dos eternos contestadores, para quem qualquer mudança implica rejeição imediata.
Muitos dos que se põem contrários ao novo acordo nem sequer o leram com a devida atenção, isto é, são daqueles que, perguntados, diriam: não li e não gostei! A primeira estranheza é quanto à extinção do trema, que a maioria do povo jamais usou ou sequer sabia de sua existência. Os lusos nunca o utilizaram e nem por isso claudicam na pronúncia dos termos que aqui se tremava. As novas normas são simples, claras, flexíveis (atendem às duas partes) e facilitadoras.
Costumamos dizer que a hifenização era a infernização do escritor, tão numerosas as regras de seu emprego, afora as exceções, ora restritas a quatro regrinhas. Os que se dedicam ao diuturno amanho das letras à quase unanimidade são acordes com as novas diretrizes. Que o bom senso reine entre suas excelências!
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com - www.sergiopandolfo.com
Sérgio Martins Pandolfo*
Estamos a pouco mais de dois meses para o final do período de adaptação e efetiva implantação em caráter definitivo e exclusivo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa e já a senadora gaúcha Ana Amélia (PP) apresentou proposta estendendo por mais seis anos o prazo para a adoção do novo acordo. Como é sabido, no final de 2008 o ex-presidente Lula da Silva e o primeiro ministro de Portugal José Sócrates firmaram documento conjunto para a entrada em vigor das novas regras no Brasil e em Portugal - que deverá ser seguido por suas ex-colônias – fixando um lapso de quatro anos de adaptação para o Brasil, tendo em vista que os vocábulos a corrigir representam apenas 0,5% e seis anos para Portugal que exibe percentual um pouco maior, 1,6%.
Posta a viger pelo presidente Lula a partir de 1º de janeiro de 2009, a faixa de adequação encerrar-se-á em 31/12/2012, passando a nova ortografia a ser obrigatória em documentos, publicações, concursos e exames escolares, enquanto que em Portugal, que igualmente já implantou o acordo em todos os documentos oficiais, incluindo o Diário da República, atos e ofícios midiáticos, o prazo expirar-se-á em 31/12/2014. A alegação da senadora é de que “muitos professores” não estão satisfeitos com as normas e que o senado deveria analisar melhor o teor do AOLP, o que foi logo abonado pelo senador Paulo Bauer (PSDB-SC), que também defende a atuação do senado no debate.
Ora francamente, as entidades de cá e de lá oficialmente encarregadas de proceder à análise e estudos para ajustes na língua de Camões são a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, que durante muitos anos, por meio de seus maiores, debruçaram-se na apreciação das diferenças existentes nas normas brasileira e lusitana, de modo a ajustá-las, tanto quanto possível, a uma ortografia una!
Cumpre dizer que a Língua Portuguesa era a única das chamadas língua universais de cultura a apresentar duas normativas ortográficas oficiais, o que, a par da complicação que causava à edição de livros, inclusive de dicionários distintos, impediu até aqui que “a última flor do Lácio” se tornasse idioma oficial na ONU, pois quando se protestava contra essa estranha exclusão, visto ser a LP a terceira mais falada do Ocidente e em franca expansão, logo vinha a resposta em tom inquisitorial: mas qual delas, a lusitana ou a brasileira!? Para o Brasil, que sonha abiscoitar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, isso é simplesmente fundamental. Cabe acrescer também, por oportuno e esclarecedor, que o acordo implicará tão somente em ajustes na grafia das palavras, nada mudando no que respeita aos falares regionais, ao sotaque e à construção frasal. Que grande contribuição ou inovações, portanto, teria o Senado Federal a acrescentar e com isso anular, praticamente, tudo o que já foi acertado entre as duas nações-líderes de expressão portuguesa? Isso nos sabe tão somente a esperneio dos eternos contestadores, para quem qualquer mudança implica rejeição imediata.
Muitos dos que se põem contrários ao novo acordo nem sequer o leram com a devida atenção, isto é, são daqueles que, perguntados, diriam: não li e não gostei! A primeira estranheza é quanto à extinção do trema, que a maioria do povo jamais usou ou sequer sabia de sua existência. Os lusos nunca o utilizaram e nem por isso claudicam na pronúncia dos termos que aqui se tremava. As novas normas são simples, claras, flexíveis (atendem às duas partes) e facilitadoras.
Costumamos dizer que a hifenização era a infernização do escritor, tão numerosas as regras de seu emprego, afora as exceções, ora restritas a quatro regrinhas. Os que se dedicam ao diuturno amanho das letras à quase unanimidade são acordes com as novas diretrizes. Que o bom senso reine entre suas excelências!
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*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
sergio.serpan@gmail.com - www.sergiopandolfo.com