Todo e a Alta Cultura

Francisco Torrinha, Dic. Latim Português, pág.VII: ".... Conforme consta do relatório por mim enviado ao Instituto para Alta Cultura..., serviram-me de base para a elaboração do presente volume o dicionário de Lewis and Short (A Latim Dic.,Oxford -1927) e de Quicherat Daveluy et Chatelain (Dic. Latim -Français, Paris - 1922)...."

Em português, conforme o Dic. de Latim Português,pág.585, de Francisco Torrinha: "Omnis,e,adj. 1.Todo, toda... 2.Qualquer; de toda a espécie. 3.Todo, inteiro.........( Obss.:........c) o sentido de 'todo, inteiro' é próprio de totus)."

Gramática Latina, dr.Napoleão Mendes de Almeida,pág.416: ".... -Não confunda totus com omnis; ambos os adjetivos podem traduzir-se por todo, mas, salvo raros exemplos, totus só se emprega com a significação 'de inteiro': totus ager: todo o campo (=O campo inteiro).

Omnis é coletivo universal (V.Gramática Metódica,nota do parágrafo 349 e todo o parágrafo 350):Omnis ager = todo o campo (=todos os campos)."

TODO para a alta cultura, diferentemente do latim, "salvo raros exemplos, totus só se emprega com a significação de interio: totus ager: todo o campo(=O campo inteiro). Omnis é coletivo universal", ou seja, quando tivermos em latim "totus", SALVO RAROS EXEMPLOS, a tradução terá de ser: "todo o", "toda a" com o significado de inteiro.

TODO O campo(=O campo inteiro): Totus ager.

"Omnis é coletivo universal", em outras palavras, traduza por "omnis" por "todo o", "toda a", quando significar qualquer, conforme também nos ensina o Dic.de Torrinha:"Omnis,e,adj. 1.Todo, toda... 2.Qualquer; de toda a espécie."

OBSERVE: "....2. QUALQUER; DE TODA A [= de qualquer] espécie."

É exatamente isto que o DOUTOR NAPOLEÃO está nos ensinando: "Omnis ager = todo o campo (=todos os campos)." -TODO O campo [=QUALQUER campo] = Omnis ager.

Conclusão: TODO, EM PORTUGUÊS, INDEPENDENTE DO SENTIDO TEM DE SER ESCRITO SEMPRE COM O ARTIGO o, a, CONFORME FAZEMOS NO PLURAL (v.Texto 3906378).

Dic.Laudelino,pág.4946(1940): " Todo, adj.Lat.totus.... 3. QUALQUER, seja qual for, CADA: 'Todo o homem é mortal' (Aulete). 'Todos os homens são mortais' (Aulete). 'Toda a classe de crimes' (Aulete). 'Todas as classes de crimes' (Aulete)."

Brasil, DOUTOR NAPOLEÃO: "Todo o, Todos os -Escritores clássicos ora punham o artigo, ora não, após todo tanto quanto coletivo universal quanto quando adjetivo a significar inteiro: todo homem, todo o homem,.... É DE USO, e não de gramática ou de lógica, nem menos de eufonia, o trazer a palavra seguida de 'o', E DESDE JÁ PODEMOS AFIRMAR QUE SE NO PLURAL TODOS DIZEMOS 'todos os alunos' NÃO CABE JUSTIFICAÇÃO NENHUMA PARA A EXCLUSÃO DO ARTIGO DA EXPRESSÃO SINGULAR, QUE SEMPRE TEVE O MESMO SENTIDO DA FORMA PLURAL......."

Said Ali: ".... NÃO PODE PRIVAR-SE DO ARTIGO O ADJETIVO SUBSTANTIVADO QUANDO SE LHE ANTEPÕE A PALAVRA TODO, EMBORA ESTE VOCÁBULO TENHA O VALOR DE 'QUALQUER': Todo o pobre [=qualquer pobre] receberá esmola. -Todo o cativo [=qualquer cativo] que levava punha consigo à mesa. -Todo o preguiçoso [=qualquer preguiçoso] gosta de levantar-se tarde..." (Gramática Secundária).

Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara: "Todo - Tudo.... Quando no singular está anteposto a substantivo ou adj. substantivado vale por 'cada', 'qualquer' ou 'inteiro', 'total', podendo vir ou não acompanhado do artigo.... Enquanto em Portugal não se faz a distinção formal entre 'cada', 'qualquer' e 'inteiro', 'total', usando-se quase sempre todo seguido de artigo ( Todo o homem é mortal), no Brasil, para o primeiro sentido, modernamente, dispensa-se o artigo (Todo homem é mortal) e para o segundo, o artigo é obrigatório (Toda a casa pegou fogo)...."

