1- Analisando as figuras de linguagem, quero fazer alguns comentários referentes à hipérbole, que é, sem dúvida alguma, interessante demais.
 
Escutando o comediante, todos morriam de rir.
 
Observei um garoto dizendo mil palavrões.
 
Na primeira frase, ninguém interpretará que todos morriam de rir, pois tal afirmação, no sentido literal, carece de sentido.
Compreenderão naturalmente que todos riram bastante das piadas que o comediante contava.
 
Na segunda frase, ninguém vai imaginar que foram contados nem sequer cem palavrões.
O garoto disse vários palavrões, eis a interpretação tranqüila dessa frase.
 
As hipérboles surgem exatamente quando queremos expressar um pensamento de forma exagerada.
 
2- Eu acho fascinante a utilização das hipérboles.
 
É possível perceber que o recado oferecido não causa nenhum choque no receptor, porém consegue gerar, com precisão, o efeito esperado pelo emissor.
 
Consideremos ainda as duas frases acima destacadas.
 
Na primeira frase, o receptor não ficará abalado com a “tragédia” anunciada, preocupado com o número de pessoas as quais morreram escutando as piadas, porém, caso deseje assistir a apresentação de algum comediante, levará em consideração a indicação, pois, se o comediante fez o público rir um bocado, deve ser muito bom.
 
Na segunda frase, o receptor pode até lastimar a forma impulsiva do garoto desbocado, porém ninguém considerará tal menino dono de um rico vocabulário.
Imaginando a ocorrência, é bastante provável que ele tenha dito três ou quatro palavrões os quais foram repetidos algumas vezes.
Provavelmente o garoto conhece pouquíssimas palavras, sejam essas chulas ou não.
 
3- Voltando a recordar o simpático garoto da frase destacada, alguém, passando pelo local, indignado com a atitude dele, poderia dizer:
 
Boca suja! Imundo! Moleque grosso!
 
A frase que realcei revela que “o garoto estava dizendo mil palavrões.”
 
Notaram a diferença?
Não há um juízo de valor na afirmação, porém ela traz um julgamento implícito.
 
Se um garoto diz vários palavrões, permitindo o uso da expressão “mil palavrões”, será impossível alguém considerar esse garoto educado nem ficar à vontade ao seu lado.
Será um indivíduo merecedor de uma "reciclagem", porém que, nada interessada em lhe oferecer o refinamento necessário, a maioria preferirá vê-lo afastado, evitando que ele, de repente. "solte o verbo” gerando constrangimento.
 
Nesse caso, um fato corriqueiro, com um toque de vulgaridade no ar, os palavrões escutados, ganham um tom agradável, quando narramos o fato utilizando a hipérbole, nos braços sutis e belos dessa preciosa figura de linguagem.
 
Apesar do tom agradável, o recado não perde o seu valor, a mensagem continua apresentando a mesma força de conteúdo.
Mudou apenas a maneira de expressar o fato.

Nesse caso específico, o exagero da idéia parece servir para abrandar toda a grosseria inevitável da ação em si.
Não há um eufemismo, no entanto existe a expressão de um ato estúpido soando enriquecida com o uso da hipérbole.
Sensacional!
 
4- As hipérboles me acompanham.
 
Quando leio ou escuto algo mais de uma vez, é muito comum que eu pense ou fale “Ele ou ela já disse isso umas quinhentas vezes”.
 
Esperando um ônibus que atrasa muito, costumo comentar “Já estou há dois dias aguardando o ônibus!”.
 
O uso dessas hipérboles consegue me deixar relaxado e permite que eu suporte determinadas situações praticamente sem estresse.
 
É, portanto, uma forma eficaz de descontrair as situações desagradáveis e incômodas.
Muito melhor do que agredir alguém ou desenvolver um mal-estar orgânico.
Podemos assim extravasar nossas emoções, realizando uma espécie de desabafo sadio.
 
Vale a pena tornar habitual a hipérbole como um recurso útil demais, pois infelizmente o cotidiano está cheio de coisas chatas e tensas.
 
Pensando, falando ou escrevendo, conseguiremos, utilizando a hipérbole, aproveitar um recurso repleto de beleza e poderemos, de uma maneira objetiva, enfrentar os problemas ressaltando um ótimo humor.
 
Será bacana para a literatura e para a nossa saúde.
 
Vivam as hipérboles!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 05/08/2012
Reeditado em 06/08/2012
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