SUTILEZAS SEMÂNTICAS: CONFORTAR/CONSOLAR. CONFRARIA/CONGREGAÇÃO/IRMANDADE/ORDEM. CONJURAÇÃO/CONSPIRAÇÃO E ALGUMAS REFLEXÕES
Mais uma vez Antenor Nascentes (Dicionário de Sinônimos)
SUTILEZAS SEMÂNTICAS:
CONFORTAR: Acodir no transe dando forças, energia, animando, para que possa enfrentar bem a dor.
CONSOLAR: Acodir no transe com carinhos, afagos, palavras e atos que revelam condoimento.
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CONFRARIA: Irmandade de certa importância, regida por estatutos ou compromissos.
CONGREGAÇÃO: Associação religiosa cujos membros não fazem votos solenes mas votos simples, temporários ou perpétuos, ou mesmo são apenas ligados por uma promessa de obediência que não vai até o voto.
IRMANDADE: Associação pia, de leigos, a qual tem por objeto o culto do Santíssimo, da Virgem, de um santo.
ORDEM: Confraria importante que, além do culto, se ocupa com obras de beneficência.
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CONJURAÇÃO: Precedida sempre de uma conspiração, é um desígnio secreto para operar uma revolução no estado, feito por pessoas ligadas por juramento mais ou menos solene ou por compromissos próprios para prevenir traições.
CONSPIRAÇÃO: Desígnio formado secretamente por muitas pessoas para livrarem de certos personagens ou certos corpos importantes do Estado, por meio de um grande golpe.
Bruto chefiou uma conspiração contra César; Catilina, uma conjuração contra a república romana.
UMA REFLEXÃO. Todos sabem que quem conta a história são os vencedores. Tivesse Tiradentes vencido a Conjuração Mineira, seu movimento não tinha passado para a História com essa alcunha de conotação sediciosa. Ganharia, quem sabe, o pomposo nome: "O Líder da Revolução da Independência Brasileira", ou "Herói..." muito bom para ser usado como aposto. Como houve um traidor...
Já a quartelada de 1889, que derrubou e baniu o rei Dom Pedro Segundo, por ter sido vitoriosa, ganhou o nome de "Proclamação da República", com direito a feriado e tudo (15 de novembro). Sim! Para não esquecer: Tiradentes, que há tempos estava devidamente sepultado e esquecido, foi ressuscitado historicamente.
O golpe criminoso liderado por Deodósio, digo, Deodoro da Fonseca precisava de legitimação, pois dele só uma camarilha miliatar golpista participou. "O povo assistiu àquilo bestializado", eis o título dum artigo de um grande e influente jornalista da época, Aristides Lobo. Então, sem a participação popular no movimento e por configurar um crime grave previsto na Constituição Brasileira (um crime de lesa majestade), o novo regime fez de Tiradentes o "Mártir da Independência". Pronto, estava legitimada a República! E, para não haver o risco de ser sepultado novamente, criaram um feriado para o dentista mineiro, também.
Mas, tivessem os golpistas sido derrotados, o Brasil talvez ainda fosse uma Monarquia e provavelmente a sedição dos militares fosse apelidada assim:" Intentona Republicana", "Conjuração Republicana", ou outro nome menos, ou até mais, bacana! E Tiradentes, provavelmente, nem sequer fizesse parte do conteúdo da História Oficial do país. E, se por acaso fosse citado, seria numa nota de pé de página como exemplo de alguém que afrontara as autoridades e, por isso, foi punido com justiça.
A Inconfidência Mineira (1789) foi algo de tão pequena expressão e de implicações tão reduzidas no curso da História do Brasil, que ela só voltou a ser lembrada como fato político com o golpe militar da república, um século depois.
Caso o filho adotivo de Júlio César, Brutus, que deu a primeira apunhalada nas costas de César, caso o plano para matar Júlio César tivesse fracassado, Brutus passaria para a História como um Lúcifer II, e não como defensor das instituições republicanas romanas, mais precisamente o Senado.
Se Catilina tivesse vencido o cônsul Cícero, também aquele não tinha passado para História como um conjurado mas, talvez, como um herói.
Pena que, nessas hipóteses, não teríamos o "até tu, Brutus?" nem as famosas "catilinárias" de Cícero, um dos maiores oradores de toda a história universal, talvez só igualado a Demóstenes, o grego, não o Torres.
E assim a História vai dando suas voltas, numa espiral de vencidos e vencedores, sendo que ela é contada quase que exclusivamente pelos vencedores.