Brasil, DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA:".... CABE-NOS DIZER QUE ESSA DISTINÇÃO É GRATUITA E INFUNDADA...."

Vamos ressaltar estas palavras de Bechara: "... EM PORTUGAL NÃO SE FAZ A DISTINÇÃO FORMAL ENTRE 'CADA', 'QUALQUER' E 'INTEIRO', 'TOTAL', USANDO-SE QUASE SEMPRE TODO SEGUIDO DE ARTIGO (Todo o homem é mortal)...."

Vamos comparar com estas do Dr.NAPOLEÃO: "....NÃO CABE JUSTIFICAÇÃO NENHUMA PARA A EXCLUSÃO DO ARTIGO DA EXPRESSÃO SINGULAR, QUE SEMPRE TEVE O MESMO SENTIDO DA FORMA PLURAL.....VINDO ANTES DO SUBSTANTIVO, TODO PODE OU NÃO SIGNIFICAR INTEIRO, MAS DEVE VIR SEGUIDO DE ARTIGO...." (DICIONÁRIO DE QUESTÕES VERNÁCULAS,1981 - DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA).

Vasco Botelho de Amaral (Lisboa): " Pode-se afirmar que a tendência geral é para a posposição do artigo, norma hoje INCONTESTAVELMENTE predominante."

Lello Universal ( De acordo com a Delta Larousse), pág.1035: " Todo (ô) adj. e pron. indef. (lat. totus). Exprime a universalidade das partes que constituem um conjunto; todos os homens. Diz-se de uma coisa, considerada na sua totalidade: trabalhar todo o dia. CADA, QUALQUER (NESTE CASO PODE-SE USAR TANTO NO SINGULAR COMO NO PLURAL) toda a planta cresce; todo o homem é religioso....."

Dic.Caldas Aulete,5a EDIÇÃO: "Todo.... // Qualquer, seja qual for, cada ( E NESTE CASO PODE-SE USAR TANTO NO PLURAL COMO NO SINGULAR ): todo o homem é mortal; todos os homens são mortais; toda a classe de crimes; todas as classes de crimes....."

Gramática Histórica, Said Ali: "... Qual seja a tendência da linguagem a partir do século XVI, pode-se ver pela maneira por que se tem tratado os dizeres em toda a parte, por toda a parte, de toda a parte usados em vez de em todas as partes, por todas as partes, de todas as partes......

O adjetivo substantivado, tendo caracterizada esta função pela presença do artigo, NÃO PODE PERDER ESTE ARTIGO, quando se lhe antepõe a palavra todo, ainda que se tenha em mente a noção de 'qualquer'...." (Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Obra vencedora do primeiro prêmio Francisco Alves de 1921 e 1927).

Dic.Morais, Ed.Conf. LDA. Lisboa,pág.2351: "Todo (ô) adj. O que não falta parte alguma do seu ser;...; inteiro, total, completo.// QUALQUER, seja qual for, cada: Todo o homem é mortal.// Pron.... No português atual emprega-se sempre seguido do artigo o, a, os, as...."

DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, Gramática Metódica: "-TODO:Era norma entre os escritores antigos suprimir o artigo depois do infinitivo todo, quer viesse no singular, quer no plural: Todo homem, todos os homens, toda parte da terra, todas partes,....

Entre escritores e professores de hoje, há quem ensine que todo tem a significação de cada ou, ainda, de todos, quando no singular, vem desacompanhado do artigo e que acompanhado do artigo, esse indefinido passa a significar inteiro, e, assim, fazem distinção entre 'todo homem'(=cada homem, todos os homens) e todo o homem(=homem inteiro).CABE-NOS DIZER QUE ESSA DISTINÇÃO É GRATUITA E INFUNDADA;...Vindo antes do substantivo, todo pode ou não significar inteiro, mas deve vir sempre seguido do artigo (todos os homens, todas as partes) nada mais simples que proceder igualmente com o singular, sem necessidade de inventar diferenciações de sentido......"

Américo Paz
Enviado por Américo Paz em 29/09/2012
Reeditado em 29/09/2012
Código do texto: T3907838
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